SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Hemocentro de Ribeirão Preto concluiu a primeira fase de testes para pesquisas no tratamento de alguns tipos de câncer no sangue. O estudo, que utiliza células CAR-T (linfócitos T), faz parte de uma das mais modernas iniciativas para tratar a leucemia linfocítica aguda de células B e o linfoma não-Hodgkin de células B.
A primeira etapa dos testes teve como objetivo específico verificar a segurança do tratamento. Agora, os resultados serão avaliados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que deverá garantir ?ou não? o sucesso dos testes para aprovação na próxima fase.
O professor de medicina da USP (Universidade de São Paulo) e diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto, Rodrigo Calado, afirma que, preliminarmente, os resultados dos exames foram satisfatórios.
“Os pacientes foram selecionados no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e todos apresentaram resposta ao tratamento e não houve efeitos colaterais graves. Todos os dados clínicos foram então submetidos à Anvisa, que está realizando a análise de segurança”.
A Anvisa, em nota, afirma que o Hemocentro apresentou o Relatório Preliminar de Dados de Segurança do ensaio clínico no dia 1º de novembro e que está sendo analisado pela agência.
A pesquisa é uma parceria entre o Hemocentro de Ribeirão Preto e o Instituto Butantan, e faz parte de um projeto para ampliar o tratamento CAR-T de forma mais acessível. Se a produção nacional tiver sucesso, será possível oferecer o tratamento gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde).
“Atualmente existem tratamentos comercialmente competentes, mas não são viáveis do ponto de vista financeiro. Nosso trabalho é justamente criar uma tecnologia totalmente nacional para que esse tratamento seja acessível”, afirma Calado.
COMO FUNCIONA
A terapia CAR-T começou a ser pesquisada nos Estados Unidos e, por volta da década de 2010, foi aplicada em pacientes com câncer terminal. Em 2018, os resultados renderam aos seus pesquisadores o Prêmio Nobel de Medicina. Os Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Espanha, Itália, Reino Unido, China, Austrália, Singapura e Israel já oferecem este tratamento.
No Brasil, o Hemocentro de Ribeirão Preto foi pioneiro nesta pesquisa, iniciada em 2019; Hoje, a Anvisa só permite a aplicação dessa terapia celular em pacientes que não têm outra opção de tratamento para salvar suas vidas.
Os linfócitos T são as células de defesa natural do corpo, que atacam o câncer. No entanto, uma vez que a resposta imunitária de pacientes com condições graves pode ser lenta, a terapia CAR-T torna-se útil.
Neste tratamento, o sangue do paciente é coletado e suas células T isoladas. Em seguida, eles são ativados e reprogramados para combater células cancerígenas que possuem um antígeno chamado CD19 (presente no já citado linfoma e na leucemia tipo B). Depois disso, as células são multiplicadas e aplicadas de volta ao paciente, por meio de um vetor – um vírus modificado, incapaz de gerar doenças.
Algumas das vantagens desse tratamento são a redução do uso de medicamentos, a necessidade de quimioterapia, a dor e a possibilidade de remissão total ou parcial do câncer.
Essa terapia celular é indicada para pacientes com câncer agressivo, de recorrência frequente, e que já tentaram outras terapias convencionais sem sucesso. Até o momento, o CAR-T não se mostrou eficaz no tratamento de cânceres em massa.
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