Saúde mental e câncer: pacientes emocionalmente bem seguem mais tratamento – Jornal Estado de Minas

Saúde mental e câncer: pacientes emocionalmente bem seguem mais tratamento – Jornal Estado de Minas



O diagnóstico de câncer é um momento decisivo na vida do paciente, trazendo à tona desafios físicos, emocionais e até espirituais. Além do impacto do tratamento no corpo, a mente também é profundamente afetada, com muitos pacientes apresentando ansiedade, depressão e medo do futuro. Reconhecer e tratar estas questões é essencial para garantir qualidade de vida e melhorar a resposta às terapias oncológicas.

Um estudo publicado na Frontiers revela que 25% dos pacientes com câncer apresentam sintomas de depressão e até 45% relatam altos níveis de ansiedade. Esses distúrbios não só reduzem a qualidade de vida, mas também interferem diretamente na adesão ao tratamento. “A saúde mental não é um elemento acessório. É parte essencial do cuidado integral ao paciente oncológico”, destaca Cristiane Bergerot, líder nacional da equipe multidisciplinar da especialidade da Oncoclínicas.

O apoio psicológico permite ao paciente enfrentar o processo terapêutico com maior resiliência, fortalecendo a comunicação com a equipe médica e promovendo a adesão às terapias. Os psicólogos especializados desempenham um papel crucial, ajudando a gerir as emoções, a criar estratégias de coping e até a orientar os familiares no apoio ao paciente.

Psicoterapia ainda é um desafio no Brasil

Apesar de sua comprovada relevância na melhoria da qualidade de vida, a psicoterapia enfrenta barreiras consideráveis ​​no Brasil, impedindo que muitos pacientes tenham acesso a esse recurso essencial. O Índice de Saúde Mental do Instituto Cactus-Atlas destaca que apenas 5,1% dos brasileiros recebem apoio psicoterapêutico regular, enquanto 16,6% utilizam medicamentos psiquiátricos sem suporte adicional, prática que pode limitar a eficácia do tratamento.

A psicoterapia também enfrenta o estigma cultural, muitas vezes visto como desnecessário ou um “luxo”. Esse preconceito, aliado à falta de informação sobre os benefícios do acompanhamento psicológico, leva muitos pacientes a desconsiderarem essa opção, mesmo quando apresentam sinais claros de sofrimento emocional.

Outro obstáculo significativo é a baixa integração da saúde mental nos cuidados oncológicos. Faltam profissionais especializados disponíveis para atender a demanda crescente, bem como uma coordenação mais eficaz entre psicólogos, oncologistas e outros profissionais de saúde para oferecer atendimento multidisciplinar.

“Precisamos desmistificar questões como estas. O câncer não afeta apenas o corpo. Ele impacta o indivíduo de forma holística, e a abordagem terapêutica deve refletir essa complexidade”, acrescenta Bergerot.

Espiritualidade na assistência oncológica

A espiritualidade surge como componente indispensável no enfrentamento do câncer, complementando as abordagens terapêuticas e psicológicas. A espiritualidade tem o poder de ressignificar a experiência do paciente, oferecendo conforto, equilíbrio e propósito mesmo nos momentos mais desafiadores. “Permite que o paciente encontre forças internas para lidar com a jornada, promovendo bem-estar e serenidade em meio às adversidades”, destaca Clarissa Mathias, oncologista da Oncoclínicas.

Diferentemente da religiosidade, que envolve dogmas e práticas específicas de uma fé, a espiritualidade pode ser vivenciada de diversas formas, como por meio da meditação, do contato com a natureza ou de reflexões pessoais. Essas práticas ajudam a reduzir o estresse e contribuem para uma visão mais ampla e integrada da saúde mental, conectando corpo, mente e espírito.

Contudo, a integração da espiritualidade na prática médica ainda enfrenta obstáculos significativos. A falta de capacitação profissional, o tempo restrito nas consultas e o medo de impor crenças pessoais ao paciente são algumas das barreiras destacadas.

