O que está mudando no tratamento do diabetes?

O que está mudando no tratamento do diabetes?



O diabetes faz parte da vida de 15,7 milhões de adultos e 92,3 mil crianças e adolescentes no Brasil, segundo a Federação Internacional de Diabetes.
Administração de insulina, medição de glicose, uso de comprimidos, rotina alimentar equilibrada, prática regular de exercícios, sono reparador e muita informação são algumas das ações que todas as pessoas que convivem com a doença devem adotar diariamente, faça chuva ou faça sol.

Mas, com o desenvolvimento científico e tecnológico, o que está a mudar na abordagem do problema que faz com que o açúcar disparar em circulação silenciosamente, levando a complicações a longo prazo, como problemas cardiovasculares, cegueira e insuficiência renal?

Diabetes tipo 1

O diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. Sem insulina, a glicose não pode ser alocada nas células para gerar energia e permanece no sangue. A doença autoimune é geralmente diagnosticada na infância e juventude e a base do tratamento são múltiplas injeções diárias de insulina.

Uma importante linha de pesquisa é a implante de ilhotas (grupo de células do pâncreas que produz insulina, entre outros hormônios) encerrado em uma cápsula que impede o sistema imunológico de atacar essas células. Este implante, que pode ser colocado na pele, no músculo da barriga, no fígado ou em outras partes do corpo, funcionaria como um “minipâncreas”, detectando os níveis de glicose no sangue e produzindo insulina de acordo com as necessidades.

Outra evolução é a transplante de ilhotasem que são geneticamente modificados para que o sistema imunológico não tente destruí-los e, portanto, não precisam ser embrulhados em cápsulas.

A origem destas ilhotas pode ser células-tronco células embrionárias ou células maduras do próprio paciente que são induzidas a se tornarem embrionárias e depois manipuladas em laboratório.

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Outra linha promissora é bloqueando autoimunidade ainda na fase pré-clínica do diabetes tipo 1, antes mesmo de a glicemia subir acentuadamente. O estudo PRE1BRAZIL, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, testa um medicamento oral chamado alogliptina como intervenção que busca interromper ou retardar o aparecimento da doença.

Diabetes tipo 2

O diabetes tipo 2 é um dos mais herança genética e relacionado a sobrepesoespecialmente na região abdominal. Geralmente é acompanhada de outras condições crônicas, como hipertensão, fígado gorduroso, colesterol e triglicerídeos alterados, apneia do sono, etc.

A principal mudança de paradigma é tratar o diabetes tipo 2 com base em redução do peso corporal do paciente. Reduções em torno de 15% são capazes de aproximar os níveis de glicose no sangue aos de pessoas normais (mas que fique claro que isso não é uma cura).

Com o desenvolvimento de medicamentos baseados em semaglutida e tirzepatida, alcançamos resultados nunca antes experimentados pela classe médica e pelos pacientes, tanto na prevenção do diabetes em pessoas com pré-diabetes, como também no controle da glicose.

Além disso, estes medicamentos que emulam hormonas produzidas no intestino demonstraram benefícios em condições que andam de mãos dadas com a diabetes, tais como apneia do sono, insuficiência cardíaca, esteatose hepática, hipertensão, insuficiência renal e até osteoartrite nos joelhos.

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Como você pode imaginar, com todos esses efeitos, os estudos também apontam para uma redução no risco de eventos cardiovasculares ccomo ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca.

Mas engana-se quem pensa que a notícia termina com semaglutida e tirzepatida. Estudos com outras moléculas combinadas estão em andamento com resultados nunca antes imaginados. É o caso dos medicamentos retatruda (que tem ação nos receptores GLP-1, GIP e glucagon) e Cagrisema (que atua nos receptores GLP-1 e amilina).

Em meio a tantas notícias, porém, uma coisa nunca muda: a necessidade de todos nós, com diabetes ou não, mantermos hábitos de vida saudáveis, com alimentação balanceada, prática regular de exercícios, boas noites de sono… A tecnologia avança , o autocuidado permanece.

* Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto, coordenador do Endodebate e do portal Olhar da Saúde e colunista de VEJA SAÚDE

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