O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, OMM, Petteri Taalas, alerta que a “esmagadora maioria” dos desastres está relacionada com a água.
Esta quinta-feira, a agência da ONU divulgou um relatório que aponta o avanço do desequilíbrio do ciclo hidrológico, provocado pelas alterações climáticas e pelas atividades humanas.
Segurança hídrica
O estudo destaca que as secas e os eventos extremos de precipitação estão a ter um grande impacto nas vidas e nas economias. Na opinião do chefe da OMM, a gestão e a monitorização deveriam ser questões centrais nas iniciativas de alerta precoce.
Petteri Taalas acrescenta que as geleiras estão “derretendo diante dos nossos olhos”. A situação aumenta os riscos de inundações e ameaça a segurança hídrica a longo prazo de milhões de pessoas.
Ele alerta que cerca de metade do mundo sofreu um aumento nas inundações e um terço do planeta sofreu com a seca.
O secretário-geral da OMM explica que a cada grau de aquecimento climático, a humidade atmosférica aumenta 7%.
Esse aumento de temperatura faz com que a atmosfera retenha mais umidade, provocando chuvas mais intensas e inundações. No extremo oposto, o calor provoca evaporação e secas mais intensas.
Recursos Globais
Para o Secretário-Geral da OMM, o estudo é também um apelo à partilha de dados, que permite alertas precoces e políticas coordenadas e integradas de gestão da água como parte integrante da ação climática.
Segundo a agência da ONU, há pouca informação sobre o verdadeiro estado dos recursos de água doce do mundo, o que dificulta a gestão. A recomendação é aumentar o monitoramento e os recursos para o setor.
O estudo divulgado combina contribuições de dezenas de especialistas e complementa o relatório sobre o estado do clima global da OMM, a fim de fornecer informações integradas aos formuladores de políticas.
Actualmente, 3,6 mil milhões de pessoas enfrentam acesso inadequado à água durante pelo menos um mês por ano. Espera-se que aumente para mais de 5 mil milhões até 2050, de acordo com a ONU Water.
Outros destaques
O relatório destaca os efeitos da interrupção do ciclo da água. No Brasil, o excesso de chuvas causou deslizamentos de terra e resultou na morte de 230 pessoas.
No Verão de 2022, secas severas afectaram muitas partes da Europa, causando problemas de transporte em rios como o Danúbio e o Reno e interrompendo a produção de electricidade nuclear em França devido à falta de água para arrefecimento.
A cobertura de neve nos Alpes, crucial para alimentar rios importantes como o Reno, o Danúbio, o Ródano e o Pó, permaneceu bem abaixo da média. Os Alpes Europeus testemunharam níveis sem precedentes de perda de massa glaciar.
Segundo Taalas, o estudo mostra que as geleiras de montanha suíças, especialmente as alpinas, perderam cerca de 10% de sua massa no ano passado e neste ano, estabelecendo um novo recorde.
Além disso, mais de 50% das bacias hidrográficas globais sofreram desvios das condições normais de descarga dos rios. A maioria destas áreas estava mais seca do que o normal, enquanto uma percentagem menor apresentava condições acima ou muito acima do normal.
Produção de alimentos
Outro alerta feito pelo chefe da agência da ONU é a falta de água para as atividades agrícolas e industriais e para a produção de energia hidrelétrica.
Segundo a OMM, mais de 70% da água utilizada pelo ser humano é utilizada para a agricultura e produção de alimentos, sendo portanto absolutamente essencial para a segurança alimentar e nutricional.
Em alguns países, a proporção representa mais de 90% de todas as retiradas de água dos sistemas. A água potável representa globalmente aproximadamente 10% a 12% da água utilizada para consumo direto ou uso doméstico.
A OMM recomenda melhorias na gestão de recursos, como a utilização de tecnologias de irrigação mais eficientes e a escolha consciente das culturas plantadas e do ambiente.
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