A exaustão emocional ligada à criação dos filhos é uma experiência comum para muitos pais, mas, em situações mais graves, pode evoluir para um quadro denominado esgotamento parental. Essa problemática, ainda pouco discutida, caracteriza-se por intenso esgotamento físico e mental e ocorre quando as demandas da parentalidade ultrapassam os recursos emocionais e psicológicos dos cuidadores.
Nesta Janeiro BrancoNo mês de conscientização sobre saúde mental e emocional, o psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, coordenador do serviço de psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz destaca a gravidade do quadro e orienta sobre como reconhecê-lo e preveni-lo.
Ele explica que, embora o cansaço seja uma parte natural do processo de criação dos filhos, o esgotamento parental vai muito além disso. Esta situação pode agravar-se especialmente durante as férias escolares, quando as crianças passam mais tempo em casa e os pais muitas vezes não conseguem dedicar a atenção necessária devido a compromissos profissionais ou outras exigências.
Segundo o psiquiatra, a principal diferença está na gravidade e na duração dos sintomas. “Embora o cansaço normal possa ser aliviado com descanso e tempo de lazer, o esgotamento parental manifesta-se como um sensação de exaustão constante, perda de prazer nas responsabilidades com os filhos e até distanciamento emocional deles”, explica.
Entre os sinais mais comuns estão a fadiga crônica, que não melhora com o repouso; irritabilidade constante, perda de auto-estima como pai e um sentimento crescente de impotência.
Os fatores que contribuem para o desenvolvimento do esgotamento parental são variados e podem incluir pressões externas, como a procura de ser uma “mãe perfeita”, sobrecarga de tarefas em famílias monoparentais, falta de apoio social ou dificuldades familiares e até financeiras.
Segundo Alaor, esses elementos podem criar um ciclo de estresse difícil de quebrar. “É importante ressaltar que o esgotamento parental não é um fracasso pessoal, mas sim o resultado de um desequilíbrio entre as demandas impostas aos pais e os recursos disponíveis para enfrentá-las”, afirma a especialista.
Para evitar que o sofrimento emocional se transforme em algo mais grave, é fundamental adotar medidas preventivas. A especialista também reforça a importância de reservar um tempo para o autocuidado, mesmo em meio à agitada rotina parental.
Atividades prazerosascomo exercícios físicos ou hobbies, podem ajudar a aliviar a pressão acumulada. Também destaca a necessidade de reduzir expectativas irrealistas em relação à parentalidade e procurar apoio sempre que necessário. “A comunicação dentro da família é essencial. Os pais não precisam enfrentar tudo sozinhos. Pedir ajuda e dividir responsabilidades não é sinal de fraqueza, mas sim de sabedoria”, aconselha.
Estudos recentes sobre o esgotamento parental publicados pelo “Journal of Clinical Psychology” destacam a necessidade de abordagens baseadas em evidências científicas para tratar e prevenir a síndrome. Intervenções como terapia cognitivo-comportamental (TCC) demonstraram eficácia na redução dos sintomas de burnout e na melhoria do relacionamento entre pais e filhos. Além disso, a investigação indica que o reforço das redes de apoio social e dos programas destinados à saúde mental parental são estratégias cruciais para mitigar os riscos associados a esta condição.
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