SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um estudo experimental liderado por cientistas americanos e canadenses identificou um tratamento promissor para combater o glioblastoma, uma das formas mais agressivas de câncer no cérebro e que não tem cura. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature Medicine no dia 2.
Pesquisadores do Singh Lab da Universidade McMaster descobriram o caminho usado pelas células cancerosas para se infiltrar no cérebro. Com a terapia, a via de acesso foi bloqueada para evitar a propagação do glioblastoma e eliminar as partes do tumor que não podem ser removidas na cirurgia.
O estudo identificou que uma proteína, chamada ROBO1, atua como um “guia GPS” no corpo, onde as células tumorais são guiadas e aprendem o caminho para invadir o cérebro. O tratamento, portanto, tem como alvo essa proteína.
Três tipos diferentes de câncer foram testados com o tratamento, incluindo glioblastoma, metástase pulmonar no cérebro em adultos e um tipo de blastoma de medula óssea em crianças. Ao todo, a terapia duplicou o tempo de sobrevivência e em dois dos três tipos de doença, levou à erradicação do tumor em pelo menos 50% dos ratos.
“Se conseguirmos bloquear este caminho, a esperança é que possamos parar a propagação invasiva do glioblastoma e eliminar as células tumorais que não podem ser removidas cirurgicamente”, disse a co-autora Sheila Singh, professora do Departamento de Cirurgia de McMaster e diretora do Centro. para descobertas na pesquisa do câncer.
Os cientistas adotaram diferentes estratégias para bloquear a invasão das células cancerígenas. Entre eles, os pesquisadores desenvolveram uma nova terapia que utiliza células CAR-T, quando as células do sistema imunológico do paciente são modificadas, para evitar que o tumor chegue ao cérebro.
Com os resultados promissores do tratamento em animais, os autores do estudo afirmam que a terapia está pronta para ser desenvolvida em ensaios clínicos.
“No método CAR-T, as células de defesa, os linfócitos T, são modificadas em laboratório e reinjetadas no paciente. É como um treinamento. Os linfócitos são treinados para atacar as células cancerígenas”, diz João Vítor Gregório, oncologista com ênfase em tumores cerebrais da Rede D?Or.
Segundo o especialista, o tratamento contra o glioblastoma é o mesmo desde 2005: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. O principal objetivo do tratamento é aumentar a sobrevida do paciente e aliviar os sintomas do tumor, pois o câncer retorna mesmo após a remoção.
Desde 2020, porém, o conhecimento sobre a doença aumentou. Mas apesar dos resultados positivos do estudo, Gregório destaca que ainda se trata de uma pesquisa pré-clínica (ou seja, realizada em laboratório com animais, e que não foi testada em humanos) e apenas uma pequena parcela dos tratamentos estudados nesta fase. tornar-se medicação disponível. Para uso.
O CAR-T já é uma estratégia utilizada para tratar cânceres do sistema sanguíneo, como leucemia, linfoma e mieloma. Por enquanto, apenas alguns hospitais privados oferecem a terapia. O SUS (Sistema Único de Saúde) ainda não oferece tratamento.
A terapia está disponível gratuitamente apenas para pacientes que solicitam a participação no chamado uso compassivo, ou seja, quando não há outro método que possa ser utilizado e pelo menos dois tipos de terapias convencionais já foram realizadas sem remissão bem-sucedida.
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também assinou acordo com a organização americana Caring Cross, ainda em março deste ano, para transferência da tecnologia da terapia CAR-T no Brasil. A ideia é que o tratamento comece a ser disponibilizado pelo SUS entre o final de 2024 e o 1º semestre de 2025.
Ainda em março, o Ministério da Saúde informou a destinação de R$ 205,2 milhões para o desenvolvimento de pesquisas em terapia com células CAR-T em 12 instituições brasileiras, como Inca (Instituto Nacional do Câncer), USP (Universidade de São Paulo) e Albert Einstein Hospital.
Sobre o estudo, Hugo Sterman Neto, médico do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, pede cautela, porque ele só foi testado em animais e pode não levar a tratamento, e detalha que o próximo passo será desenvolver um estudo clínico de fase 1 para determinar se o método é seguro para humanos.
Segundo ele, após o tratamento cirúrgico, os pacientes são submetidos a uma combinação de quimioterapia e radioterapia na tentativa de melhorar os resultados em longo prazo, mas a maioria dos pacientes morre em decorrência do tumor. “Portanto, ter um novo tratamento seria fundamental para melhorar esses resultados a longo prazo.”
Por se tratar de uma doença rara, não há muitas pessoas para participar de pesquisas, o que é outra dificuldade nos estudos na área.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber o número de diagnósticos e óbitos por glioblastoma registrados no SUS, mas o ministério informou que não há dados específicos sobre a doença.
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