O caso da criança de nove anos que matou 23 animais de pequeno porte ao invadir uma clínica veterinária em Nova Fátima, no norte do estado do Paraná, levanta sérias questões sobre o comportamento infantil, especialmente relacionado à crueldade contra animais. A Polícia Civil do Paraná (PCPR) informou nesta terça-feira (15/10) que o ocorrido não tem “implicações criminais”. O massacre do animal ocorreu no último domingo (13/10), e o menino teria visitado o local na véspera, Dia das Crianças.
O veterinário responsável pela denúncia entrou em contato com as autoridades ao identificar, logo pela manhã, uma cena chocante: mais de 15 coelhos estavam mortos e outros animais haviam sido soltos. As imagens captadas pelas câmeras de segurança do local mostraram que uma criança, acompanhada de um cachorro, invadiu o espaço por volta das 22h. Nesse período, os animais foram maltratados brutalmente, alguns jogados contra paredes e outros mutilados.
A criança, que mora com a avó e até então não tinha histórico de comportamento violento, havia participado da festa de inauguração da fazenda do hospital um dia antes do ataque.
Comportamentos violentos como esse podem ser precursores de transtornos psicológicos mais graves, como o transtorno de conduta, amplamente discutido nas pesquisas sobre desenvolvimento infantil. Estudos mostram que a crueldade contra os animais na infância está frequentemente associada a:
- Problemas emocionais não resolvidos
- Negligência
- Abuso
- Exposição à violência doméstica
“A psicologia do desenvolvimento destaca que embora não haja histórico prévio de comportamento violento no caso desta criança, o ato extremo indica uma necessidade urgente de intervenção. Crianças que apresentam comportamento violento, especialmente envolvendo crueldade com animais, podem estar expressando emoções ou traumas que não conseguem verbalizar “, explica Vitor Friary, psicólogo e mestre em psicologia pela London Metropolitan University.
Segundo a especialista, o comportamento é comum em ambientes onde a criança pode estar exposta a negligência emocional ou violência. Nestes casos, a intervenção psicológica precisa ser imediata e o foco deve estar no tratamento não só da prática, mas também das causas subjacentes.
Além disso, Vitor destaca que, apesar da gravidade, as crianças dessa idade ainda estão em fase de desenvolvimento emocional e moral. “Com um acompanhamento adequado é possível prevenir a progressão para comportamentos mais graves na adolescência ou na idade adulta. Este tipo de intervenção envolve psicoterapia, desenvolvimento de competências emocionais e uma análise aprofundada do ambiente familiar, escolar e social em que a criança está inserido.”
Casos como este destacam a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento do comportamento violento infantil, combinando psicologia, assistência social e, quando necessário, intervenção psiquiátrica.
*Estagiário sob supervisão da editora Ellen Cristie.
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