Estudo realizado com 92 mulheres idosas e em situações de vulnerabilidade socioeconômica comparou a eficácia de diferentes programas de exercícios comunitários de baixo custo na melhoria e/ou manutenção de diversos parâmetros cardiovasculares e funcionais, como circunferência da cintura, pressão arterial e, sobretudo, rigidez arterial – fator de risco para aterosclerose.
Os resultados, publicados em Jornal Europeu de Cardiologia Preventivaindicam que a combinação de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) com fortalecimento muscular foi a opção com mais benefícios à saúde.
Composto por sequências rápidas de exercícios muito intensos intercalados com curtos períodos de descanso, o HIIT proporciona estímulos que trabalham todo o corpo, executado no menor tempo possível. Esse tipo de treinamento é utilizado há décadas por atletas de alto rendimento e virou febre nos últimos anos, principalmente por oferecer sessões mais curtas e sem a necessidade de equipamentos.
Os demais protocolos testados na pesquisa foram o fortalecimento muscular praticado isoladamente ou associado ao treinamento aeróbico moderado. O trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (FC-Unesp), campus Bauru.
Os diferentes programas foram praticados pelos voluntários duas vezes por semana, durante nove meses, em centros comunitários de convivência para idosos. Os parâmetros de saúde dos participantes foram avaliados antes da primeira sessão de exercício, imediatamente após o término da intervenção e três meses após sua interrupção.
Em comparação, os dois programas de exercícios combinados (fortalecimento HIIT e fortalecimento aeróbico moderado) foram igualmente eficazes em redução da circunferência abdominal (diminuição de 3,3 centímetros em média) e esse benefício foi mantido após a interrupção do treinamento. No entanto, apenas o treino combinado envolvendo HIIT foi eficaz em diminuição da pressão arterial rigidez sistólica (7,9 milímetros de mercúrio – mmHg) e arterial (0,69 metros por segundo – m/s). A avaliação também mostrou que, nesse grupo, apenas a rigidez arterial permaneceu menor três meses após o término do treinamento.
Todos os programas de exercícios foram eficazes na melhoria do desempenho funcional, mas apenas o grupo que praticou HIIT combinado com fortalecimento muscular manteve, pelo menos parcialmente, melhorias funcionais (força de preensão manual, flexibilidade, força de membros inferiores e mobilidade) após o término. de treinamento.
“A falta de melhora nos parâmetros cardiovasculares nos grupos que realizaram apenas treinamento de força ou treinamento de força associado a exercícios aeróbicos de intensidade moderada sugere que o HIIT foi responsável pela melhora da pressão arterial e da rigidez arterial. Essa superioridade do HIIT pode ser, pelo menos em parte, atribuída à constante necessidade de ajuste dos vasos sanguíneos durante o exercício intervalado”, avalia Emmanuel Ciolac, professor da FC-Unesp e coautor do artigo.
Durante exercícios de alta intensidade, a frequência cardíaca e o volume sistólico (quantidade de sangue que sai do coração a cada batimento) aumentam, explica o pesquisador. Geralmente esse aumento é proporcional à intensidade do exercício e, consequentemente, artérias e vasos menores precisam se ajustar (vasodilatação) para receberem o maior fluxo sanguíneo. Da mesma forma, no período menos intenso do treinamento intervalado, também chamado de recuperação, há redução da vasodilatação para se ajustar ao menor volume de sangue que sai do coração.
“Nossa hipótese é que o principal mecanismo da melhora da rigidez arterial esteja associado à necessidade constante de ajuste dos vasos, produzindo mais ou menos substâncias vasodilatadoras, durante períodos de alta intensidade e recuperação do exercício intervalado”, afirma o pesquisador ao Agência Fapesp.
Programa de exercícios de baixo custo
É importante destacar que as mulheres idosas e de baixa renda constituem um dos grupos mais vulneráveis para doenças cardiovasculares. Portanto, os autores acreditam que os resultados do estudo indicando benefícios de uma programa de exercícios de baixo custopode ter impactos importantes no bem-estar desta população e na formulação de políticas públicas para prevenção e redução de doenças cardiovasculares.
“Esperávamos que o treino combinado de HIIT e fortalecimento muscular trouxesse mais benefícios cardiovasculares, pois temos realizado estudos semelhantes nos últimos dez anos com outras populações de risco [obesos e diabéticos, por exemplo] e esta combinação sempre se mostrou muito benéfica para os parâmetros cardiovasculares e metabólicos. Mas o que mais nos surpreendeu foi a manutenção da melhora da rigidez arterial mesmo após três meses de interrupção dos treinos. Pode-se dizer que o treino reduziu o envelhecimento vascular dessas mulheres”, destaca a pesquisadora.
Como explica Ciolac, a rigidez arterial tende a aumentar o risco de doenças cardiovasculares. “Uma redução de 7 mmHg na pressão sistólica é bastante substancial, pois reduz muito o risco dessas mulheres sofrerem um evento cardíaco ou acidente vascular cerebral. A rigidez arterial é considerada o principal marcador do envelhecimento vascular e é uma variável muito importante para o próprio aumento da pressão sistólica”, explica.
O pesquisador ressalta que estudos anteriores de seu grupo mostraram que o HIIT não apresenta riscos para hipertensos, obesos, diabéticos ou populações clínicas em geral. “O único recomendado é fazer uma avaliação prévia para confirmar se o indivíduo não tem contraindicações para sua prática, como alto risco de infarto, por exemplo. Mas, no geral, é uma modalidade muito segura”, afirma Ciolac.
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