O medicamento é uma das áreas do conhecimento que mais avanços tem experimentado com a aplicação de tecnologias ligadas à Inteligência Artificial (IA). Podemos falar, sem exagero, de revolução quando analisamos os ganhos de eficiência em diagnóstico, terapia, pesquisa, administração hospitalar e a redução de custos que isso proporciona.
Segundo diversos estudos, o uso da IA para detectar precocemente doenças como o câncer, além de aumentar as chances de cura, pode reduzir em até 20% os custos do tratamento. Os tempos de desenvolvimento de medicamentos aceleraram significativamente quando impulsionados pela IA: são necessários 3 a 5 anos com a tecnologia e, sem ela, 10 a 15 anos. A velocidade, é claro, significa até 70% menos despesas com pesquisa e desenvolvimento.
A IA tem sido utilizada com sucesso na monitorização remota e na telemedicina, reduzindo as visitas hospitalares em até 25%, o que se traduz num ganho económico significativo. Isto é especialmente relevante quando se cuida de pacientes que sofrem de doenças crónicas e necessitam de monitorização contínua.
Um relatório recente publicado pelo Fórum Económico Mundial que mostra como a IA está a transformar os sistemas de saúde, destaca exemplos da Clínica Mayo nos Estados Unidos, um dos centros médicos mais respeitados do mundo. Mayo trabalha com tecnologia digital em diversas frentes com grande sucesso. Um deles, pelo seu enorme potencial, chamou-me a atenção.
Com a ajuda da IA, Mayo estruturou um poderoso banco de dados regionalizado, recortado por cidades, bairros ou setores específicos de uma metrópole, por exemplo. A ferramenta lista índices públicos como condições de moradia, poluição, estatísticas de criminalidade, acesso da população a equipamentos de saúde, entre outros números. O cruzamento de dados fornece indícios robustos de problemas de saúde que podem ser mais recorrentes naquela comunidade, permitindo um trabalho preventivo, tornando as políticas públicas de saúde mais eficientes.
Na minha opinião, esta é uma das grandes vocações da IA quando aplicada à medicina: personalizar abordagens terapêuticas tendo em mente os cuidados de saúde primários. O que é crucial, uma vez que existe um fosso crescente entre a procura e a necessidade de assistência. Hoje, temos 4,5 mil milhões de pessoas no mundo sem acesso a serviços ou produtos médicos e três principais vetores com grande impacto no ecossistema da saúde: a obesidade, o tabagismo e o sedentarismo.
A primeira, uma verdadeira pandemia planetária, aumenta o risco de doenças crónicas como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardíacas, necessitando de tratamento médico constante e prolongado. No final das contas, este fardo representa 2% a 7% do total das despesas de saúde nos países desenvolvidos. As doenças relacionadas com o tabagismo representam 6 a 15% dos gastos com saúde em muitos países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também aponta o sedentarismo como uma das principais causas de morte no mundo, com 5 milhões de mortes por ano.
Combinando e processando dados de saúde pública, ambientais e socioeconómicos, entre outros, como no exemplo da Clínica Mayo, a IA ajuda a modelar estratégias para combater esta verdadeira tríade do mal. No Brasil, dadas as necessidades que enfrentamos e a crescente pressão de custos que assola os serviços de saúde públicos e privados, a IA, assim como outras tecnologias digitais, pode desempenhar um papel central na definição de ações de prevenção, conferindo-lhes mais eficácia.
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