Perda auditiva não é causada somente pelo envelhecimento – Jornal Estado de Minas

Perda auditiva não é causada somente pelo envelhecimento – Jornal Estado de Minas



É comum que algumas pessoas relacionem qualquer sinal de perda auditiva ao envelhecimento. Mas isto, na verdade, não é apenas uma “coisa da idade” e não faz necessariamente parte do envelhecimento normal.

“A perda auditiva é a diminuição parcial ou total da capacidade de ouvir. Pode afetar um ou ambos os ouvidos e ser causada por diversos fatores, incluindo exposição a ruídos altos e presbiacusia (relacionada à idade). Embora esteja relacionada à idade, deve ficar claro que não é causada exclusivamente por ela. Realmente não tem como dizer que, se uma pessoa tem mais de 65, 70 anos, ela vai ter perda auditiva e a causa é a idade. Isso está relacionado a diferentes fatores, como genética e fatores ambientais ao longo da vida. Existe uma predisposição individual do paciente, mas também podemos citar diversas questões que influenciam, como: exposição ao ruído; infecções de ouvido ao longo da vida; uso de medicamentos ototóxicos; se esse paciente consumia álcool ou fumava; ou se você tem hipertensão, diabetes ou outra comorbidade”, explica a otoneurologista, otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido, Nathália Prudêncio. De fato, alguns estudos realizados na década de 1960 em populações isoladas e não expostas a ruídos intensos constataram preservação da sensibilidade auditiva na velhice.

A exposição ao ruído é um dos principais fatores que causam perda auditiva – e também pode causar outros dois distúrbios auditivos: zumbido e hiperacusia (distúrbio marcado pela intolerância do paciente a sons de alta intensidade). Aproximadamente 5% da população mundial tem perda auditiva induzida por ruído, segundo estudos.

“Exposições breves a sons muito altos podem causar danos irreversíveis às células sensoriais do ouvido interno, desencadeando perda auditiva súbita. Na maioria dos casos, entretanto, a perda auditiva progride gradualmente devido à exposição frequente a ruídos altos por longos períodos. Embora seja mais comum em profissionais expostos ao som de máquinas e equipamentos, também pode ocorrer por motivos evitáveis, como uso de fones de ouvido em volume alto por longos períodos ou eventos com música muito alta. Observamos que algumas pessoas são mais suscetíveis à perda auditiva e aos sintomas associados, como o zumbido, embora todas as pessoas, sem exceção, estejam sujeitas a isso quando expostas a sons muito altos por longos períodos e com frequência”, explica Nathália.

Segundo o médico, as infecções também são causa de perda auditiva, principalmente em crianças que as apresentam de forma recorrente (geralmente otite média). “Doenças como a otosclerose, que afeta principalmente as mulheres, levam à perda auditiva bilateral.”

A cera também pode ser uma causa, especialmente em pessoas idosas. “Essa causa tem tratamento, mas é importante ressaltar que a maioria das pessoas não precisa retirar a cera e, portanto, essa não é uma medida preventiva para perda auditiva. Apenas uma parcela muito pequena da população tende a ter uma produção aumentada de cera que exige limpeza frequente, que, aliás, deve ser sempre realizada por um médico, em consultório. Algumas condições também podem estimular o aumento do acúmulo de cera e material orgânico, como a dermatite seborreica e a psoríase, que favorecem a descamação da pele da orelha, aumentando as chances de obstrução do canal auditivo”, comenta Nathália.

A audiometria é o principal método utilizado para diagnosticar e monitorar a perda auditiva. “O objetivo do procedimento é determinar o tipo e o grau da perda auditiva do paciente e ajudar o otorrinolaringologista a definir a melhor estratégia de tratamento, de acordo com o resultado”, acrescenta o especialista.

“Para a maioria dos casos de perda auditiva neurossensorial, os aparelhos de amplificação sonora são o recurso mais recomendado. Tratamentos complementares, como a terapia sonora, também podem ser recomendados para tratar sintomas associados, como zumbido e hiperacusia, que podem acometer parte desses pacientes. Procedimentos mais invasivos, como a introdução de implante coclear, só são indicados em casos de perda auditiva severa a profunda ou que não responderam bem ao uso de aparelho de amplificação sonora”, afirma o médico.

A escolha do tratamento, portanto, dependerá do diagnóstico e das necessidades de cada pessoa, mas a detecção precoce da perda auditiva é fundamental. “Isso permite que os tratamentos necessários sejam iniciados com antecedência, o que é especialmente importante nos casos de perda auditiva súbita, quando medidas preventivas podem evitar o agravamento do quadro”, aponta Nathália.

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