Tratamentos de infertilidade impactam relações familiares e de trabalho – Jornal Estado de Minas

Tratamentos de infertilidade impactam relações familiares e de trabalho – Jornal Estado de Minas



Fernanda Bassette

A infertilidade é um problema que afecta 8% a 12% dos casais em idade reprodutiva em todo o mundo – para algumas delas, o problema interrompe um projeto de vida, que é o desejo de ter filhos e constituir família. Os avanços tecnológicos e médicos possibilitaram a realização de tratamentos de reprodução assistida, mas podem ser desgastantes física e psicologicamente para os casais envolvidos, principalmente pelas expectativas de resultados que podem não ser alcançados.

Os impactos emocionais do tratamento estão bem estabelecidos na literatura científica. A frustração com resultados negativos impacta no bem-estar psicológico e social do casal, que pode desenvolver sintomas como depressão, ansiedade, raiva e estresse, piorando sua qualidade de vida. Agora, um estudo realizado na Faculdade de Medicina do ABC (FM-ABC) com apoio da FAPESP investigou pela primeira vez os conflitos trabalho-família nesses pacientes, que podem estar associados, por exemplo, a afastamentos frequentes por motivos médicos. consultas ou exames.

Os resultados, publicados na revista Psicologia, Saúde e Medicinaindicam que o nível de conflito trabalho-família é mais elevado entre os homens, enquanto o stress afecta mais as mulheres.

No total, foram avaliados 242 casais que estavam em tratamento de reprodução assistida no Instituto Ideia Fértil, vinculado à FM-ABC, na Grande São Paulo. Entre os participantes, a idade média foi de 37 anos; 60% eram mulheres; 67% tinham ensino superior completo; 37% estavam casados ​​há mais de dez anos, 26% estavam casados ​​entre cinco e dez anos e 37% estavam casados ​​há cinco anos ou menos.

Na maioria das vezes, os tratamentos de reprodução assistida exigem tempo e alto investimento financeiro, o que por vezes são fatores estressantes para os pacientes que trabalham. No entanto, faltam dados na literatura científica sobre o impacto deste procedimento nos conflitos trabalho-família.

“Pacientes inférteis em tratamento podem perder o emprego devido às faltas frequentes às consultas e exames médicos. É comum as mulheres pedirem um atestado médico sem a logomarca da clínica, por exemplo, para que o empregador não saiba que elas estão tentando engravidar”, afirma Victor Zaia, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da FM- ABC. e autor responsável pelo estudo.

Além disso, esses pacientes também podem apresentar produtividade reduzida, dificuldades de concentração, desafios no gerenciamento dos efeitos colaterais dos medicamentos e dificuldades no gerenciamento do tempo. “O conflito trabalho-família surge quando esses indivíduos vivenciam tensão ao tentar cumprir responsabilidades profissionais e pessoais. Muitos enfrentam estresse, cansaço, esgotamento emocional, distúrbios do sono, insatisfação, problemas conjugais, diminuição da produtividade. Consequentemente, isso pode resultar em conflitos entre essas funções, com repercussões físicas e psicológicas.”

Escalas de avaliação

Para chegar aos resultados, os pesquisadores aplicaram questionários online para avaliar os casais. Eles responderam questões de quatro escalas validadas internacionalmente: Infertility-Related Stress Scale-Brasil (IRSS); Escala de Resiliência Connor-Davidson 10 (CD-RISC 10); Escala de Apoio Social Percebido (PSSS) e Escala de Conflito Trabalho-Família.

Na Escala de Estresse Relacionado à Infertilidade, os voluntários responderam 12 questões envolvendo estresse interpessoal (sobre como as situações de infertilidade atrapalhariam o dia a dia daquela pessoa com amigos, família, cônjuge) e questões sobre estresse intrapessoal (sobre o quanto o problema de infertilidade interfere na sua vida física e bem-estar emocional).

Na Escala de Resiliência, os participantes responderam dez questões sobre sua capacidade de adaptação às mudanças que ocorrem na vida; sobre a superação de dificuldades após doenças ou outros problemas; sobre ser capaz de pensar com clareza quando está sob pressão, entre outros.

