Sem cirurgia, procedimento reduz hormônio da fome e favorece perda de peso – Jornal Estado de Minas

Quando se trata de tratamento para perda de peso, atualmente existem dois grandes destaques: a cirurgia bariátrica e os medicamentos análogos do GLP-1, popularmente conhecidos como canetas para perda de peso, como Ozempic e Wegovy. Mas há uma nova opção no horizonte: um tratamento endoscópico que visa promover uma ablação, ou seja, queimar o revestimento do estômago para reduzir a produção de grelina, conhecido como hormônio da fome.

“O procedimento tem como foco o revestimento do fundo gástrico, que é a parte superior do estômago, onde é produzida a grelina, principal responsável pelo controle do apetite. Esse hormônio é liberado quando essa parte do estômago está vazia, gerando a sensação de fome. À medida que o fundo gástrico se enche, a produção de grelina diminui e a fome diminui. Portanto, a queima do revestimento do fundo gástrico levaria à redução da produção de grelina e, portanto, do apetite, com consequente perda de peso”, explica a endocrinologista pós-graduada em endocrinologia e metabolismo pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. (SCMRJ), Débora Beranger.

O método já foi testado em humanos e os resultados serão apresentados durante a Digestive Disease Week 2024, que acontece em Washington (EUA). Os ensaios clínicos foram realizados durante um período de seis meses com dez mulheres obesas, reduzindo o peso em mais de 7%, a capacidade do estômago em 42% e os níveis de grelina em jejum em 40%. Além disso, os pacientes relataram que o apetite diminuiu cerca de um terço. “A produção de grelina, uma das diversas vias hormonais envolvidas na obesidade, tende a aumentar com a perda de peso, dificultando a manutenção dos resultados. Então, se for comprovado que é realmente seguro e eficaz, esse novo método poderá ser uma opção não cirúrgica e rápida para agregar ao tratamento da obesidade”, destaca o médico.

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O diferencial desse procedimento é justamente o fato de ele atuar sobre a grelina de forma não cirúrgica, o que até então não era possível. “Os medicamentos para obesidade, como o Ozempic e o Wegovy, atuam em uma via hormonal diferente da grelina, hormônio chamado GLP-1, que é produzido pelo intestino e, entre outras funções regulatórias, é responsável por comunicar ao cérebro que estamos alimentados, gerando sensação de saciedade”, diz Deborah, que afirma que a única forma de reduzir a produção de grelina em pacientes obesos era através da remoção cirúrgica do fundo gástrico ou de um bypass. “Esse tratamento endoscópico seria então uma alternativa e poderia até ser combinado com outros procedimentos, como a gastroplastia endoscópica, em que o tamanho do estômago é reduzido por meio de sutura endoscópica. Também pode complementar outros tratamentos, inclusive o uso de medicamentos análogos do GLP-1”, acrescenta o especialista.

Mas Deborah Beranger diz que ainda são necessários mais testes antes que o procedimento possa ser amplamente utilizado, especialmente para compreender a sua eficácia a longo prazo. “Com base nos resultados dos primeiros testes clínicos, a perda de peso é menor em comparação com outros métodos disponíveis atualmente. Também precisamos saber se a redução nos níveis de grelina permanece após, por exemplo, 12 meses após os procedimentos. Nas cirurgias bariátricas também ocorre redução da grelina devido à ressecção de mais de 50% do estômago. No entanto, estes níveis voltam ao normal após cerca de 9 a 12 meses. O mesmo aconteceria com o revestimento do fundo gástrico? É uma questão que ainda precisa ser respondida”, questiona o especialista.

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Ela também considera a preocupação com a segurança, visto que o fundo gástrico é a região mais fina do estômago, além de ser altamente vascularizado e adjacente a diversos órgãos vitais. “Portanto, mais testes são necessários. Apesar disso, é ótimo ver novas opções de tratamento da obesidade que podem servir como alternativa para pessoas que não se sentem confortáveis ​​ou não têm indicação para outros tipos de tratamento, incluindo vantagens em relação à cirurgia bariátrica, como menos traumas e recuperação. ”, indica.