Uma em cada cinco pessoas que contraíram COVID-19 continuam a relatar sintomas persistentes mais de três anos após a infecção. Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, intitulada Epicovid 2.0, que forneceu dados sobre os impactos da pandemia de covid-19 no Brasil.
A pesquisa destaca não apenas os efeitos físicos, mas também os psicológicos, econômicos e sociais que ainda afligem uma parcela da população. Com a participação de 33.250 pessoas de 133 cidades, o estudo revela que a pandemia continua afetando a saúde e a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Os “sintomas pós-covid”, também conhecidos como covid longa, afetam principalmente mulheres e indígenas e incluem condições como ansiedade (33,1%), cansaço excessivo (25,9%), dificuldade de concentração (16,9%) e perda de memória (12,7%) . O estudo mostra que os efeitos não comprometem apenas a saúde física, mas também geram pressão psicológica, o que agrava as condições de saúde mental numa sociedade já fragilizada.
Mais de 28% da população brasileira, o equivalente a 60 milhões de pessoas, relataram ter sido infectadas pela covid-19. Esse número, por menor que pareça, refere-se a quem respondeu à pesquisa, podendo-se levar em conta também que muitas pessoas não sabem que têm a doença.
Confiança na vacina
O alto índice de adesão à vacinação contra a Covid-19 é um dos destaques positivos do estudo, com 90,2% dos entrevistados afirmando ter recebido pelo menos uma dose, e 84,6% completaram o esquema vacinal com duas doses.
Porém, a pesquisa também mostrou que a confiança na vacina não é unânime. 57,6% dos brasileiros manifestaram confiança na vacina, enquanto 27,3% demonstraram desconfiança e 15,1% disseram ser indiferentes ao tema. Entre os que não foram vacinados, 32,4% disseram não acreditar na vacina, e uma parcela ainda menor, 0,5%, disse não acreditar na existência do vírus.
A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a importância da continuidade de estudos como o Epicovid 2.0, lembrando que no momento mais crítico da pandemia, o país enfrentou um clima de negacionismo científico, o que dificultou a recolha de dados essenciais sobre a doença . Para o estudo, o governo federal investiu mais de R$ 8 milhões.
“O Epicovid é um estudo amplo e abrangente sobre a doença, mas não teve continuidade na época devido ao negacionismo em relação à ciência e à indisponibilidade de dados”, lembrou Nísia.
Insegurança alimentar
Os dados económicos do inquérito são igualmente alarmantes. Quase metade da população brasileira, 48,6%, relatou perda de renda durante a pandemia e 47,4% enfrentaram insegurança alimentar. Para muitas famílias, o acesso a alimentos básicos estava gravemente comprometido, o que era ainda mais evidente entre os pobres e os agregados familiares chefiados por mulheres. 34,9% das pessoas perderam o emprego e 21,5% pararam de estudar.
O estudo do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade de Illinois, mostrou que cerca de 44% das famílias mais pobres enfrentavam dificuldades na compra de alimentos e, em muitos casos, 22% dos adultos tiveram que sacrificar a própria comida para garantir que as crianças tivessem o suficiente. . o suficiente para comer. Esta escassez de alimentos era quatro vezes maior entre os pobres do que entre os ricos.
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“Isso mostra o quão dramático foi o período de pandemia para as famílias brasileiras, principalmente para as famílias com maior número de pessoas. A falta de alimentos é quatro vezes maior para os pobres do que para os ricos”, disse Pedro.
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