Uma redução global de infecções e mortes, prevenção e tratamentos eficazes… a luta contra VIH e SIDA avança, embora o fim da epidemia continue a ser um objectivo distante.
Este é o panorama antes do Dia Mundial da AIDSque acontece no próximo domingo (1º).
– A infecção regride –
Durante a década de 2010, o número de novas infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) caiu um quinto em todo o mundo, segundo um extenso relatório publicado nesta terça-feira (26) no The Lancet HIV.
As mortes, geralmente causadas por doenças oportunistas quando a SIDA se manifesta na fase final da infecção, foram reduzidas em cerca de 40%, ficando claramente abaixo de um milhão por ano.
Esta tendência deve-se principalmente a uma melhoria notável na África Subsariana, a região do mundo mais afectada pela epidemia da SIDA.
Contudo, o quadro continua a ser desigual, à medida que as infecções aumentam noutras regiões, como o Médio Oriente e a Europa Oriental. Ainda estamos longe dos objectivos da ONU, que visam erradicar quase completamente a epidemia até 2030.
– Ferramentas eficazes –
Um ponto sobre o qual os especialistas em VIH concordam é a importância dos tratamentos preventivos, conhecidos como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), que se tornaram ferramentas cruciais no combate à epidemia.
Estes tratamentos, realizados por pessoas não infectadas mas com comportamentos considerados de risco, são altamente eficazes na prevenção da infecção.
Por isso, os especialistas defendem sua expansão. Em França, por exemplo, as autoridades de saúde incluíram a PrEP como eixo central nas suas novas recomendações: não deve mais ser reservada exclusivamente a homens que têm relações homossexuais.
Para as pessoas já infectadas, os tratamentos são cada vez mais eficazes e convenientes, sobretudo porque são menos frequentes.
– Os obstáculos persistem –
Apesar dos avanços, a implementação de tratamentos, tanto preventivos como curativos, enfrenta inúmeros desafios. É o caso dos países pobres, como os do continente africano, onde o custo dos medicamentos continua a ser um problema.
Um caso polêmico gerou debate nos últimos meses.
O laboratório Gilead desenvolveu um medicamento, o lenacapavir, que promete uma eficácia sem precedentes tanto na prevenção como no tratamento. Especialistas acreditam que isso pode significar uma mudança revolucionária, mas o custo é astronômico: US$ 40 mil por pessoa por ano (cerca de R$ 232 mil).
Sob pressão das associações que lideram a luta contra a SIDA, a Gilead anunciou no início de Outubro que permitiria a produção de versões genéricas de baixo custo deste tratamento nos países mais pobres.
Porém, as barreiras não são apenas financeiras, principalmente no caso de tratamentos preventivos. É também crucial combater o estigma associado ao seu uso, em países onde, por exemplo, a homossexualidade ainda é inaceitável.
“A implementação da PrEP em África enfrenta um desafio maior: fazer com que as pessoas de alto risco reconheçam que estão em risco”, resumiu um artigo na The Lancet Global Health em 2021.
O mesmo problema se aplica ao diagnóstico, que é especialmente importante porque muitas infecções são detectadas em estágio avançado, o que dificulta o tratamento.
– E as vacinas? –
Alguns aspectos recebem atenção mediática que pode ser desproporcional. É o caso da investigação de vacinas, que até agora não produziu resultados conclusivos.
Com a eficácia dos tratamentos preventivos, “não temos já, no fundo, uma vacina?”, questionou em outubro, durante uma conferência de imprensa, o infectologista Yazdan Yazdanpanah, diretor da ANRS, instituto francês pioneiro na luta contra AIDS.
Este especialista reconheceu, no entanto, que “a investigação sobre vacinas não deve parar”.
Outro avanço que não deve ser exagerado são os poucos casos de remissão observados nos últimos anos: menos de dez no total. Embora espetaculares, resultam de transplantes de células-tronco, operações arriscadas que só são viáveis em casos muito específicos.
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