Ingestão de veneno matou quase 2.500 pessoas no Brasil desde 2019 – Jornal Estado de Minas

Ingestão de veneno matou quase 2.500 pessoas no Brasil desde 2019 – Jornal Estado de Minas



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em seis anos, 2.347 pessoas morreram por causa intoxicação por substâncias que são utilizadas na composição do chumbinho e de outros agrotóxicos no Brasil. Os dados, de 2019, são do Ministério da Saúde.

Maria da Silva, 32, e os filhos Igno Davi da Silva, 1, e Lauane da Silva, 3, e Manoel Leandro da Silva, 18, morreram envenenados em Parnaíba, Piauí, após ingerirem terbufós, composto químico presente em pellets, encontrados nos alimentos consumidos pela família no dia 1º.

O chumbinho é um produto clandestino, de venda proibida, utilizado como rodenticida.

O veneno tem esse nome porque geralmente é vendido clandestinamente em formato granulado cinza escuro ou grafite (como se fosse chumbo).

Em geral, diz a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), são venenos agrícolas (agrotóxicos) de uso exclusivo em lavouras como inseticidas, acaricidas ou nematicidas, desviados do campo para os grandes centros.

As mortes registadas desde 2019, afirma o Ministério da Saúde, estão relacionadas com a ingestão de substâncias como o chumbinho e outros pesticidas, incluindo carbamatos e organofosforados.

Após a alta em 2022 – com 482 casos, foi o ano com mais óbitos no período comparado – o número de óbitos caiu duas vezes seguidas e em 2024 foram 168 registros.

José Luiz da Costa, coordenador do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz acreditar que o número deve ser ainda maior, pois há subnotificação.

“Existem muito poucos hospitais capazes de notificar a substância [que provocou a morte]. Os sintomas do paciente geralmente são relatados”, afirma. A maioria dos casos são suicídios, afirma.

Os suicídios respondem por 80% dos casos que chegam ao Ciatox de pessoas que morreram por intoxicação.

A ingestão de pellets apresenta alto grau de letalidade, pois os agrotóxicos envolvidos em sua composição são muito tóxicos. Varia dependendo da quantidade ingerida.

Em 15 a 20 minutos os sintomas podem começar a ser sentidos e a vítima deve ser levada imediatamente ao pronto-socorro, orienta o médico Carlos Roberto Naufel Junior, especialista em cirurgia e endoscopia digestiva e professor da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, com experiência em casos de envenenamento.

Entre os sintomas mais comuns estão corrimento pela boca, alterações nos olhos, dores abdominais, vômitos, diarreia ?inclusive com sangue? queda de pressão e tosse.

Mas a pessoa envenenada também pode apresentar visão turva, miose (contração da pupila), hipersecreção brônquica, dor abdominal e tremores.

No caso do Piauí, as vítimas deram entrada no hospital de Parnaíba com fortes dores abdominais e diarreia.

Efeitos tardios, como arritmia cardíaca, ainda podem ocorrer 72 horas após a ingestão do veneno.

Francisca, por exemplo, morreu na madrugada desta terça-feira (7), uma semana após ser envenenada.

No total, segundo a polícia, sete pessoas foram hospitalizadas. Apenas uma filha de Francisca, de 4 anos, permanece internada na UTI do Hospital de Urgência de Teresina.

Além da hidratação, “o ideal é pelas veias”. Em muitos casos, o paciente pode ser intubado, respirar com ventilação mecânica e usar sonda no estômago para tentar aliviar a intoxicação.

“O Chombinho é usado como inseticida na agricultura e também há intoxicações crônicas de trabalhadores do agronegócio que não utilizam equipamentos de proteção”, afirma o médico.

Segundo a Anvisa, por se tratar de um produto clandestino, os pellets geralmente não possuem rótulo com orientações de manuseio e segurança, nem descrição do princípio ativo ou menção de antídotos em caso de intoxicação. “O que é fundamental para a orientação do profissional de saúde”, afirma.

Segundo o delegado Abimael Silva, da Delegacia de Homicídios de Parnaíba, o veneno foi colocado no arroz servido à família no dia 1º de janeiro.

A Polícia Civil do Piauí prendeu Francisco de Assis Pereira da Costa, 53, na manhã desta quarta-feira (8), sob suspeita de envenenamento de oito pessoas, entre familiares e vizinhos.

O delegado afirmou, durante conferência de imprensa esta quarta-feira, que se tratou de um crime de ódio, devido à relação tumultuada que o recluso mantinha com a enteada, mãe das crianças, e com os moradores da casa. Onze pessoas moravam lá.

O suspeito disse que é inocente e afirmou que “Deus mostrará quem é o culpado”.



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