“A medicina contemporânea precisa ver o paciente como um todo, entendendo que o cuidado vai além do biológico e inclui aspectos emocionais e espirituais. Essa abordagem mais humanizada é fundamental para oferecer suporte completo”, afirma o oncologista.

Iniciativas que promovem a espiritualidade como parte do cuidado ao câncer têm apresentado impactos positivos, reforçando que a saúde integral não se limita ao físico, mas inclui a dimensão emocional e espiritual. Essa visão holística está alinhada à busca por práticas mais humanizadas na medicina e no acompanhamento de pacientes oncológicos.

Benefícios do aconselhamento psicológico

– Adesão ao tratamento: Pacientes com apoio emocional são mais propensos a seguir protocolos médicos

– Redução do estresse: Técnicas como mindfulness e terapia cognitivo-comportamental ajudam a equilibrar as emoções

– Fortalecimento da rede de apoio: psicólogos podem orientar os membros da família para fornecer apoio de forma mais eficaz

– Melhor qualidade de vida: reduzir sintomas de depressão e ansiedade proporciona mais momentos de bem-estar durante a jornada do câncer

Maneiras de melhorar o cenário

Garantir uma abordagem integral ao cuidado do câncer, que englobe saúde mental e espiritualidade, requer uma série de transformações estruturais e culturais. Entre os passos mais urgentes estão o fortalecimento das políticas públicas, o investimento na educação profissional e a ampliação do acesso a serviços especializados de saúde mental e espiritualidade.

Políticas públicas robustas e financiamento adequado

O fortalecimento das políticas públicas de saúde mental é essencial para garantir o acesso às terapias psicológicas e aos cuidados integrativos no contexto oncológico. Isto inclui financiamento direcionado para a contratação de psicólogos especializados, bem como a inclusão de práticas integrativas e complementares.

Educação e formação de profissionais de saúde

A formação dos profissionais médicos deve ser revista para incluir competências em saúde mental e espiritualidade, promovendo uma visão mais humanizada do cuidado. Cursos e treinamentos poderiam abordar técnicas de abordagem emocional, como anamnese espiritual e comunicação empática. Essa formação ajudaria médicos, enfermeiros e psicólogos a oferecer um suporte mais completo, reduzindo barreiras de tempo e falta de conhecimento.

Campanhas de conscientização pública

As campanhas voltadas ao público em geral têm papel estratégico na desmistificação da psicoterapia e no incentivo ao cuidado integral. Essas iniciativas poderiam abordar temas como o impacto da saúde mental na adesão ao tratamento do câncer e o papel da espiritualidade no enfrentamento da doença, promovendo maior aceitação e busca ativa de apoio.

Integração entre apoio psicológico e espiritual

Modelos de cuidados integrativos, que combinam psicoterapia com abordagens de espiritualidade, têm mostrado resultados promissores. As parcerias com comunidades religiosas ou organizações que oferecem apoio espiritual podem criar redes de apoio mais amplas e acessíveis. Além disso, tecnologias como aplicações de meditação e plataformas de apoio emocional podem ser ferramentas viáveis ​​para complementar o atendimento presencial.

Pesquisa e inovação

Investir em pesquisas sobre os impactos da saúde mental e da espiritualidade no tratamento do câncer é crucial para informar as políticas e práticas clínicas. Estudos que avaliam a eficácia de abordagens integrativas, como terapias baseadas em mindfulness e grupos de apoio espiritual, podem reforçar a sua inclusão nos cuidados padrão.

“A verdadeira luta contra o câncer vai além da doença. É uma jornada pela dignidade, equilíbrio e bem-estar do paciente. Precisamos de uma medicina que veja o ser humano em sua complexidade, unindo corpo, mente e espírito para alcançar melhores resultados terapêuticos. resultados”, reforça Cristiane Bergerot.

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