A diferença nesse caso, explica Zaia, é que a pesquisa se concentrou em algo que estava acontecendo naquele momento – que foi o tratamento de reprodução assistida –, enquanto muitos estudos sobre resiliência perguntam sobre algo que já aconteceu no passado, em busca de memória. . “Em nosso estudo, as pessoas estavam iniciando o tratamento reprodutivo. Então o impacto, a situação de risco, estava sendo vivida agora.”

A terceira ferramenta utilizada na pesquisa foi a Escala de Apoio Social Percebido que, como o nome sugere, busca compreender em 29 questões se o participante recebe e percebe algum tipo de apoio emocional ou prático do cônjuge, familiares, amigos.

Por fim, os investigadores aplicaram a Escala de Conflitos Trabalho-Família – a mais importante no âmbito que procuraram estudar. Tem como objetivo avaliar a interferência entre ambiente familiar e de trabalho dentro de duas subescalas: Interferência no Trabalho na Família e Interferência da Família no Trabalho.

Nas análises, os participantes do sexo masculino apresentaram maior resiliência e menores níveis de estresse, tanto intrapessoal quanto interpessoal, em comparação com as mulheres que estavam em tratamento de infertilidade. No entanto, os pacientes do sexo masculino relataram níveis mais elevados de interferência trabalho-família. Além disso, houve diferenças significativas no conflito trabalho-família com base na renda do casal: aqueles com rendimentos mais elevados relataram mais interferência.

Por outro lado, o estudo mostrou que as mulheres em tratamento de infertilidade apresentam níveis mais baixos de resiliência e níveis mais elevados de stress – o que pode ser explicado, segundo os autores, pelas expectativas sociais em torno da maternidade, que é considerada um centro de papéis para as mulheres. Os investigadores também encontraram correlações significativas entre resiliência e apoio emocional; estresse intrapessoal; e estresse interpessoal.

“O estresse por si só não explica o conflito trabalho-família. Mas concluímos que, se uma pessoa tiver mais stress, pouco apoio social, menos resiliência, muito provavelmente terá níveis de conflito mais elevados. E se a pessoa não conseguir administrar esses conflitos, provavelmente terá mais estresse, levando a uma espécie de círculo vicioso”, explica Zaia.

Do ponto de vista da prática clínica, afirma Zaia, esses resultados podem orientar os profissionais de saúde a trabalharem com casais em busca de estratégias de fortalecimento para melhorar e fortalecer aspectos de resiliência e apoio emocional. “Todas as questões são importantes. Este casal está sofrendo. Precisamos melhorar a comunicação e o suporte, além de trabalhar estratégias de gerenciamento do estresse para que a adaptação ao tratamento seja melhor”, explicou a pesquisadora.

Segundo Zaia, existem duas formas de tentar superar esses conflitos: a resiliência (que é a capacidade de adaptação a mudanças significativas na vida) e o apoio social. A resiliência é considerada um fator protetor porque pode moderar a relação entre estresse e qualidade de vida, reduzindo os possíveis efeitos adversos do estresse relacionados à infertilidade. E o apoio social, por sua vez, ajuda porque estar rodeado de indivíduos que oferecem apoio emocional e prático pode reduzir a carga emocional da infertilidade e possivelmente aliviar os desafios do tratamento.

Reprodução assistida

A infertilidade é definida como a incapacidade de engravidar após pelo menos um ano de relações sexuais regulares e desprotegidas. Os tratamentos de reprodução assistida existem, mas requerem tempo e um elevado investimento financeiro. São poucos os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferecem esse tratamento – e são muito restritivos (impõem limite de idade, por exemplo).

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Relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil publicado em março deste ano aponta que o Brasil possui 192 clínicas de reprodução assistida, das quais apenas 11 são públicas (6%). O custo de um ciclo completo de fertilização in vitro variou, em 2023, entre R$ 15 mil e R$ 100 mil, dependendo do número de tentativas, do procedimento utilizado e da localização da clínica. A clínica envolvida no estudo é uma Organização Social e os pacientes ali atendidos pagam apenas o custo dos tratamentos, que custam a partir de R$ 3 mil.



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