Evangélicos também lutam contra o vício em pornografia – Jornal Estado de Minas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mundo enfrenta uma epidemia causada pelo vírus da pornografia, que atinge até líderes religiosos. Esta visão é compartilhada pelo pastor e teólogo Tim Chester, da Grace Church Boroughbridge, em North Yorkshire, Inglaterra. Em seu livro “Com Toda Pureza – Livres da Pornografia e da Masturbação” (Fiel Editora, 2021), ele explora como esse vício se espalhou de forma alarmante, impactando igrejas evangélicas em todo o mundo.

A tese de Chester encontra apoio numa pesquisa recente do Barna Institute, revelando que a maioria dos pastores americanos (57%) e pastores de jovens (64%) nos Estados Unidos admitem lutar contra o vício da pornografia. Intitulado “O Fenômeno Pornográfico – O Impacto da Pornografia na Era Digital”, o estudo é baseado em quase 3 mil entrevistas com adolescentes, adultos e líderes de igrejas protestantes nos EUA.

No Brasil, a situação não parece diferente. Em 2013, quando lancei meu livro “Entre a Cruz e o Arco-Íris”, sobre a homossexualidade nas igrejas, vários pastores compartilharam que uma das queixas mais comuns em seus consultórios era o vício em pornografia. Depois de mais de dez anos, a questão permanece: como as igrejas estão lidando hoje com este problema?

Mais do que uma questão moral, o “Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo” está listado na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse transtorno é caracterizado pela dificuldade persistente em controlar impulsos ou desejos sexuais intensos, levando a comportamentos repetitivos que prejudicam a vida diária, causam sofrimento emocional e afetam negativamente os relacionamentos e atividades sociais.

Os efeitos dessa compulsão foram relatados por um pastor durante reunião transmitida pelo YouTube, realizada em uma igreja de São Paulo. Em depoimento sincero, ele descreveu os danos causados ​​à sua vida emocional, conjugal e profissional. Nervoso, mas firme, ele compartilhou com um grupo terapêutico do tipo Alcoólicos Anônimos sua luta contra a pornografia e os sentimentos de culpa e auto-aversão que o acompanhavam desde a adolescência.

Para casos como os descritos na CID-11, a OMS recomenda o tratamento psicoterapêutico, que visa desenvolver o autocontrole, identificar e gerenciar gatilhos emocionais, além de estabelecer limites saudáveis ​​para o comportamento sexual. As reuniões em que os membros da igreja se reúnem para uma escuta acolhedora e sem julgamento exemplificam uma comunidade terapêutica onde a saúde mental e espiritual estão interligadas. Este apoio comunitário é uma forma eficaz de resolver um problema que, segundo o estudo Barna, constrange 87% dos pastores e causa medo de exposição em 55% deles.

Aprendi desde cedo que as igrejas são como hospitais – lugares onde vão aqueles que reconhecem sua doença em busca de cura. No entanto, muitos que sofrem de compulsões, incluindo pornografia, não reconhecem a sua própria vulnerabilidade, o que impede o tratamento. Como qualquer outro vício, segundo a Bíblia, a compulsão à pornografia é uma forma de escravidão, algo que nos rouba a liberdade. As igrejas precisam de se preparar para enfrentar esta “epidemia” com uma linguagem compassiva, direta e intencional.