Os pioneiros da SIDA partilhavam a pequena sala de espera com os leprosos. Ao contrário destes – envergonhados de sua condição e escondendo a pele com todos os tipos de tecidos – os recém-chegados eram homens bonitos, de regata e shorts justos, com cabelos grossos nas coxas tonificadas à mostra. Eles trocaram prosa leve entre si e concordaram com os preparativos para o que viria a seguir.
Difícil era a função reservada para médicosnaquele momento, sem qualquer tipo de teste disponível que proporcionasse certeza sobre o mal. Tiveram então que queimar neurônios, buscando na breve experiência diagnósticos alternativos que justificassem aquele ou outro sintoma, esgotando todas as doenças possíveis até chegarem à hipótese final que ninguém queria ouvir, mas que já era óbvia, como tatuagens que brotavam em seus corpos.
Com o passar dos meses, o perfil dos clientes mudou e eles passaram a imitar os leprosos, cobrindo-se com roupas de mangas compridas, com o corpo todo coberto de lesões de todas as morfologias. Em pouco tempo, eles já os superavam em número. E a memória histórica daí se transformou, de covil de leprosos a Centro de AIDS.
O paciente tornou-se uma fonte de ensino, um laboratório onde o conhecimento sobre a doença desconhecida foi forjado com descobertas e publicações. Eles foram cutucados, penetrados com sondas, perfurados na coluna vertebral, seus físicos colocados dentro de máquinas de todos os tipos – tudo para que os efeitos da doença pudessem ser descobertos dentro do organismo. A hospitalização muitas vezes foi necessária, dependendo das condições clínicas.
Quando, com canudos na mão, pais e mães se curvavam e se beijavam, o reitor os cumprimentava e o mundo se abria, eles eram como heróis. A caneta, o estetoscópio e a cabeça: o tripé que usariam para curar os males do mundo.
Competentes no manejo de doenças oportunistas de todos os tipos, os recém-chegados não estavam preparados para lidar com as mais brutais Epidemia trouxe. A sensação de abandono, do paciente e de si mesmo.
* Marcelo Henrique Silva é médico mineiro que atua na saúde pública e autor do romance Sangue de néon, vencedor da categoria livro de estreia do Prêmio Alta Literatura. A obra será publicada pela Alta Books no final do ano
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