“Observador de pássaros”: livro traduz em voos as dores da depressão – Jornal Estado de Minas

“Observador de pássaros”: livro traduz em voos as dores da depressão – Jornal Estado de Minas


“O amor é uma mentira que contei a mim mesmo antes de dormir.”. Misto de cartas de amor e diário pessoal, o livro ‘Observador de Pássaros’ da escritora estreante Júlia Alfa é um manual de sobrevivência. Em 53 páginas, a jovem autora, de 23 anos, expõe seus sentimentos mais íntimos e revela a batalha da transição da adolescência para a vida adulta – medos, ansiedade, depressão, escuridão, aceitação, sobrevivência e coragem.

O texto impresso no prefácio, na capa do livro, traduz a transição: “O medo de voar está quase ligado ao medo de cair. O medo desaparece quando o lápis toca pela primeira vez a folha de papel e cria um mundo imaginário inundado de poesia, prosa e magia. “Birdwatcher” é um livro de poemas dividido entre as fases de ‘queda’ e ‘fuga’. Textos mais tristes são encontrados na primeira fase, e mais esperançosos na segunda… Enquanto isso, as dificuldades de conviver com a depressão, a ansiedade e o autismo. Apesar dos desafios, a poesia não tem medo. Ela voa; ela cai. Ela explica o inexplicável e se refugia na sua incompreensão… Ela dança continuamente como um pássaro que desafia os céus, sem medo.”

Vôo da alma

A jovem autora Júlia Alfa, 23 anos, expõe seus sentimentos mais íntimos em seu primeiro livro

Arquivo pessoal

Júlia Alfa é mineira da Nova Era e escreve, desenha e pinta desde criança. Formada em cinema pela PUC-MG, sente-se atraída pelos roteiros e pela forma de contar uma história na sétima arte. As questões sentimentais sempre foram emergentes o suficiente para serem transformadas em palavras numa folha de papel. Seja através da poesia, da prosa ou de outro formato artístico, a capacidade de expulsar as emoções do corpo está sempre presente.

“Minha relação com a depressão começou quando eu era jovem, aos 14 anos. Tanto minha psicóloga quanto meu psiquiatra sempre me incentivaram a escrever, e posso dizer que faz uma grande diferença depois que você deixa as palavras te levarem como a correnteza de um rio. Neste livro, há poemas dessa época. A cronologia explora muito bem os momentos em que me senti no limite, sem acreditar que conseguiria me reerguer, me perguntando o que fazer quando me sentisse assim. Mas então, enquanto lutava contra a saúde mental, continuei escrevendo. Acho que minha melhora é visível nos textos, quando deixei de ver tudo em preto e branco e voltei a ver cores, observa Júlia.

O livro ‘Observador de Pássaros’, que éserá lançado nesta quarta-feira (7/03), no Minas Tênis Clube, em Lourdes/BH, teve poder terapêutico na batalha de Júlia Alfa consigo mesma. O amor próprio é um sentimento que leva tempo para ser sentido e ainda mais compreendido – saber lidar com uma dor que é só sua. Ao desnudar as fragilidades do corpo e da alma, o autor consegue mostrar a outras pessoas, que passam ou já passaram por picos de ansiedade ou depressão, que podem encontrar conforto através da arte, no caso, a poesia. Só quem já viveu em um quarto escuro e vazio saberá como abrir a porta e sair daquele lugar. Se necessário, crie asas imaginárias e voe sempre em direção à felicidade.

Minha maior inspiração com poemas sou, e sempre fui, eu mesmo. Sempre fui fascinado pelos sentimentos que sentia, e escrever é uma forma de tentar compreendê-los, tanto na queda como no voo. Nos meus piores momentos, no auge da depressão, escrever era um refúgio. Quando eu estava mais feliz, escrever era um alívio. Em todos os momentos, sempre peguei a caneta – acho que é uma forma de entender melhor tudo o que sinto; Quando você vê no papel, fica mais real”, diz ele.

Serviço

Observador de pássaros

Lançamento: 03/07

Localização: Minas Tênis Clube, Rua da Bahia, 2.224, Lourdes, Belo Horizonte

Horário: 19h

Editora: Caravana Editoria, Ouro Preto

Saúde mental

O problema da depressão é global e afeta gravemente a América Latina, onde, segundo as estimativas mais recentes da Unicef ​​(o braço infantil da ONU), quase 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental. Isso equivale a 15% das pessoas nessa faixa etária. O aumento dos casos de depressão começou antes da pandemia. Há evidências associadas às redes sociais de que a constante comparação dos jovens com os outros – tanto das suas vidas como dos seus corpos – aumenta os problemas relacionados com o humor e a ansiedade.

Pesquisa divulgada no ano passado mostra que o Brasil tem os maiores índices de depressão de toda a América Latina. Atualmente, é o país com maior número de pessoas diagnosticadas com a doença na região, onde mais indivíduos receberam o diagnóstico. O dado vem de uma revisão de estudos que mapearam a prevalência da doença no continente, realizada por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile e publicada no The Lancet. Em média, cerca de 12% das pessoas na América Latina terão a doença ao longo da vida, enquanto no Brasil esse número chega a 17%.

Preste atenção aos sintomas da depressão

Especialistas explicam que depressão não é sinônimo de tristeza, nem de oscilações naturais de humor. Vale ficar atento se os sintomas costumam durar a maior parte do dia, quase diariamente e por algumas semanas. A doença afeta todos os aspectos da vida e pode ser classificada como leve, moderada ou grave.

Confira alguns dos sintomas, segundo a OMS:

– Sentimentos de tristeza, irritabilidade, falta de prazer ou interesse pelas atividades

– Falta de concentração

– Sentimento de culpa, falta de esperança para o futuro

– Pensamentos sobre morte e suicídio

– Mudanças de peso e apetite

– Falta de energia e cansaço

– Danos ao sono

Onde procurar ajuda?

CVV – Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita de qualquer telefone fixo ou celular)

www.cvv.org.br



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