O número de mortes por leptospirose relacionado a enchentes que afetam o estado desde o final de abril subiu para setesegundo novo boletim da Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Sul divulgado na noite desta quarta-feira, 29. O balanço do departamento informa que há 1.920 casos da doença e dez óbitos em investigação. Projeção do Ministério da Saúde indica que episódios de infecção causados pelo contato com água contaminada por urina de rato podem atingir 1,6 mil.
As duas vítimas eram dois homens de 59 e 56 anos, residentes em Canoas e Porto Alegre, que morreram nos dias 21 e 23 deste mês, respectivamente. As amostras que confirmaram a infecção foram analisadas pelo Laboratório Central do Estado (Lacen), localizado na capital, que divulgou os resultados nesta quarta-feira.
Segundo a secretaria, foram registrados outros incidentes de saúde relacionados às enchentes: um episódio de tétano acidental182 acidentes anti-rábicos, 28 acidentes com animais peçonhentos e cinco crises de diarreia aguda que resultou em 59 pessoas afetadas.
Mortes por leptospirose
A primeira morte por leptospirose relacionado às enchentes no Rio Grande do Sul foi confirmado na noite do dia 20 pela Secretaria de Estado de Saúde. O paciente era um homem de 67 anos, morador do município de Travesseiro, região do Vale do Taquari, que apresentou os primeiros sintomas no dia 9 e faleceu no dia 17.
A doença já circula no território gaúcho e, desde o início do ano até 19 de abril, informa 129 casos e seis mortes. No ano passado, foram 477 registros e 25 mortes.
Entenda a leptospirose
Causada por bactérias leptospira, a leptospirose é causada pelo contato direto com a urina de animais infectados ou com água ou lama contaminada, como ocorre nas enchentes. Você Os sintomas costumam aparecer entre cinco e 14 dias após a contaminaçãomas pode se manifestar em um período de até 30 dias.
Uma pessoa deve procurar atendimento médico ao apresentar sintomas como febre, dores no corpo e de cabeça, fraqueza e calafrios. No caso de dor, é importante ficar atento principalmente se ela atingir o nível de panturrilhapopularmente chamada de “batata perna”.
Ó O tratamento geralmente é feito com antibióticos, mas se o caso piorar, a internação é indicada para evitar complicações. Segundo o Ministério da Saúde, em episódios mais graves, o risco de morte pode chegar a 40%.
Cuidados para evitar a doença
Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), mesmo quando o nível da água baixar, será necessário adotar medidas de proteção em locais que foram afetados por enchentes, principalmente na hora de limpá-los. Isso ocorre porque o bactéria lepstopira pode viver cerca de seis meses no meio ambiente.
A recomendação é usar botas e roupas impermeáveis, além de luvas. Recomenda-se também evitar o contato com água presa em áreas alagadas.
“A bactéria pode penetrar no corpo através da pele ou de mucosas como nariz e boca, facilitando a propagação da doença”, afirmou André Doi, patologista clínico e diretor científico da entidade, em comunicado.
Para desinfecção de ambientes, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Sul recomenda o uso de água sanitária (hipoclorito de sódio 2,5%) na proporção de um copo de água sanitária para um balde de 20 litros de água.
“Outras medidas de prevenção são manter os alimentos armazenados em recipientes bem fechados, manter a cozinha limpa e sem resíduos de alimentos, retirar restos de comida ou ração de animais antes de escurecer, manter o terreno limpo e evitar detritos e acúmulo de objetos nos quintais ajudam a evitar a presença de roedores” , ele adiciona.
Inundações e outras doenças
A situação crítica do Estado abre espaço para outras infecções e proliferação de doenças. Além da leptospirose, episódios de hepatite A, diarreia, tétano, febre tifóide, tétano, cólera e vermes podem afetar a população afetada.
Assim como a água, os alimentos podem ser responsáveis por infecções. “Não consumir alimentos que tenham tido contato com água de enchentes ou lama, inclusive alimentos embalados, enlatados ou perecíveis, como frutas e verduras”, alertou o Ministério da Saúde em nota.
Guias aconselham sobre doenças causadas por tragédias climáticas
Doença causada pelo contato com água contaminada por urina animalprincipalmente ratos, infectados com uma bactéria, o leptospirose está entre as principais preocupações de especialistas em saúde pública. Dada a gama de doenças que podem afetar a população, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou guias em parceria com outras entidades médicas com orientações sobre como prevenir infecções em desastres climáticos e também em abrigos.
No guia de manejo há explicações detalhadas sobre doenças que podem ser transmitidas pela água contaminada, como cólera, hepatite A e leptospirosedoenças respiratórias e também condições causadas por vetores, como dengue e febre amarela.
O documento foi elaborado por meio de uma força-tarefa que envolveu representantes de entidades médicas do Rio Grande do Sul, que mapearam os principais riscos em situações de grandes enchentes, incluindo acidentes com animais peçonhentos e materiais perfurocortantes — este último pode levar a casos de tétano.
“Havia uma clara falta de orientações técnicas, e havia muitas doenças que poderiam afetar potencialmente a população do Rio Grande do Sul, especialmente aqueles mais expostos ao risco: socorristas e pessoas resgatadas”, diz trecho do documento assinado por Alessandro Comarú Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, e Fabrizio Motta, chefe do Departamento de Controle de Infecções e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre.
Outro guia traz recomendações sobre higiene de roupas e abrigos como um todo, medidas de segurança alimentar e doenças que tendem a causar surtos em locais de concentração de moradores de rua, como pneumonia, tuberculose, diarreia e problemas que afetam a pele e o couro cabeludo, como infestações por piolhos e outros parasitas.
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