Rótulos sobre gangstalking podem agravar problema, diz pesquisadora – Jornal Estado de Minas

Rótulos sobre gangstalking podem agravar problema, diz pesquisadora – Jornal Estado de Minas


Na última década, um fenômeno complexo e controverso ganhou espaço no ambiente digital de forma quase imperceptível. Em diferentes países, as pessoas que se autodenominam indivíduos-alvo (ou alvo individual) passaram a se reunir em grupos e fóruns digitais onde denunciam a ação orquestrada de pessoas e organizações para desacreditá-las, prejudicá-las e, em última instância, levá-las à morte.

Brasília (DF) 08/06/2024 - Psicoterapeuta e assistente social Liz Johnston, professora da Universidade Politécnica da Califórnia. Foto: Gina N. Cinardo/Divulgação

Com a validação de quem acredita ser vítima do mesmo tipo de assédio, algumas dessas pessoas deixaram o espaço virtual para trabalhar também no ambiente analógico. Criaram associações e começaram a encher assembleias estaduais e câmaras municipais de pedidos de informações e sugestões de leis de iniciativa popular para proteger as vítimas dos chamados perseguição de gangue – a crença de que se é alvo de uma perseguição organizada por um grupo desconhecido de pessoas com acesso a dispositivos modernos capazes de interpretar os pensamentos e modificar o comportamento das suas vítimas.

Professora da Universidade Politécnica da Califórnia, a assistente social e psicoterapeuta Liz Johnston se interessou pelo tema ao perceber que dois de seus pacientes compartilhavam a mesma convicção. “Em busca de formas de ajudá-los, comecei a pesquisar”, disse Liz, que logo percebeu a relevância do tema e suas implicações: embora incerto, o número de pessoas que se declaram indivíduos-alvo não é irrelevante.

Liz está finalizando um livro que deverá ser publicado em breve, pela editora inglesa Ethics Press, com artigos inéditos escritos por pesquisadores que já publicaram trabalhos acadêmicos sobre o tema. perseguição de gangue. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que a professora concedeu ao Agência Brasilpara e-mail.

Agência Brasil: Em primeiro lugar, o que é perseguição de gangue? Quais são as suas especificidades?
Liz Johnston: Perseguição de gangue é um conceito emergente no campo das crenças persecutórias. Caracteriza-se pela crença pessoal de ser perseguido ou vigiado por um grupo difuso de pessoas. Ao contrário do que acontece nos casos de perseguição individual [stalking]as vítimas de perseguição de gangue Não identificam claramente os seus perseguidores, acreditando que se tratam, na maioria dos casos, de pessoas ligadas a agências governamentais ou autoridades policiais. Estas pessoas identificam-se como Indivíduos-Alvo (TIs) e relatam invasões domiciliares, vigilância aberta e encoberta, dor infligida por dispositivos remotos e controle eletrônico da mente. O conceito abrange áreas como criminologia, psicologia, redes sociais e serviço social, mas, por não se enquadrar perfeitamente em uma única categoria de pesquisa, ainda faltam pesquisas acadêmicas.

Apesar disso, os TIs são frequentemente considerados paranóicos. Um diagnóstico que pode criar mais problemas do que ajudar a resolvê-los. Existe até um debate sobre até que ponto é ético rotular como paranóia pessoas com diagnósticos estigmatizantes, especialmente na ausência de tratamentos realmente eficazes. Outra questão ética é: por que os médicos e psicólogos têm o poder e o privilégio de decidir se os clientes estão delirando? A definição de “ideia delirante” é complexa. Basta ver que muitas pessoas acreditam em fenômenos como fantasmas ou OVNIs. [objetos voadores não identificados] e eles não são rotulados como delirantes.

