Conhecido por celebrar o amor, o Dia dos Namorados também pode servir como um momento para refletir sobre a saúde dos relacionamentos. Identificar diferentes formas de abuso pode ser difícil, pois muitas vezes as atitudes são camufladas sob o disfarce de carinho, cuidado e preocupação. O psiquiatra e professor de medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Lucas Benevides, alerta: ciúme, afastamento de amigos e familiares, críticas constantes, explosões de raiva e manipulação emocional podem ser sinais de abuso nos relacionamentos.
Segundo a psiquiatra, nas relações conjugais, os abusadores geralmente apresentam uma série de características que inspiram o cuidado, como tendência ao controle, ciúme, sentimento de posse, impulsividade e animosidade. “Essas pessoas costumam ter capacidade de manipulação e desonestidade, além de baixa capacidade de lidar com a frustração, criando um ambiente de intimidação e violência emocional ou física na maioria das vezes”, explica.
Alguns transtornos mentais podem estar associados a comportamentos abusivos na vida do casal, incluindo transtorno de personalidade antissocial, transtorno de personalidade narcisista e transtorno de personalidade borderline. “Esses transtornos podem influenciar a dinâmica do relacionamento, contribuindo para um ciclo de abusos e violência”, pondera o professor do CEUB.
Enquanto as pessoas com transtorno anti-social tendem a agir impulsivamente e a buscar controle e manipulação, aquelas com transtorno narcisista são movidas por uma necessidade constante de admiração e um sentimento de grandeza. “Esses comportamentos podem se tornar abusivos, especialmente quando suas expectativas não são atendidas pelo parceiro”.
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Outro fator de alerta é um histórico familiar violento. Lucas Benevides relata que crianças que crescem em lares abusivos podem ver esses comportamentos como normais ou eficazes, replicando-os em seus próprios relacionamentos ao longo da vida. “As pessoas aprendem por imitação, e a exposição contínua a comportamentos violentos pode moldar a percepção de que é aceitável”.
Muito comum nos tempos atuais, o estresse também pode trazer tensão aos romances. “O estresse pode reduzir a capacidade de lidar com frustrações e aumentar a irritabilidade”, explica Lucas Benevides. Geralmente, para aliviar o estresse, as pessoas utilizam substâncias como álcool e outras drogas, que podem reduzir inibições e aumentar a agressividade, a depressão e a ansiedade, intensificando sentimentos de inadequação e frustração dentro de qualquer relacionamento.
Para acabar com o abuso
“O tratamento dos abusadores difere do tratamento das vítimas de abuso, sendo fundamental a adaptação às necessidades de cada pessoa para interromper o ciclo de violência”, enfatiza o especialista. O foco dos abusadores é modificar comportamentos e atitudes abusivas, controlar a raiva e desenvolver a empatia, enquanto o tratamento às vítimas consiste em fornecer apoio emocional, fortalecimento da autoestima, estratégias de segurança e intervenções para traumas e dependência emocional.
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Para tratar o transgressor, o professor elenca abordagens terapêuticas eficazes: terapia cognitivo-comportamental, programas de intervenção que abordam questões de controle e agressividade, terapia individual para lidar com traumas e inseguranças, além de terapia familiar para abordar dinâmicas familiares disfuncionais. “A mudança comportamental deve ser acompanhada pelo desenvolvimento da empatia e do controle da raiva. Em casos de transtornos com falta de controle dos impulsos e risco de violência, podem ser usados medicamentos ansiolíticos e estabilizadores de humor.”
Como a baixa autoestima e a dependência emocional levam a vítima a se sentir incapaz de sair do relacionamento, a ajuda profissional, com terapia e medicamentos, pode ser uma saída. “A dependência emocional dificulta que a vítima reconheça sua própria autonomia e valor, mantendo-a presa ao relacionamento abusivo”. A especialista em saúde mental recomenda estratégias familiares e de redes de apoio para ajudar pessoas em relacionamentos abusivos: oferecer escuta empática, informar sobre os recursos disponíveis, ajudar a criar um plano de segurança e evitar julgamentos, respeitando o ritmo da pessoa.
Mulheres como alvos
A maioria das vítimas de relacionamentos abusivos são mulheres. Segundo dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 32,6% das mulheres brasileiras foram vítimas de violência psicológica, com insultos, humilhações e insultos proferidos repetidamente (21 milhões). O relatório aponta ainda que 24,5% sofrem ataques físicos (15,7 milhões) e 21,1% relataram ter relações sexuais sem consentimento (13,6 milhões).
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