Entenda como modelo animal para Alzheimer avançado pode melhorar pesquisas sobre a doença – Jornal Estado de Minas

Entenda como modelo animal para Alzheimer avançado pode melhorar pesquisas sobre a doença – Jornal Estado de Minas



VIENA, ÁUSTRIA (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa publicada em abril deste ano desenvolveu um modelo de Alzheimer avançado em camundongos. O feito foi conseguido por meio de alterações genéticas nos animais que correspondem a partes do DNA associadas ao desenvolvimento da doença em humanos. Dessa forma, foi possível observar com mais detalhes os efeitos desses genes, o que poderá melhorar o tratamento da doença em humanos.

O Alzheimer avançado é o tipo de demência mais comum e possui diversos elementos que aumentam o risco da doença. Estudos já haviam identificado que um desses fatores é a genética – em especial, 70 variantes genéticas. Foram identificadas como potencialmente associadas à doença de Alzheimer, mas é difícil compreender melhor a relação entre as variantes e a demência.

“Em muitos casos, o GWAS (Genomic Wide Association Studies, grupo responsável pela catalogação das 70 variantes) identificou uma grande região de ADN que contém múltiplos genes, por isso não temos a certeza de qual é o responsável pelo risco de Alzheimer avançado”, explica. Michael Sasner, investigador sénior do Jackson Lab e um dos autores do artigo publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia.

Por isso, a ideia do estudo foi avaliar, por meio de um modelo animal, com mais clareza o real efeito desses genes no Alzheimer avançado. “Estamos comparando diretamente modelos de camundongos com ou sem uma única variante de risco genético, para que possamos determinar com segurança se essa variante está gerando risco”, resume Sasner.

Para atingir o objetivo, os pesquisadores desenvolveram alterações genéticas em 11 linhagens de camundongos considerando algumas das variantes humanas associadas ao Alzheimer tardio e que são semelhantes em animais. Também foi desenvolvido um grupo controle, com alterações que se acredita não terem relação com a doença.

Os pesquisadores avaliaram os cérebros dos ratos quatro e 12 meses após as alterações genéticas terem sido feitas. Os órgãos dos animais foram comparados com cérebros de pacientes humanos que já haviam sido diagnosticados com a doença. Com isso, foi possível observar os efeitos que diferentes alterações tiveram no cérebro dos ratos.

Por exemplo, quatro meses após as alterações, observou-se que as variantes genéticas não apresentavam alto grau de relação com o aparecimento de demência. O cenário mudou quando analisado 12 meses após as alterações terem sido realizadas. Nesse caso, constatou-se que as linhagens analisadas no estudo apresentavam ligações mais evidentes com o Alzheimer, o que pode estar relacionado ao fato de a idade avançada ser um fator de risco já documentado para a doença.

Os pesquisadores também notaram que tais associações eram irregulares. “As mudanças não foram consistentes entre as linhagens, sugerindo que diferentes variações genéticas contribuíram para diferentes mudanças relacionadas ao Alzheimer”, escreveram eles no artigo.

Por exemplo, enquanto algumas das variantes afetaram diretamente os aspectos neuronais dos animais, outras impactaram diferentes áreas do organismo, como a função metabólica. Segundo Sasner, as alterações genéticas “atuam de maneiras muito diferentes, e o Alzheimer avançado é uma doença muito heterogênea. Modelos diferentes – e possivelmente terapias diferentes – podem ser necessários para cada tipo”.

Tais conclusões podem ser úteis para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficientes contra a demência. Conhecendo mais detalhes sobre as moléculas relacionadas ao Alzheimer, é possível trabalhar com métodos mais direcionados e personalizados considerando os efeitos específicos que esses genes exercem sobre a doença.

Por enquanto, porém, ainda é necessário compreender melhor os efeitos desses diferentes genes no caso do Alzheimer. Os mesmos pesquisadores deste estudo explicam no artigo que, futuramente, serão desenvolvidas análises com animais mais velhos, além da adoção de outros mecanismos para avaliar como as alterações genéticas impactam o organismo dos camundongos.



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