O planejamento familiar (ou planejamento reprodutivo) é importante para trazer autonomia às mulheres que desejam ter filhos no futuro. Nesse caso, um dos procedimentos disponíveis na reprodução assistida é o congelamento de óvulos, como parte de um processo de preservação do potencial de fertilidade. Especialistas em fertilidade alertam que o ideal é congelar antes dos 35 anos, pois, a partir dessa idade, as chances de gravidez diminuem de forma mais acentuada.
“As mulheres que desejam ser mães devem realizar o planejamento familiar e reprodutivo e repensar sua trajetória a partir dos 30 anos. Nesse caso, é preciso avaliar sua reserva ovariana e verificar se seria ou não adequado congelar óvulos. Esta é uma questão de fundamental interesse para as mulheres de hoje, quando a formação de famílias está claramente adiada e o relógio biológico feminino não para”, afirma a especialista em reprodução humana e diretora do Centro de Reprodução Humana da Clínica Fertipraxis, Maria do Carmo Borges de Sousa.
Exames importantes
Segundo a especialista, é importante realizar exames como contagem de folículos e dosagem do hormônio antimülleriano (AMH) para saber como está a reserva ovariana.
“O teste anti-Mülleriano pode ser realizado em qualquer época do mês, mas no mínimo 60 dias sem uso de anticoncepcional hormonal, e a contagem de folículos antrais, por meio de ultrassonografia transvaginal entre o terceiro e o quinto dia do início da última menstruação” , ele explica.
Maria do Carmo acrescenta outros pontos de atenção que podem contribuir para a avaliação da fertilidade nas mulheres:
– Análise do ciclo menstrual: A regularidade do ciclo menstrual é um bom sinal na avaliação da fertilidade.
“Nos exames hormonais mais frequentes é importante verificar se há alguma alteração na tireoide através da dosagem do hormônio TSH e do anticorpo TPO, além da prolactina, que pode ter origem em alterações na hipófise”, alerta.
– Avaliação da glândula adrenal: para verificar excesso de hormônios androgênicos, em casos de aumento de pelos corporais ou pele oleosa, às vezes também associada a alterações menstruais: dosagem de testosterona, SDHEA e 17 OH.
– Histerossalpingografia: exame de imagem que avalia a função das tubas uterinas, para saber se há algo que impeça a passagem de espermatozoides e óvulos, já que os dois se encontram nas trompas, resultando na fecundação natural.
Congelamento de óvulos
As mulheres que desejam ter filhos mas que ainda não têm companheiro ou que desejam adiar a maternidade por alguns anos podem recorrer ao congelamento de óvulos, uma técnica da medicina reprodutiva que permite manter a capacidade reprodutiva.
Dados compilados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que o número de congelamentos entre mulheres brasileiras com menos de 35 anos praticamente dobrou em três anos. Em 2023, foram realizados 4.340 ciclos, 97,9% a mais que os 2.193 realizados em 2020.
Como funciona
O primeiro passo é a estimulação ovariana com medicamentos hormonais, injeções subcutâneas diárias durante oito a dez dias, em média. São necessários entre três e seis ultrassonografias de acompanhamento e, às vezes, ajustes nas doses dos medicamentos.
Uma vez que os folículos que conseguiram crescer estejam no tamanho adequado, ocorre o próximo passo, que é desencadear o fim da maturação dos óvulos. Aproximadamente 36 horas após o comando hormonal da ovulação, os óvulos são coletados por via transvaginal com leve sedação em procedimento que dura aproximadamente 30 minutos.
“Os folículos aspirados são avaliados em laboratório para identificação de óvulos maduros e com boa qualidade morfológica para congelamento em até três horas após a coleta. São óvulos que não perderão a capacidade reprodutiva nem envelhecerão com o tempo de congelamento”, afirma o especialista em reprodução assistida e também diretor médico da Fertipraxis, Roberto de Azevedo Antunes.
O resultado da fertilização com um óvulo congelado depende de vários fatores, incluindo a idade de congelamento e o número de óvulos maduros. Portanto, ter óvulos congelados não é garantia de gravidez, mas sim uma possibilidade, pois a idade morfológica no momento do congelamento é preservada.
“É preciso levar em conta que 50% da fecundação vai depender do histórico dos espermatozoides, mas é um passo muito importante para a mulher não ter a pressão biológica do tempo correndo contra ela”, destaca Maria do Carmo.
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