Terapia fotodinâmica com corante de urucum é eficaz contra mau hálito – Jornal Estado de Minas

Terapia fotodinâmica com corante de urucum é eficaz contra mau hálito – Jornal Estado de Minas



Ricardo Muniz – Um estudo publicado na revista “PLOS ONE” demonstrou que a terapia fotodinâmica antimicrobiana com corante urucum e LED azul é uma opção viável e eficaz no tratamento do mau hálito em crianças respiradoras orais.

Quando um indivíduo respira pela boca, explicam os autores, a saliva pode evaporar mais facilmente, reduzindo seu efeito antibacteriano e propriedades de limpeza, o que pode levar a um aumento significativo da halitose. O grupo de pesquisa selecionou 52 crianças respiradoras bucais, de seis a 12 anos, com diagnóstico de halitose confirmado por medidor portátil de baixo custo, encontrado em lojas online (permitindo que o protocolo de diagnóstico seja facilmente realizado pelos cirurgiões-dentistas em seus consultórios). . Halitose é o termo que define qualquer odor ou mau cheiro proveniente da cavidade oral, de origem local ou sistêmica.

O artigo que descreve os resultados é resultado de pesquisa realizada por Laura Hermida Cardoso, aluna do Programa Interinstitucional de Doutorado (Dinter) promovido pela Universidade Nove de Julho e pela Universidade Católica do Uruguai, em parceria com pesquisadores da Universidade Metropolitana de Santos .

A terapia fotodinâmica antimicrobiana (aPDT) é um tratamento no qual é utilizado um agente fotossensibilizante que, na presença de luz, produz radicais livres de oxigênio, causando a morte de bactérias. Embora o estudo tenha sido realizado apenas com crianças, o método pode ser aplicado no tratamento da halitose em indivíduos de todas as idades.

“Na pesquisa, o fotossensibilizador utilizado foi o urucum, que é vermelho, combinado com o LED azul do aparelho fotopolimerizador que os dentistas já possuem em seus consultórios, o que facilita a adoção do protocolo”, afirma a odontopediatra Sandra Kalil Bussadori, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Biofotônica e Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho e coautor do artigo.

Sandra, que também é professora da Universidade Metropolitana de Santos e presidente da Associação Brasileira de Odontopediatria, conta que durante as consultas percebeu que diversas crianças e adolescentes tinham halitose. “Diante disso, começamos a estudar mais a fundo essa condição com o objetivo de desenvolver protocolos de tratamento simples e eficazes”, afirma.

Tratamento acessível

Segundo Sandra, quando se fala em terapia fotodinâmica, a primeira opção que vem à mente no meio acadêmico é o fotossensibilizador azul de metileno associado ao laser vermelho. “Mas por que não temos uma opção mais acessível para os profissionais de saúde? Foi então que tive o insight de desenvolver um fotossensibilizador que pudesse ser utilizado com o aparelho fotopolimerizador LED que todos os dentistas já possuem em seus consultórios. Se o aparelho tivesse LED azul teríamos que desenvolver um corante vermelho e foi aí que pensei no urucum [Bixa orellana].”

Após diversas formulações, pesquisas em In vitro e na clínica, Sandra conseguiu desenvolver o Urucum Spray, cuja patente foi concedida em 2020. O urucum (ou urucum) é o fruto do urucum, que fica vermelho quando maduro.

As 52 crianças que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa foram orientadas por meio de palestra sobre como escovar com creme dental fluoretado e usar fio dental três vezes ao dia, após as refeições, durante 30 dias. Essas crianças foram divididas em dois grupos. No primeiro, foi aplicada terapia fotodinâmica antimicrobiana no terço médio do dorso da língua e, no segundo, foi utilizado raspador de língua.

Na sessão de aPDT, o fotossensibilizante de urucum foi misturado na concentração de 20% em forma de spray, aplicado em quantidade suficiente para cobrir o terço médio do dorso da língua (cinco borrifadas) e deixado por dois minutos para incubar. Foram irradiados seis pontos com distância de 1 centímetro (cm) entre os pontos, considerando a propagação da luz e a eficácia da aPDT. A luz foi irradiada para garantir uma área de feixe de 2 cm de diâmetro por ponto. O tempo de exposição foi de 20 segundos por ponto.

Dados referentes à halitose e saburra lingual foram obtidos antes e imediatamente após o tratamento, bem como sete e 30 dias depois, analisados ​​e comparados. A saburra lingual, de cor branca ou amarelada, é composta principalmente por bactérias, metabólitos e restos de alimentos que geralmente se acumulam na parte posterior da língua.

Vários estudos mostram uma correlação entre saburra lingual e a concentração de compostos voláteis de enxofre produzidos por bactérias, levando ao mau hálito. Porém, na pesquisa coordenada por Bussadori, não foi encontrada relação direta entre a presença de saburra na língua e o mau hálito em crianças respiradoras orais. “A principal causa do mau hálito nessas crianças parece ser a boca seca causada pela respiração bucal”, explica.

Em ambos os grupos houve melhora significativa do mau hálito, mas o grupo que recebeu aPDT apresentou resultados ainda melhores.

A halitose é considerada um importante fator social, pois causa constrangimento e interfere nas relações interpessoais. Além de gerar preocupações relacionadas à saúde física, pode, portanto, provocar alterações psicológicas, levando a uma barreira social.

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