O que os desenhos infantis podem relevar? Entenda – Jornal Estado de Minas

As representações gráficas infantis são uma manifestação espontânea do funcionamento psicológico da própria criança. Assim, esses desenhos servem como ferramentas de comunicação, pois expressam fantasias e conflitos inconscientes, medos, alegrias, tensões e impulsos agressivos. O desenho é uma produção, um jogo muito expressivo, que nos permite observar como a criança se relaciona com o mundo. Na psicanálise com adultos há associação livre, ou seja, “falar livremente”. Com as crianças, o desenho seria um espaço intermediário entre o brincar e a verbalização, o que equivale à livre associação do adulto.

Existem diversas formas de interpretação dos gráficos infantis que são de responsabilidade do psicólogo. Uma interpretação errada pode ser mais um obstáculo do que uma ajuda. “É preciso entender a linguagem gráfica da criança e decodificá-la. O adulto pode perguntar sobre o desenho, mas é fundamental ter cuidado para não misturar as próprias ansiedades e fantasias com a expressão da criança. Por isso, uma boa dica é aproveitar o desenho para estimular o diálogo, sabendo que é uma oportunidade de abrir o mundo da imaginação por meio dessa conversa”, explica a psicanalista Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro ( SBPRJ).

O desenho torna-se para a criança uma representação do seu mundo interno projetado no papel. Além de se expressar pelo desenho, ela mobiliza recursos cognitivos – mentais e emocionais – para buscar resolver conflitos e diminuir angústias. O mundo da criança está representado nas linhas, cores e formas do desenho. “Portanto, além de ser um instrumento que pode facilitar a compreensão de como a criança se sente diante das demandas de sua vida, o desenho é a expressão do inconsciente, como se fosse um sonho. ”, destaca Renata.

O desenho, como atividade expressiva, estimula o desenvolvimento mental, trabalha a expressão de sentimentos e pensamentos e contribui para uma melhor compreensão da complexidade do mundo interno das crianças.

Assim como algo se revela por meio de características corporais, o que dará algumas pistas são os aspectos estruturais do desenho, como tamanho, cores, forma, pressão, perspectiva, simetria, correções, retoques, entre outros. . “A interpretação desses dados aliada à observação clínica pode nos dizer como essa criança se percebe e como lida com seus conflitos”, explica a psicanalista.

Supondo que aspectos da realidade estejam representados na folha de papel, como a criança se vivencia? Ocupa todo o espaço da página? Seu desenho é grande ou pequeno? Quais cores você usa? Está restrito a um único espaço na página? O seu desenho é empobrecido, monótono ou rico? O que o profissional sente ao observar esse desenho? A criança fala alguma coisa sobre o desenho?

O desenho pode ser uma porta de entrada para a construção de muitas narrativas e isso facilitará o conhecimento sobre os sentimentos da criança. Ao trabalhar com crianças, é importante que a arte surja livremente, sem interferências e solicitações do analista. Os desenhos, bem como os recursos utilizados, devem ser avaliados de acordo com a idade da criança. É importante deixar claro que a interpretação dos desenhos infantis deve ser realizada por profissional habilitado.

CANTO DE DESENHO

Desenhar em casa pode ser terapêutico. Os pais podem ter um local criativo em casa onde possam fornecer à criança materiais para desenhar e pintar, como forma de ajudá-la a se expressar, e não para ser interpretada. Não há necessidade de forçá-la a esta atividade, é preciso começar a partir daí.” Como dito, uma boa conversa sobre desenhos pode abrir espaço para o diálogo e facilitar a entrada no mundo do imaginário infantil. Essa interação se torna algo lúdico e facilita a intimidade e a conectividade entre pais e filhos”, alerta Renata Bento.