O psiquiatra Rafael Procópio destaca que o mês de janeiro, com seu simbolismo de novos começos e renovação, também traz a oportunidade de refletir sobre saúde mental. Para Xavier, a campanha Janeiro Branco vem com esse convite para “reescrever a história, parando para pensar no cuidado emocional e psicológico”.
Para o médico, que integra a equipe de psiquiatras da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), é fundamental aproveitar especialmente esse período e enfatizar a quebra de estigmas e preconceitos para promover a conscientização sobre a importância da saúde mental.
Janeiro foi escolhido, em 2014, para divulgar a campanha por ser o mês que marca o início de um novo ciclo. A cor branca simboliza pureza e renovação, além de alusão a uma página em branco, significando que não é possível reescrever a história.
“É a oportunidade de criar novos objetivos, novas metas e, acima de tudo, fazer as coisas de forma diferente do que fizemos no passado. A saúde mental, durante muito tempo marginalizada e cercada de preconceitos, precisa ser desmistificada. Historicamente, as doenças mentais eram vistas como posses ou comportamentos ligados ao ocultismo. Hoje sabemos que são distúrbios que precisam de cuidado e tratamento”, afirma o especialista.
Tempo e atividade física
Diante do tempo, hoje cada vez mais escasso, o psiquiatra destaca que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é fundamental para manter uma saúde mental saudável. “Quando alguém se dedica excessivamente ao trabalho, negligenciando a alimentação, o sono ou o lazer, pode estar criando condições para o adoecimento mental. Se você está sempre sem tempo, significa que algo está fora do lugar. O desequilíbrio pode gerar sobrecarga emocional e física”, alerta.
Procópio recomenda que, ao perceber sinais como isolamento social, falta de tempo para atividades prazerosas e rotina desorganizada, a pessoa procure reorganizar o uso do tempo, priorizando o que realmente importa para a pessoa.
A psiquiatra aponta ainda algumas práticas consideradas essenciais para a manutenção da saúde mental. Um sono de qualidade é o primeiro passo. “O sono é o momento de repor as energias e processar as informações do dia. Além disso, a prática regular de atividades físicas, principalmente aquelas que geram prazer, é fundamental para o bem-estar. Portanto, é importante encontrar algo que você goste.”
“Exercitar-se não precisa ser uma obrigação”, sugere o médico. Ele lembra o caso de uma paciente de 62 anos que, após experimentar o boxe, começou a praticar a atividade. , e ela sempre dizia que não gostava de ir à academia, pois era muito chato. Um dia ela conheceu um professor de boxe que a convidou para fazer a atividade. Depois disso, ela começou a fazer regularmente, como ela havia descoberto. alguma coisa que eu gostei”, ressalta.
Alimentação e socialização
Além desses pontos, a profissional reforça que alimentação balanceada, retorno à socialização e organização do tempo também são práticas que contribuem para o equilíbrio emocional. “Com o advento das telas, os relacionamentos pessoais ficaram em segundo plano. Hoje é mais importante postar a atualização no feed das suas redes sociais do que interagir com as pessoas ao seu redor naquele momento de lazer.”
“Reconectar-se com amigos e familiares é fundamental”, insiste, acrescentando que o autocuidado também tem impacto direto na autoestima e na saúde mental. Ele explica que cuidar de si traz sensação de organização e bem-estar. Quando as pessoas se cuidam, seja com uma boa higiene pessoal, tomando um banho relaxante, cortando o cabelo ou até com roupas bem passadas, elas se sentem melhor consigo mesmas e podem melhorar significativamente sua saúde mental”, reforça.
Ambiente de trabalho
Num mundo corporativo cada vez mais exigente, as empresas também desempenham um papel fundamental no cuidado com a saúde mental dos seus colaboradores. A psiquiatra sugere que as organizações promovam espaços de diálogo sobre saúde mental, oferecendo ferramentas de apoio, incluindo vídeos educativos e textos informativos, além de disponibilizarem canais de acolhimento com profissionais de saúde.
“Momentos de relaxamento, como atividades de alongamento ou descompressão, também são essenciais para aliviar as tensões do dia a dia”, recomenda.
Quebrando preconceito
Identificar quando uma pessoa precisa de ajuda também requer atenção para evitar uma doença mais grave. Com essa perspectiva, o psiquiatra Rafael Procópio ensina que, muitas vezes, uma simples conversa pode ser suficiente para organizar os pensamentos e amenizar conflitos internos.
“A psicoterapia breve pode trazer alívio imediato, mas quando há comprometimento funcional a intervenção médica se torna necessária. A avaliação adequada e a definição do tratamento mais eficaz, que pode envolver terapia ou mesmo medicação, são essenciais para a recuperação do paciente”, afirma.
Estigma
O medo e o estigma que cercam o atendimento psicológico e psiquiátrico ainda são desafios a serem superados. Por isso, o psiquiatra defende que, ao falar sobre o tema com empatia e aceitação, podemos estimular as pessoas a procurarem ajuda profissional.
“Procurar psicólogo ou psiquiatra não é sinal de fraqueza, mas de força para lidar com as dificuldades emocionais. E muitas vezes, ao final de um tratamento, os pacientes revelam que se sentem aliviados por não terem esperado tanto para pedir ajuda”, relata.
Rafael Procópio encerra a entrevista deixando uma mensagem de esperança. “Enquanto você viver, você sempre poderá tentar fazer algo diferente. O sol nasce todos os dias com uma nova oportunidade de recomeçar. Assim como aprendemos a caminhar através de quedas e tentativas, a vida é uma constante de aprendizado. Devemos trabalhar a resiliência, aprender com nossos traumas e seguir em frente, buscando o equilíbrio mental e físico para uma vida mais saudável.”
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