É preciso alertar sobre a variante extremamente rara da gripe aviária?

No mês passado, o México notificou a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sobre a primeiro caso confirmado de infecção humana pelo vírus gripe aviário tipo A H5N2. A vítima, um homem de 59 anos, residente no Estado do México, estava hospitalizado e não tinha histórico de exposição a pássaros ou outros animais. O paciente, que apresentava múltiplas comorbidades e estava acamado há três semanas por outros motivos, manifestou sintomas agudos, tornando-se a primeira vítima documentada desta variante em humanos.

Os vírus gripe A são conhecidos por infectar uma ampla gama de hospedeiros, incluindo aves, porcos, humanos e outros mamíferos. Eles podem causar epidemias de gripe com diferentes graus de gravidade. Subtipos como H1N1 e H3N2 são os mais comuns em humanos.

O paciente desenvolveu febre, falta de ar, diarreia, náuseas e mal-estar geral. Esses sintomas pioraram rapidamente, levando-o a procurar atendimento médico. Ele foi internado no Instituto Nacional de Doenças Respiratórias e faleceu no mesmo dia devido a complicações. O diagnóstico foi confirmado por reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR), realizada em amostra respiratória do final de abril. Inicialmente não subtipada, a amostra foi sequenciada pelo Laboratório de Biologia Molecular do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas do México, onde foi confirmada a presença do vírus H5N2.

As autoridades sanitárias mexicanas implementaram medidas rigorosas de controlo e prevenção para evitar a propagação da nova variante. Entre o 17 contatos identificados e monitorado no hospital, apenas um estava com coriza, mas todos os exames para gripe e o SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, deu negativo. Amostras adicionais de outros contactos também foram negativas, indicando baixa transmissibilidade entre humanos.

Embora os vírus gripe A/H5, incluindo H5N2, são geralmente encontrado em animais e não se replicam facilmente entre humanos, situação exige vigilância monitoramento contínuo por profissionais de saúde e virologistas. Podem ocorrer casos esporádicos de infecção humana, especialmente em indivíduos expostos a aves contaminadas. Até o momento, não há evidências de que o H5N2 tenha adquirido a capacidade de se espalhar de forma sustentável entre os seres humanos.

Este caso no México serve como um lembrete da importância da vcampanha anual contra a gripe, o que pode prevenir a infecção e reduzir o impacto na saúde pública. Embora as vacinas actuais não cubram directamente o H5N2, são essenciais para proteger contra os tipos mais comuns de gripe. A situação realça a necessidade de monitorização contínua e de preparação para responder a emergências de saúde pública, especialmente à luz do surgimento de novas variantes virais.

*João Renato Rebello é patologista clínico e membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML)