Nos últimos anos, pesquisadores da saúde em todo o mundo têm concentrado esforços na compreensão dos desfechos negativos na população negra, historicamente à margem das políticas públicas e vítima de negligência em relação a sintomas considerados alerta em outros grupos. Essa vulnerabilidade está presente na nova análise do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), referência brasileira no assunto, que apontou que a taxa de mortes atribuível a consumo de bebidas alcoólicas é 30% maior entre pretos e pardos. o relatório foi lançado nesta sexta-feira, 30, como um alerta sobre as desigualdades no apoio a quem faz uso prejudicial do álcool.
A pesquisa considerou dados referentes ao ano de 2022, retirados das bases de informações do Ministério da Saúde e do IBGE, que indicavam que a população negra tinha uma taxa de 10,4 mortes inteiramente atribuíveis ao álcool por 100 mil habitantes. Entre os brancos, o índice foi de 7,9, 30% menor.
Em termos de género, a situação é mais grave. O a taxa de mortalidade foi de 2,2 para mulheres negras e 3,2 para marrons em comparação com 1,4 entre os brancos. “Ao analisar os dados de mortes por uso de álcool no país, constata-se que os impactos do uso nocivo dessa substância são desiguais para brancos, negros e pardos, especialmente na população feminina”, resume, em comunicado , o psiquiatra e presidente do CISA, Arthur Guerra.
As descobertas não significam que negros e pardos bebam mais. A análise considerou o marcador de consumo nocivo de bebidas alcoólicas e assim constatou as disparidades. O que impacta essas populações é a desigualdade racial o que leva a um acesso limitado aos tratamentos.
Doutora em sociologia e coordenadora do CISA, Mariana Thibes explica, em nota, os principais gargalos. “As pessoas negras encontram-se em situação de maior vulnerabilidade social devido a diversos fatores, especialmente o racismo e a pobreza, que dificultam o acesso a uma vida digna em geral, impactando, por exemplo, o acesso a serviços de saúde de qualidade, fundamentais para o tratamento do álcool transtornos de uso.”
Necessidade de políticas dirigidas aos mais vulneráveis
Num cenário de desigualdade que leva à perda de vidas, além de todas as consequências nefastas para saúde física e mental daqueles que abusam do álcool, é necessário estabelecer políticas públicas voltadas para aqueles que mais necessitam.
Portanto, é importante conscientizar sobre o abuso do álcool e seus impactos na saúde da população negra e parda, bem como promover inclusão e diversidade nos serviços de saúde mental para garantir que todos tenham acesso igual a cuidados de qualidade.
Para serem mais eficazes, as campanhas sobre os danos causados pela dependência do álcool devem considerar a realidade do público-alvo. “É fundamental adotar uma abordagem interseccional e inclusiva, considerando as especificidades e necessidades destas comunidades com estratégias que incluam a representatividade e o combate ao racismo e à discriminação”, afirma Mariana.
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