ONG de Timor-Leste restaura manguezais para proteger país de desastres climáticos

ONG de Timor-Leste restaura manguezais para proteger país de desastres climáticos


Uma das prioridades da 29ª Cimeira do Clima, COP29, que começa na próxima semana no Azerbaijão, será um novo acordo financeiro colectivo para apoiar os países em desenvolvimento a tomarem medidas para mitigar e adaptar-se às alterações climáticas.

Algumas das soluções baseiam-se simplesmente na conservação e restauração de ecossistemas, como mangais, corais e ervas marinhas, que funcionam como barreiras naturais a fenómenos meteorológicos extremos.

Notícias da ONU/Felipe de Carvalho

Vida selvagem no mangal de Tmor-Leste

Vulnerabilidade a inundações e deslizamentos de terra

Sendo um dos países mais vulneráveis ​​do mundo a catástrofes como ciclones, terramotos, tsunamis, secas e chuvas, Timor-Leste pode beneficiar de um possível novo acordo na COP29. Com o apoio das Nações Unidas, o país investiu em soluções baseadas na natureza e apresentou resultados.

A nação de língua portuguesa, no Sudeste Asiático, tem uma geografia muito particular com 743 km de costa e diversas montanhas, que chegam a atingir os 3 mil metros de altura. Relatos mitológicos dizem que o país surgiu de um crocodilo e por isso a ilha tem o formato do animal, sendo as montanhas a sua espinha dorsal.

Estas características tornam a pequena nação asiática particularmente vulnerável a inundações, deslizamentos de terra e erosão do solo.

Ao mesmo tempo, a subida do nível do mar em Timor-Leste nas últimas décadas tem sido de cerca de 9 mm anuais, o que está bem acima da média global de 2,8 – 3,6 mm por ano.

Restauração de mangue

Mas a própria natureza do país também oferece recursos de protecção contra estas ameaças, uma das quais é a floresta de mangal. No entanto, desde 1940, Timor-Leste perdeu 80% da cobertura do seu ecossistema.

Para reverter esta situação, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, iniciou o Programa de Resiliência Costeira em 2016. Até 2020, quase 2 mil hectares de mangais e zonas húmidas tinham sido conservados e restaurados nas costas norte e sul do país.

A ONG local Konservasaun Flora & Fauna, KFF, obteve apoio do PNUD para o desenvolvimento de um centro de estudos de mangais no município de Hera, que também foi convertido numa atracção turística.

Além de apoiar a investigação, a KFF “gesta” anualmente 30 a 40 mil árvores, de 16 espécies diferentes, para garantir a reabilitação dos mangais em Hera e noutras zonas de Timor-Leste.

Alito Rosa, Diretor da Konservasaun Flora & Fauna, KFF

Notícias da ONU/ Felipe de Carvalho

Alito Rosa, Diretor da Konservasaun Flora & Fauna, KFF

Ameaça de poluição por lixo e resíduos de petróleo

A ONU News visitou o local e conversou com o diretor da KFF, Alito Rosa, que disse que “os manguezais podem proteger as comunidades costeiras de desastres naturais, como tsunamis, furacões, ventos fortes, e prevenir a erosão”.

Segundo ele, dos 13 hectares de mangais que existem actualmente em Hera, três foram restaurados com sucesso pela KFF, com o apoio do PNUD. A organização também restaurou recifes de coral danificados e preservou cerca de 15 hectares de algas marinhas.

Os maiores riscos para a existência de manguezais são o corte e queima de árvores, a extração ilegal de madeira e a poluição. O diretor da KFF explicou que “se as ondas do mar transportarem lixo e cobrirem a parte superior das sementes dos mangais, isso impedirá que sejam expostas à luz solar, matando efetivamente os mangais”.

Portanto, os esforços de conservação são a principal prioridade da organização. Para reforçar esta ideia, o caminho que os visitantes percorrem ao chegar ao centro de estudos é por uma passarela feita com plástico reciclado, convertendo o principal inimigo do mangue em suporte para sua contemplação.

O coordenador do projecto KFF, Elidio Ximenes, acrescentou que a exploração petrolífera na costa timorense também “gera resíduos que se infiltram nos mangais”. Para ele, a falta de regulamentação destas atividades representa uma “ameaça significativa à sobrevivência dos manguezais e recifes de coral”.

Passarela feita de plástico reciclado no Centro de Estudos de Manguezais em Hera

Notícias da ONU/Felipe de Carvalho

Passarela feita de plástico reciclado no Centro de Estudos de Manguezais em Hera

Envolvimento comunitário

O representante do Suco Hera, Raul Amaral Soares, afirmou que os esforços de conservação envolvem toda a comunidade, que participa de eventos de plantio e atividades educativas sobre como cuidar do lixo.

A líder comunitária Nelia dos Santos Oliveira já participou nestas actividades e declarou que “os mangais são um bom habitat para a vida marinha e não devem ser destruídos”.

Segundo ela, sendo a pesca essencial para o modo de vida das comunidades costeiras, as mulheres devem envolver-se e contribuir.

Alito Rosa destaca que estes ecossistemas são muito valiosos para Timor-Leste porque, “quando vistos através da lente da economia azul, desempenharão um papel significativo no futuro”.

“Na nossa organização, esse espírito nos motiva a continuar fazendo a diferença através do nosso trabalho”, concluiu.



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