Agência Brasil: Fazer essa ressalva em relação ao diagnóstico não pode ser entendido como uma validação das crenças persecutórias dessas pessoas?
Liz Johnston: Este é um ponto-chave no meu livro. Muitos pesquisadores acreditam que os TIs são delirantes porque o controle da mente hoje seria impossível ou porque outras ações relatadas seriam extremamente caras. Há, no entanto, um histórico de programas de vigilância governamental dirigidos a cidadãos dos EUA, tais como o Projeto MK-Ultra [programa experimental por meio do qual a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) financiou experimentos de controle mental sem o conhecimento das “cobaias involuntárias”] que envolveu experimentos com uso de drogas, eletrochoque, isolamento, abuso e tortura.

O Departamento Federal de Investigação [FBI] infiltrou agentes secretos em organizações políticas, conduzindo projetos de vigilância secretos e ilegais como parte do seu programa de contra-espionagem. Desde activistas dos direitos civis a membros da Ku Klux Klan, foram alvo de vigilância e de acções para os desacreditar. Informações sobre esses fatos estão disponíveis na internet e os TIs acabam utilizando-as para sustentar a crença de que também estão sendo perseguidos. A minha tese é que os indivíduos visados ​​têm pouco ou nenhum apoio [social]. E talvez, nesses casos, a ideia de que um grupo de pessoas se importa com você o suficiente para te perseguir acabe funcionando como uma espécie de comunidade de apoio. Da mesma forma que os grupos sobre perseguição de gangueem que esses indivíduos encontram outras pessoas que acreditam neles e que não os rotulam como paranóicos ou delirantes.

Agência Brasil: É evitar termos diagnósticos para não estigmatizar as pessoas?
Liz Johnston: Qual é a vantagem de rotular alguém com um problema de saúde mental dizendo “você é paranóico”? Acredito que não é construtivo rotular pessoas sem uma teoria válida e sem um tratamento eficaz. Insisto: muita gente acredita em fantasmas. Por que não rotulamos isso como uma ilusão persecutória? Houve casos documentados de assédio governamental nos EUA – e se algumas TIs estivessem realmente sendo alvo do governo? O objetivo do livro que lançaremos em breve é ​​revisar as discussões e opiniões atuais sobre o perseguição de ganguedestacando a falta de pesquisas, identificando aspectos desconhecidos e recomendando novas investigações acadêmicas sobre o tema.

Agência Brasil: Em sua pesquisa você conseguiu identificar a origem dos termos perseguição de gangue e indivíduos-alvo (TIs)? Desde quando esse tema vem despertando o interesse de profissionais de saúde e acadêmicos?
Liz Johnston: Os termos perseguição de gangue e visar indivíduos originados de grupos on-linecriado pelas próprias TIs para ter espaços para descrever suas experiências. O primeiro artigo acadêmico sobre o assunto foi publicado em 2015. Nele, a autora, a psicóloga Lorraine Sheridan, utiliza a expressão perseguição em grupo (perseguição em grupo).

Agência Brasil: Existem registros desse fenômeno ocorrendo em outros países além dos Estados Unidos e do Brasil? Tem gente estudando perseguição de gangue seriamente em outras partes do mundo?
Liz Johnston: Só tenho conhecimento de artigos de pesquisa publicados nos Estados Unidos e na Austrália. Mas, mesmo entre os profissionais de saúde dos Estados Unidos, o tema ainda tem pouca visibilidade. Há pouco tempo fui convidado para fazer uma apresentação sobre perseguição de gangue em hospitais locais, e os profissionais médicos presentes mal tinham ouvido falar disso.

Agência Brasil: O que motivou você a estudar o tema? Por que você acredita que é importante identificar, descrever e compreender o perseguição de gangue quando alguns especialistas tratam o assunto como uma típica manifestação psicótica, fenômeno já bastante estudado?
Liz Johnston: Tive dois clientes que acreditavam ser alvos de perseguição organizada. Procurando formas de ajudá-los, comecei a pesquisar e concluí que a paranóia em geral ainda não é bem compreendida, que não existe uma teoria coerente sobre o tema, como defendo em um de meus artigos. Hoje, acredito que o perseguição de gangue É um tema relevante por vários motivos. Nos EUA, por exemplo, pode estar associada a comportamentos violentos, como aponta a Dra. Christine M. Sarteschi. Apesar disso, hoje existem menos de 15 artigos de pesquisa escritos em inglês. Em contraste, uma pesquisa recente no Google por perseguição de gangue retornou 632 mil resultados sobre o assunto, incluindo muitos relatos em primeira pessoa.

