O dermatite atópicatambém conhecido como eczema atópico, é uma doença inflamatória crónica do pele que afeta pessoas de todas as idades. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo e é considerada a doença inflamatória cutânea mais comum.
Caracterizado por coceira intensa, secura e lesões vermelhas na pele que pode causar desconforto e liberar secreções, a dermatite atópica impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Esse impacto pode ocorrer de diversas formas: interferindo no sono, nas atividades diárias e até no bem-estar emocional.
Por exemplo: um paciente com muita coceira tem sono ruim, o que afeta sua energia, foco e produtividade na escola ou no trabalho. Se essas noites forem em sequência, o cansaço acumulação pode afetar a capacidade de tomar decisões, o desempenho em tarefas simples e aumentar irritabilidade e o estresse. E isso repercute não só na vida dos pacientes, mas também nos seus familiares, principalmente nos pais ou cuidadores, pois a doença é muitas vezes identificada em infância.
É fato: a dermatite atópica muitas vezes se manifesta na infância, principalmente nas suas formas mais graves, exigindo atenção constante dos responsáveis. O desgaste emocional e físico dos cuidadores também é significativo, pois precisam lidar com noites sem dormir, crises intensas e a busca pelo alívio dos sintomas da criança. Diante desses aspectos, o cuidado adequado a essa condição requer uma abordagem multifacetada, com ênfase na hidratação da pele como pilar importante no tratamento, já que a dermatite atópica não tem cura.
Na prática, a doença está associada a uma disfunção do sistema imunológico, que também resulta na forma exagerada como a pele responde aos estímulos ambientais, desencadeando inflamação e coceira. Esta condição muitas vezes coexiste com outras doenças alérgicas, como rinite alérgica, asma e alergias alimentares, formando o que se chama de “marcha atópica”.
Ou seja, embora não exista uma relação direta entre estas condições, a predisposição genética para estes tipos de alergias pode contribuir para que apareçam paralelamente no mesmo paciente. No caso da dermatite atópica, as lesões tendem a aparecer tanto na face quanto no corpo, principalmente no pescoço e na região dos joelhos e cotovelos.
Fatores ambientais, como clima seco, baixa umidade do ar e exposição a alérgenos como ácaros e pólen, podem desencadear ou piorar os sintomas da dermatite atópica. Os hábitos de higiene também podem ter impacto. Banhos quentes e prolongados, uso excessivo de sabonetes e buchas podem retirar a hidratação natural da pele, contribuindo para o ressecamento. Por isso, recomenda-se usar sabonetes suaves e sem perfume, banhos mornos, curtos e bastante hidratação.
De forma mais didática, podemos entender que a pele de uma pessoa que não possui dermatite atópica atua como uma barreira protetora contra agressores externos, como alérgenos e microrganismos. No caso de quem tem a doença, essa barreira fica geneticamente comprometida, resultando em maior perda de água pela pele – ou desidratação –, o que aumenta a sensibilidade e a suscetibilidade a infecções.
Portanto, o hidratação desempenha um papel crucial na restauração desta barreira, reduzindo a secura, a coceira e a inflamação. É uma parte essencial do tratamento.
A hidratação atua como proteção essencial para a pele, criando uma camada que retém a umidade e evita o ressecamento. Pense na sua pele como uma parede de tijolos: as células são os tijolos e os óleos naturais atuam como o cimento que as mantém unidas. Em pessoas com dermatite atópica, essa parede apresenta “rachaduras” que permitem a saída de umidade e a entrada de irritantes. Por isso, o uso de hidratantes é fundamental para preencher essas lacunas e restaurar a barreira cutânea.
Hidratantes com ingredientes como filagrina e ceramidas ajudam a repor os lipídios naturais, formando uma camada protetora que mantém a umidade por mais tempo. Além disso, a hidratação adequada protege contra os efeitos da poluição, que pode intensificar os sintomas da dermatite.
O escolhendo o hidratante ideal para dermatite atópica depende das características da pele do paciente e da gravidade da doença. Em geral, recomenda-se a utilização de hidratantes com formulações hipoalergênicas, livres de fragrâncias e corantes, para minimizar o risco de irritação. As texturas também variam, desde loções leves até cremes mais densos.
Para peles muito secas e danificadas, os cremes densos são mais eficazes, pois formam uma barreira protetora que retém a umidade por mais tempo. As loções são mais indicadas para áreas com dobras de pele e pelos, como axilas e virilhas, pois são mais fáceis de espalhar e absorver. Porém, em todos os casos, o importante é encontrar um hidratante que seja bem tolerado pela pele e que ajude a aliviar os sintomas.
Educar os pacientes e suas famílias sobre a dermatite atópica é fundamental para o sucesso do tratamento. Compreender a doença, os fatores desencadeantes, os cuidados com a pele e a importância da adesão ao tratamento contribui para o controle dos sintomas e melhoria da qualidade de vida.
O apoio emocional também é relevante, principalmente para pacientes que enfrentam formas mais graves da doença. Por isso, o acompanhamento de um médico especialista permite escolher o tratamento mais adequado, incluindo a utilização de produtos específicos que atendam às necessidades da sua pele.
*Alessandra Nogueira é dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD) e da Academia Americana de Dermatologia (AAD)
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