Apesar do progresso, desde o início da nossa existência, nós, seres humanos, estamos em guerra. Não houve período na história sem algum tipo de conflito em algum lugar. Se no passado as guerras eram travadas por comida ou território, evoluímos racionalmente (talvez?) e hoje elas ocorrem devido ao poder, ao ego, ao ódio, à etnia, à religião ou aos recursos naturais.
Já estávamos à beira do extermínio no auge da Guerra Fria e da ameaça nuclear, e agora, sem que todos percebam, o risco de um colapso ao apertar de um botão continua a existir. Paralelamente, outra guerra, tão ou mais letal, está a ser travada contra uma doença que desafia a nossa própria racionalidade, a obesidade.
Documentos históricos e representações como estátuas já nos davam a ideia de que ela existe há milhares de anos, mas foi apenas há algumas dezenas de anos que começamos a perceber que a batalha crescia e ganhava território. Por incrível que pareça, foi apenas em 1997 que a obesidade começou a ser considerada um tipo de Epidemia. Em algumas culturas e em alguns momentos da história, o excesso de peso era um sinal de prosperidade e fertilidade. Já não é assim.
Você já percebeu que a obesidade tem todos os elementos de uma guerra real? O início se deve a decisões erradas e à certeza de que não haverá consequências. Logo depois vem o “armamento”, com balas, bombas de chocolate, gases dos refrigerantes e o sedentarismo das trincheiras das TVs, dos jogos eletrônicos e dos celulares.
Por fim, a desinformação: uma velha estratégia para dissuadir o adversário. Isso é muito bem articulado pela indústria e por profissionais pouco qualificados. Começa então a invasão e o bombardeio calórico diário do corpo, e isso levará a danos colaterais inimagináveis. A luta torna-se ainda mais difícil porque as falhas metabólicas dificultam a saída da zona de combate.
Por outro lado, os cientistas não militares tentam perceber quais os mecanismos que nos fazem ceder a esta guerra e como podemos criar soluções para a combater. Médicos, de diversas especialidades, tornam-se soldados e tentam alertar os comandantes sobre a tragédia iminente: num futuro muito próximo, os recursos financeiros e materiais não serão suficientes para continuar a batalha.
Os hospitais estarão cheios de pessoas feridas como resultado da obesidade e do seu conjunto de doenças: diabetes, problemas cardiovasculares, câncer, doenças pulmonares, desgaste ortopédico.
A questão é multifatorial e depende da sociedade como um todo para alcançar a paz, ou pelo menos uma trégua.
O elemento político é essencial para resolver esta “guerra”. É a partir do poder central que podemos articular as diretrizes de prevenção, a padronização da boa assistência à saúde, a supervisão do profissional adequado, a logística de distribuição de bons alimentos, as informações corretas e mapas dos caminhos para os pacientes.
É difícil compreender como a irracionalidade está superando a racionalidade. Estamos melhorando cada vez mais nosso poder de destruição, seja através de bombas atômicas ou de chocolate. E insistimos em continuar neste campo minado.
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