Por que ficamos cansados após as refeições? – Jornal Estado de Minas

Quem nunca sentiu aquela sensação de cansaço ou vontade de cochilar logo após uma refeição? Esse fenômeno, bastante comum, está relacionado a processos fisiológicos do corpo humano e aos hábitos alimentares, como explica o nutricionista da Rede Hospitalar São Camilo, Daniel Magnoni. Embora a sonolência após comer geralmente não seja motivo de preocupação, ela pode indicar a necessidade de ajustes na dieta ou na rotina.

A fisiologia da digestão

Ao comer, o corpo desvia grande parte do fluxo sanguíneo para o sistema digestivo, para processar o alimento ingerido. Este aumento da circulação sanguínea na região abdominal pode levar a uma ligeira redução do fornecimento de sangue ao cérebro, contribuindo para a sensação de cansaço.

Além disso, consumir alimentos ricos em triptofano — aminoácido presente em proteínas como frango, peixe, queijo e ovos — estimula a produção de serotonina, neurotransmissor associado ao relaxamento e ao sono. “A produção de serotonina pode deixar o corpo mais predisposto ao descanso, principalmente quando combinada com grandes refeições”, explica Daniel.

Hábitos alimentares: vilões ou aliados

A composição e o tamanho da refeição desempenham um papel crucial na fadiga pós-refeição. Refeições grandes e ricas em gordura, como frituras e pratos com queijos cremosos, exigem mais tempo e esforço do sistema digestivo, o que pode intensificar a sonolência.

“Alimentos gordurosos são mais difíceis de digerir porque suas moléculas são maiores e exigem mais trabalho enzimático”, afirma a nutricionista. Por outro lado, refeições ricas em carboidratos simples, como pão branco, doces ou alimentos industrializados, podem provocar picos de glicemia seguidos de quedas rápidas, causando cansaço.

“Comer em excesso, independente do tipo de alimento, também sobrecarrega o corpo. Uma estratégia simples é reduzir o tamanho das porções e mastigar devagar, permitindo que o corpo registre a saciedade antes de você comer mais do que precisa”, aconselha Daniel.

O papel do álcool

O consumo de bebidas alcoólicas durante as refeições também pode piorar o cansaço. O álcool é um depressor do sistema nervoso central, o que significa que retarda as funções do corpo, incluindo a atividade cerebral. Para quem sente muito sono após o almoço, evitar bebidas alcoólicas pode ser um passo importante.

“Mesmo uma taça de vinho ou uma cerveja pode contribuir para a sonolência, principalmente se combinada com refeições pesadas. O ideal é reservar bebidas alcoólicas para ocasiões específicas e priorizar a hidratação adequada durante as refeições”, recomenda a especialista.

Quando se preocupar?

Embora a sonolência após comer seja comum, Daniel alerta que o cansaço excessivo ou frequente pode estar relacionado a condições de saúde, como intolerâncias alimentares, apneia do sono ou problemas metabólicos. “Se a fadiga for extrema e persistente, é importante consultar um médico para investigar possíveis causas subjacentes”, aconselha.

Como evitar o cansaço pós-refeição?

Fazer pequenas mudanças na sua rotina pode ajudar a reduzir a sensação de sonolência depois de comer:

– Faça refeições balanceadas: combine proteínas, gorduras saudáveis ​​e carboidratos complexos em porções moderadas

– Evite alimentos ultraprocessados: priorizar alimentos in natura ou minimamente processados, que promovam uma liberação mais gradual de energia

– Moderado em álcool: prefira sucos naturais, água ou chás durante as refeições

– Mastigue devagar: Isso facilita a digestão e evita o consumo excessivo de alimentos

– Mova-se após a refeição: uma caminhada leve pode ajudar a combater o cansaço e estimular a digestão

– Mantenha-se hidratado: beber água ao longo do dia, inclusive entre as refeições, ajuda a otimizar o metabolismo e melhora a circulação sanguínea

Ao compreender os mecanismos por trás da fadiga pós-refeição, é possível ajustar hábitos e desfrutar das refeições sem perder energia durante o resto do dia. “Comer é um momento de prazer e pequenos cuidados podem fazer toda a diferença na qualidade de vida”, reforça Daniel.

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