Excesso de gordura abdominal pode desencadear Alzheimer – Jornal Estado de Minas

Excesso de gordura abdominal pode desencadear Alzheimer – Jornal Estado de Minas



O excesso de gordura abdominal é motivo de preocupação para muitas pessoas, não só do ponto de vista estético, mas principalmente pelos seus impactos negativos à saúde. Os principais riscos associados incluem obesidade, resistência à insulina, níveis elevados de cortisol, entre outros. Um estudo liderado pelo professor associado de radiologia da Escola de Medicina da Universidade de Washington, Cyrus Raji, revelou uma associação desta condição com o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

A pesquisa indica que, à medida que a barriga da pessoa aumenta, o centro de memória do cérebro diminui e, com isso, proteínas relacionadas ao desenvolvimento da doença, como beta-amilóide e tau, podem aparecer e dar início aos primeiros passos do Alzheimer, em anos 40 e 50, muito antes de haver qualquer sinal de declínio cognitivo.

A endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora clínica do Atma Soma e fundadora do projeto Cérebro em Ação, que tem como foco a prevenção da doença, explica que ambas as proteínas são sinais precoces do progresso do cérebro em direção a um possível diagnóstico da doença.

“As placas amilóides geralmente aparecem primeiro, com emaranhados de tau chegando mais tarde, à medida que a doença progride. Quanto maior o volume dessas proteínas o cérebro retém, mais ele fica doente, apresentando redução do fluxo sanguíneo, sinais de atrofia ou perda de massa cinzenta no hipocampo, o que envolve a memória.”

Para o especialista, esta análise é importante, pois revelou uma relação entre o Alzheimer e o excesso de gordura abdominal, identificado antes do aparecimento dos primeiros sinais da doença. “Isso nos direciona a dar maior atenção à relevância de prevenir esse acúmulo, que pode ser uma poderosa ferramenta de combate ao quadro, além de outros fatores de prevenção que já se mostraram eficazes.”

Gordura visceral

Na primeira etapa do estudo, divulgada no ano passado, o professor Raji descobriu que a gordura visceral – do tipo abdominal profundo – estava ligada à inflamação e ao acúmulo de amiloide no cérebro de mais de 30 homens e mulheres com idades entre 40 e 50 anos. O tipo envolve os principais órgãos do corpo e difere da gordura subcutânea, responsável por 90% da gordura corporal.

Segundo a endocrinologista do Atma Soma, a gordura visceral pode ser medida por meio de exames como ressonância magnética abdominal, densitometria de corpo inteiro com medição de gordura corporal e bioimpedância. Ela esclarece que a maior parte do Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa reflete a gordura da pele e não a gordura visceral.

“Quanto mais gordura visceral uma pessoa tem, mais inflamado fica o corpo. E esse tipo de inflamação é muito mais grave do que a que ocorre na gordura subcutânea, pois recebe maior fluxo sanguíneo devido à sua localização próxima aos órgãos.”

Outro ponto de atenção nas pesquisas americanas foi a relação entre insulina e gordura visceral. “A substância, em dosagens elevadas, foi observada em pessoas com maior quantidade de gordura visceral, que é a mais anormal do ponto de vista metabólico e indutora de diabetes”, enfatiza Alessandra.

Alzheimer em todo o mundo

Estudos como este abrem novos horizontes para travar uma doença que afecta um número cada vez maior de pessoas – e numa idade mais precoce. Segundo dados da Alzheimer’s Disease International (ADI), a estimativa é que os casos da doença no mundo atinjam quase 75 milhões de pessoas em 2030 e 131,5 milhões em 2050, cujo aumento é atribuído, entre outros fatores, ao envelhecimento da população. população.

No Brasil, a projeção é que o número de pessoas com demência chegue a 2,78 milhões no final desta década e 5,5 milhões em 2050, segundo dados do Relatório Nacional sobre Demência, do Ministério da Saúde. Ainda segundo o levantamento, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais sofre da doença.

Para Alessandra Rascovski, ainda existe muita desinformação, preconceito e negligência em relação ao Alzheimer. Segundo a ADI, 80% das pessoas ainda acreditam erroneamente que a demência é apenas uma consequência natural do envelhecimento, ignorando o facto de ser uma condição médica grave e associada a um mau estilo de vida durante vários anos que antecedem o diagnóstico.

No Relatório Mundial de Alzheimer 2024 da ADI, a associação destaca também alguns avanços, como o facto de 58% das pessoas que participaram no inquérito reconhecerem que hábitos como uma alimentação equilibrada e exercício físico regular ajudam a reduzir o risco de desenvolver insanidade. “Controlar fatores de risco como hipertensão e diabetes pode prevenir mais de 40% dos casos”, aponta o médico.

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