Agência Brasil: Considerando o pequeno número de estudos sérios, é possível traçar um perfil de pessoas que se identificam como “vítimas” de gangstalking? Você acredita que as principais características permanecem as mesmas, independentemente da nacionalidade ou cultura, ou tendem a variar?
Liz Johnston: Penso que ainda não existem estudos suficientes para estabelecer um perfil detalhado dos chamados indivíduos-alvo. Com base na minha revisão da literatura e observação de postagens sobre perseguição de gangue nas redes sociais posso fazer algumas considerações. Geralmente têm mais de 40 anos. Em geral, enfrentaram situações difíceis na vida, como divórcio, racismo, pobreza, despedimento ou dificuldades em encontrar emprego, bem como experiências de abuso ou trauma na infância. Eles tendem a estar distantes de suas famílias e isolados de seus vizinhos. Os homens parecem mais propensos a postar sobre suas experiências do que as mulheres. Muitos descrevem os sintomas físicos como dores agudas e de cabeça, o que me leva a pensar se esses sintomas podem indicar problemas de saúde não diagnosticados. Para eles, porém, não há dúvida: os sintomas são causados ​​pelos seus perseguidores.

Agência Brasil: No Brasil, existem indivíduos visados ​​que expressam a crença de que seus perseguidores são grupos a serviço do mal ou de forças diabólicas que pretendem corrompê-los e desviá-los do caminho do bem. Algumas destas pessoas sustentam que os indivíduos visados ​​são escolhidos por Deus, daí os esforços para desacreditá-los, adoecê-los e matá-los. O que você pensa sobre isso? Poderia este aspecto religioso tornar o delírio persecutório mais preocupante?
Liz Johnston: Isto também ocorre nos Estados Unidos – cerca de um terço da população postagens no Reddit e no Quora [redes sociais] faz referência a ideias religiosas e aconselha outros TIs a se voltarem para Deus e orarem para poder lidar com o perseguição de gangue. Não vejo esse aspecto tão preocupante, pois estou convencido de que as crenças religiosas são realmente úteis para alguns TIs.

Agência Brasil: No Brasil e nos EUA, existem associações legalmente constituídas para promover crenças e defender os interesses dos indivíduos visados. Petições, pedidos de informação e propostas de leis de iniciativa popular têm sido apresentados a legisladores de diferentes cidades e estados com base na atuação dessas entidades. Você conhece o escopo das organizações norte-americanas? Até que ponto podem propagar este sistema de crenças persecutórias e mobilizar as pessoas?
Liz Johnston: Sei que existem vários grupos nacionais nos Estados Unidos e que estão a organizar petições aos legisladores. Na verdade, com base num pedido de uma destas associações, a Câmara Municipal de Richmond (CA) aprovou, em 2015, um resolução que estabelece que o município é uma zona segura onde os cidadãos não podem ser alvo de armas espaciais (saiba mais aqui).

Agência Brasil: Você pode nos contar um pouco mais sobre seu livro?
Liz Johnston: Enviei uma proposta para a editora Ethics Press, do Reino Unido, que aceitou. Então eu enviei e-mails a todos os autores que publicaram artigos sobre perseguição de gangue e pediu-lhes que contribuíssem com capítulos para o livro. A maioria aceitou. Atualmente, estou editando rascunhos de capítulos e supervisionando meus alunos de graduação e pós-graduação na redação de capítulos de conexão. Pretendo enviar a versão final à editora em meados de setembro. Espero que o livro seja publicado no início de 2025.

É importante buscar ajuda de um profissional capacitado para lidar com situações difíceis para manter a saúde mental. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece serviço de escuta acolhedora e apoio emocional, disponível pelo telefone 188. Há também o Mapa de Saúde Mentaluma ferramenta que permite pesquisar serviços públicos gratuitos por localização.



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