Doenças na retina: 65% dos pacientes abandonam tra…

Doenças na retina: 65% dos pacientes abandonam tra…



BARCELONA* — Dos 2,2 bilhões de pessoas com deficiência visual ou cegueira no mundopelo menos 1 bilhão pode não viver com a condição. São casos que poderiam ser evitados ou que ainda não receberam tratamento adequado, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre esses episódios estão indivíduos com doenças que afetam a retinaque já possuem medicamentos, inclusive na rede pública brasileira, mas ainda não aderir. De acordo com pesquisa inédita realizada pelo Instituto de Pesquisa de Inteligência e Consultoria Estratégica (Ipec) a pedido da farmacêutica Bayer, 65% dos pacientes abandonam o tratamento ao perceber melhora, comportamento que pode comprometer os benefícios e levar à progressão de danos na retina, membrana que transmite imagens ao cérebro.

Na pesquisa a taxa de abandono de pacientes foi destacada pelos oftalmologistas e vista com preocupação considerando que as duas principais doenças que impactam a membrana Degeneração Macular Relacionada à Idade (AMD) e o retinopatia diabéticao que leva a Edema Macular Diabético (EMD)são condições crônicas que requerem não apenas tratamento, mas monitoramento. O EDM é a principal causa de perda de visão em pessoas que vivem com diabetes, incluindo os jovens.

Se a pessoa deixar de ser tratada com as injeções aplicadas no olho, o quadro pode piorar e, em alguns casos, levar a perdas irreversíveis. Realizada no Brasil, a pesquisa ouviu 2.000 pessoas e fez uma análise mais aprofundada de 300 pessoas que viviam com diabetes. A margem de erro para a amostra total é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. Os dados foram apresentados a jornalistas brasileiros presentes no congresso da European Society of Retina Specialists, a Euretinarealizado em Barcelona, ​​Espanha.

“Temos cada vez mais pessoas com estas doenças crónicas que afetam a sua qualidade de vida. São pacientes que não conseguem ver detalhes, têm deficiência na visão central, então têm dificuldade para ler, contar dinheiro, cuidar da casa e preparar refeições”, explica a oftalmologista especialista em retinas Katia Pacheco, que atende no Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

Injeções no olho

Pode parecer assustador, mas o tratamento padrão-ouro tanto para a Degeneração Macular Relacionada à Idade como para o Edema Macular Diabético é injeções no olho afetado de antiangiogênicos, substâncias que inibem uma proteína chamada VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), responsável pela proliferação de vasos anormais que prejudicar a visão. Um deles é o aflibercept (nome comercial Eylia), cuja dosagem de 2 mg está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

A aplicação ocorre em ambiente estéril e com anestesia local, seguindo um cronograma de três a seis doses mensais, o tratamento de “ataque”, que progride para aplicações espaçadas entre 12 e 16 semanas, de acordo com o quadro do paciente. No mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou a nova versão, 8 mg, com intervalos entre aplicações que podem chegar a 20 semanas. Ela já entrou na lista da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e é atendida por planos de saúde. O farmacêutico vai pedir a incorporação do medicamento na rede pública.

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Entre os oftalmologistas que responderam à pesquisa, 75% acreditam que espaçar o intervalo entre as doses pode aumentar a adesão ao tratamento. Entre os pacientes com diabetes, a taxa foi de 40%.

O problema é que manter a frequência do tratamento não é fácil. Pessoas que convivem com doenças crônicas tendem a ter uma rotina intensa de consultas e exames. No caso das injeções oculares é necessário interromper a agenda profissional ou levar acompanhante no dia da injeção, alguns precisam se deslocar até centros de saúde ou clínicas longe de casa. É assim que algumas pessoas se desmobilizam ao perceberem uma melhora em seu estado. O número médio de aplicações requeridas anualmente pode chegar a seis, mas a média realizada é 2,8 vezes por ano.

“A queda na adesão resulta em redução da acuidade visual e isso perda não é recuperada. Por isso o regime envolve o tratamento das mensalidades e a extensão do tratamento de forma individualizada e personalizada para manter os benefícios”, explica Diego Bueno, chefe da área médica de oftalmologia da Bayer.

Doenças que afetam a retina

Ligada ao envelhecimento, a Degeneração Macular Relacionada à Idade é a principal causa de cegueira irreversível após os 50 anos. A estimativa é que aproximadamente 10% da população mundial desenvolverá o problema. No Brasil, isso corresponde a quase 3 milhões de pessoas.

No caso do diabetes, a descompensação da doença aumenta o risco de retinopatia diabética, condição que, em 7,5% a 11% dos pacientes, pode evoluir para Edema Macular Diabético, que também causa perda de visão. Em ambas as condições, os sintomas são sutis e não causam dor ou alterações como vermelhidão nos olhos. Portanto, é importante ficar atento aos episódios de visão turva, com manchas e distorções.

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A Oftalmologia tem se dedicado a aumentar a conscientização sobre o tema devido ao envelhecimento da população, que ocorre de forma acelerada, e à atual pandemia de diabetes. No Brasil, quinto país com mais casos da doença no mundo, ocorreram 16,8 milhões de pessoas diagnosticado em 2019, número que deverá subir para 21,5 milhões em 2030 e atingir 26 milhões em 2045.

As doenças, porém, ainda são desconhecidas por parte significativa da população e até mesmo entre os pacientes. A pesquisa mostrou que 67% dos pacientes nunca ouviram falar de Degeneração Macular Relacionada à Idade. Embora perder a visão seja um dos principais medos das pessoas que vivem com diabetes46% dos pacientes disseram não saber sobre a retinopatia diabética. Na amostra geral, a taxa foi de 78%.

Esse nível de desconhecimento também impacta a adesão ao tratamento e quem o interrompe, principalmente pessoas com diabetes que estão tratando o Edema Macular Diabético, pode ter consequências graves. “Ele sentirá isso mais rápido do que o paciente com Degeneração Macular Relacionada à Idade. Pode haver sangramento, descolamento de retina e perda de visão mais repentina”, alerta a oftalmologista especialista em retina Tereza Kanadani.

* O repórter viajou a convite da farmacêutica Bayer



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