Quase metade das demências poderia ser evitada eliminando fatores de risco – Jornal Estado de Minas

A atualização de 2024 da Comissão Lancet sobre demência destacou novas pesquisas promissoras na prevenção, intervenção e tratamento da doença. Apesar da diminuição da incidência de demência por idade nos países de rendimento elevado, o número total de casos continua a crescer devido ao aumento da longevidade da população.

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O relatório, publicado a 31 de julho no The Lancet, reforça a importância das abordagens preventivas desde a infância, sublinhando que quase metade das demências poderiam ser evitadas eliminando 14 fatores de risco identificados. Estes incluem perda auditiva, depressão, tabagismo, obesidade, hipertensão, diabetes, consumo excessivo de álcool, traumatismo cranioencefálico, poluição do ar, isolamento social, bem como novos fatores, como perda de visão não tratada e colesterol LDL elevado.

Há também ênfase na importância de abordagens ao longo da vida, indicando que nunca é demasiado cedo ou tarde para começar a reduzir o risco de demência. As evidências sugerem que tais abordagens não só aumentam a qualidade de vida, mas também reduzem o custo dos cuidados de saúde e são economicamente vantajosas, inclusive para pessoas com predisposição genética para a demência.

Novas evidências identificam a perda de visão e o colesterol elevado como fatores de risco modificáveis ​​para a demência, somando-se aos 12 já reconhecidos pela Comissão Lancet de 2020. Para enfrentar os desafios do envelhecimento cognitivo e prevenir a demência, é fundamental adotar uma abordagem multidisciplinar baseada em evidências científicas.

Estratégias práticas para implementar essas mudanças:

1. Educação de qualidade e atividades cognitivas: a educação contínua e o envolvimento em atividades cognitivas, como ler e aprender novas habilidades, são essenciais para fortalecer as conexões neurais e retardar o declínio cognitivo

2. Acessibilidade dos aparelhos auditivos e proteção contra ruído: Tornar os aparelhos auditivos acessíveis e educar sobre a proteção auditiva são medidas cruciais para prevenir a perda auditiva, que está associada a um risco aumentado de demência.

3. Tratamento eficaz da depressão: Promover o acesso a tratamentos psicológicos e medicamentosos eficazes para a depressão pode ajudar a prevenir a sua progressão para demência.

4. Uso de capacetes e proteção de cabeça: incentivar o uso de capacetes em esportes de contato e ciclismo pode prevenir lesões cerebrais traumáticas, um fator de risco significativo para demência

5. Promoção do exercício físico: Incentivar o exercício físico regular contribui para a saúde vascular e pode reduzir o risco de demência. Políticas públicas devem facilitar o acesso a espaços para atividade física

6. Redução do tabagismo: Medidas como aumentos de preços e proibição de fumar em locais públicos são eficazes na redução do tabagismo, que está diretamente ligado ao risco de demência

7. Controle da hipertensão: Manter a pressão arterial sob controle é essencial. Campanhas de saúde e monitoramento regular podem ajudar a prevenir a hipertensão, um fator de risco modificável para demência

8. Tratamento para colesterol alto: detectar e tratar níveis elevados de LDL previne complicações vasculares que podem levar à demência

9. Controle de peso e prevenção da obesidade: Manter um peso saudável previne diversas condições associadas ao risco de demência, como diabetes

10. Reduzir o consumo excessivo de álcool: promover campanhas sobre os riscos do consumo excessivo de álcool e controlar o seu preço ajuda a prevenir a demência

11. Comunidades amigáveis ​​para todas as idades e redução do isolamento social: A promoção de ambientes que incentivem a interação social pode reduzir o isolamento, um conhecido fator de risco para demência

12. Acessibilidade ao tratamento da perda de visão: garantir o acesso ao rastreio e tratamento de problemas visuais ajuda a manter a independência e a qualidade de vida, reduzindo o risco de isolamento e declínio cognitivo

13. Reduzir a exposição à poluição atmosférica: A implementação de políticas que reduzam a poluição atmosférica, tais como melhorias nos transportes públicos e restrições às emissões industriais, é vital, pois existe uma correlação entre a poluição e um risco aumentado de demência.

Segundo o neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Filipe Mendes, Os fatores de risco para demência incluem uma variedade de elementos modificáveis ​​e não modificáveis ​​que podem influenciar o desenvolvimento da doença.

“É crucial controlá-los para reduzir a incidência e progressão da demência. Entre os principais fatores de risco modificáveis ​​estão hipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade, consumo de açúcar, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool, baixa escolaridade e falta de estimulação cognitiva, além de depressão e isolamento social, conforme citado em publicação .”

Em relação aos fatores não modificáveis, segundo o neurocirurgião, destaca-se a idade, que aumenta significativamente o risco de demência, além do histórico familiar – ter parentes de primeiro grau com demência aumenta a predisposição para o quadro. Algumas mutações genéticas, como o gene APOE 4, estão associadas a um risco maior.

O controle dos fatores de risco modificáveis ​​é, para Felipe, essencial para reduzir a incidência de demência em uma população, retardar o início e a progressão dos sintomas, melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, além dos custos associados aos cuidados de longo prazo e aos cuidados médicos complexos. intervenções. “Promover um estilo de vida saudável tem um impacto significativo na saúde do cérebro e ajuda a prevenir não só a demência, mas uma série de outras doenças”, diz ela.