O Radioterapia É um dos três pilares fundamentais do tratamento de pacientes oncológicos, sendo utilizado principalmente para fins curativos, bem como como abordagem paliativa, para aliviar sintomas de formas mais avançadas da doença.
De acordo com o estudo internacional e multicêntrico publicado no The Lancet Global Health, a procura por profissionais especializados em radioterapia, como radio-oncologistas e físicos médicos, deverá crescer a um ritmo alarmante, impulsionada pela crescente incidência de novos casos de cancro .
Os autores usaram dados do Observatório Global do Câncer (GLOBOCAN) e, com base nisso, estimaram que a força de trabalho global necessária em 2022 era de 51.111 radio-oncologistas (médico que prescreve, planeja e monitora o tratamento), 28.395 médicos físicos (responsáveis por medir /calculando doses de radiação e garantindo a qualidade dos equipamentos) e 85.184 técnicos de radioterapia (especialista que posiciona o paciente e manipula o aparelho durante tratamento), saltando no ano de 2050 para uma projeção de 84.646 radio-oncologistas, 47.026 físicos médicos e 141.077 técnicos.
Comparativamente, em 2022 houve cerca de 20 milhões de novos diagnósticos de cancro, com aproximadamente 12,8 milhões de pacientes em todo o mundo a receber radioterapia. Para o ano de 2050, os dados do GLOBOCAN indicaram 33,1 milhões de novos diagnósticos de câncer, sendo que 21,2 milhões necessitaram de radioterapia. Esses dados revelam um aumento anual absoluto de 8,4 milhões de indivíduos necessitando de radioterapia quando analisados ambos os períodos.
O gargalo da Radioterapia no Brasil
Em tabela incluída no estudo, os autores quantificaram os recursos atuais e as necessidades esperadas da força de trabalho profissional em radioterapia em 32 países, incluindo o Brasil. Nesta análise, os pesquisadores estabeleceram a proporção de uma unidade de tratamento para 450 pacientes, um oncologista de radiação para 250 pacientes, um físico médico para 450 pacientes e um oncologista de radiação para 150 pacientes. Foram recolhidos dados actuais a nível nacional sobre a força de trabalho profissional em radioterapia dos centros de saúde nacionais, bem como dados de relatórios, sociedades de oncologia e outras autoridades.
Os números relacionados ao Brasil são preocupantes. Segundo o estudo, em 2022 faltavam 960 radio-oncologistas e 359 físicos médicos, além de 2.676 técnicos de radioterapia no país. Para o ano de 2050, a projeção é que a força de trabalho necessária para oferecer tratamento a todos os pacientes brasileiros que recebem indicação de radioterapia seja de 2.946 radio-oncologistas, 1.637 físicos médicos e 4.911 técnicos de radioterapia, números distantes do cenário real encontrado em 2022, quando havia apenas 646 oncologistas de radiação e 533 físicos médicos.
O radiooncologista Erick Rauber, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), destaca que o estudo levanta um alerta global para que as entidades públicas invistam em profissionais e tratamentos adequados para curar pacientes com câncer “Há necessidade de parcerias internacionais, modelos de tratamento acessíveis e investimentos em saúde pública para garantir que a radioterapia esteja disponível para todos, independentemente da região ou condição econômica do país”, enfatiza.
O artigo destaca também que, em 2022, 71,9% dos países não tinham oncologistas de radiação suficientes para satisfazer as necessidades básicas de radioterapia. “Este défice é particularmente grave nos países de baixo e médio rendimento, onde as infra-estruturas de radioterapia e a disponibilidade de profissionais qualificados são extremamente limitadas. Para suprir essa lacuna, é importante que os países invistam em estratégias de formação e recrutamento de novos profissionais para programas de Residência Médica em Radioterapia, divulgando a importância da Radioterapia como pilar do tratamento oncológico e ampliando a infraestrutura de tratamento”, afirma Rauber.
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