Estudo recente realizado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que 45,78% dos adolescentes mineiros afirmaram que já resistiram, tiveram medo ou duvidaram se deveriam ser vacinados contra o papilomavírus humano ( HPV). O imunizante está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde para algumas indicações, e é uma das principais formas de prevenção ao câncer de colo de útero, cujas ações de combate ganham destaque neste primeiro mês do ano, na Campanha Janeiro Verde.
Ainda segundo a pesquisa, 21,33% dos entrevistados já se recusaram a administrar as doses e 55,21% dos entrevistados nem sabem da vacina. Os resultados foram obtidos por pesquisadores do Observatório de Pesquisas e Estudos em Vacinação (Opesv), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A investigação foi realizada com 922 crianças e adolescentes, entre 9 e 19 anos.
Os percentuais descobertos na pesquisa assustam a oncologista Daniella Pimenta, principalmente porque a infecção pelo vírus HPV está associada a cerca de 90% dos casos de tumores no colo do útero. “A infecção por esse vírus gera mutações no DNA das células da região e, ao longo de 10 a 15 anos, elas [as células] se reproduzem de forma atípica, contribuindo para a formação do câncer.” Segundo o médico, a vacinação é a melhor forma de prevenir a neoplasia. “Estamos diante de um tipo de tumor que poderia ser melhor controlado com a vacinação precoce”, destaca.
Ainda segundo Daniella, o imunizante contra o papilomavírus humano faz parte do calendário nacional de vacinação do Ministério da Saúde. São elegíveis à vacinação: vítimas de violência sexual e pessoas de 9 e 14 anos, que devem receber duas doses com intervalo de seis meses entre elas. Quem vive com HIV/Aids, fez transplante ou está em tratamento oncológico, é vacinado com três doses, com intervalo de dois meses entre cada aplicação. Nestes casos, a vacina está autorizada para homens e mulheres de 15 a 45 anos.
Outro método de combate ao câncer de colo de útero, segundo Daniella Pimenta, é a realização do exame citopatológico, também chamado de preventivo ou Papanicolaou, recomendado para mulheres de 25 a 64 anos que já iniciaram a atividade sexual. Isso pode incluir homens trans e pessoas não binárias designadas como mulheres ao nascer.
Devido à longa evolução da doença, o exame poderá ser realizado a cada três anos nos casos de 2 exames consecutivos sem alterações. “Ele [o Papanicolau] É a principal forma de detectar alterações nas células do colo do útero que possam ser um indício da presença de lesões precursoras de neoplasia ou do próprio câncer”, explica. O exame, que consiste na coleta de material da região para análise em laboratório, pode ser realizado em centros de saúde públicos e privados ou em unidades que tenham profissionais capacitados. Ao ser examinada, é recomendado que a mulher não esteja menstruada ou tenha tido relações sexuais ou usado duchas vaginais e lubrificantes nas últimas 24 horas.
Caso o exame de Papanicolau detecte células anormais no colo do útero, é necessária a realização de uma biópsia, com a retirada de uma pequena amostra de tecido para análise ao microscópio por um médico especialista.
Sintomas de câncer cervical
Daniella explica que os principais sintomas do câncer de colo de útero geralmente incluem: sangramento vaginal anormal, dores na região, corrimento fétido e dispareunia – dor genital que ocorre durante a relação sexual, entre outros. “Vale ressaltar, porém, que a doença é silenciosa no início e esses sinais aparecem em fases mais avançadas”, alerta o médico. O oncologista destaca ainda que diagnósticos na fase inicial têm quase 100% de chance de cura.
O tratamento vai depender do estadiamento (estágio do tumor no momento do diagnóstico) e de fatores pessoais, como idade do paciente e desejo de ter filhos. “As lesões iniciais são tratadas por ginecologista, ginecologista-oncologista ou por cirurgia oncológica com retirada do tumor. Temos também a possibilidade de realizar quimioterapia combinada com radioterapia com ou sem tratamentos adicionais ou tratamentos com quimioterapia e outras medicações combinadas em cenários mais avançados da doença. A novidade é que, hoje, a imunoterapia se tornou uma opção tanto para os estágios iniciais quanto avançados da doença, proporcionando melhores resultados. Esse método terapêutico estimula o sistema imunológico a combater as células cancerígenas, potencializando o tratamento do câncer”, explica o especialista.
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