Criança interior ferida: psiquiatra propõe caminhos para maternagem feliz – Jornal Estado de Minas

Criança interior ferida: psiquiatra propõe caminhos para maternagem feliz – Jornal Estado de Minas



Existe a ideia de que quando nasce um filho, nasce uma mãe com ele. Porém, só quem é mãe sabe que a história não é bem assim. A maioria das mães fica angustiada quando surge uma nova vida para cuidar. O problema é que essa mulher que se tornou mãe também tem dentro de si uma “criança” que raramente é vista ou ouvida.

“Algumas mães nem sabem que essa “criança interior” existe e, ao se depararem com um filho recém-nascido na sua frente, é inevitável, mesmo que inconscientemente, se questionarem sobre sua história, sua mãe ou quem cuidou deles e que pode ser muito bom ou não”, afirma a psiquiatra, autora de livros sobre maternidade e mãe de três filhos, Mônica Cereser.

A especialista acredita que a ideia de “criança interior ferida” se refere às experiências dolorosas ou traumáticas que uma pessoa pode ter tido na infância e que permanecem como uma ferida emocional não resolvida. A metáfora da “criança interior ferida” carrega sentimentos negativos, muitas vezes decorrentes de situações como falta de atenção, perda ou mesmo abuso na infância.

O que o especialista propõe é a compreensão de alguns estudos que dizem que a falta de competências parentais é, pelo menos parcialmente responsável, pelo desenvolvimento ou manutenção de padrões pouco saudáveis, dentro desta interação familiar. Alguns deles são até fontes de mau comportamento em seus filhos.

Ela sugere que esse caminho comece pela busca pelo autoconhecimento. Conhecer os pontos fortes e fracos ajudará a pessoa a não perder tempo com coisas que não são importantes. “Ao se conhecer em vez de desperdiçar sua energia vital, você usará cada vez mais sua sabedoria, amor e consistência para educar seu filho”, afirma Mônica.

O ambiente familiar desempenha um papel importante no desenvolvimento do comportamento de cada pessoa. Normalmente, a tendência é seguir padrões familiares que carregam crenças limitantes que geram muita ansiedade. Essas crenças podem ser muito bem administradas, se houver consciência sobre elas, e assim chegar a algo transformador e sair do ambiente nocivo.

“A aprendizagem não ocorre através de reforço direto, mas através de modelos. Ao observar o comportamento das outras pessoas, você cria o seu próprio padrão e é isso que seu filho está fazendo agora, te observando e te copiando, assim como você fez com quem cuidou de você”, ensina Mônica.

Segundo a psiquiatra, muitos padrões são internalizados, quando ainda não havia escolhas ou capacidade de decisão. “Você só pode se libertar desses caminhos tornando-se autoconsciente. Muito do que acontece hoje foi aprendido em uma fase da vida em que você estava aberto a todo e qualquer tipo de influência. A capacidade de olhar para a história pessoal, revendo o passado e Não vivendo no passado, atua como uma força mestra que impulsiona a compreensão da vida e a possibilidade de criar um futuro diferente.”

O especialista sugere um olhar mais consciente sobre quais são essas crenças e faz as perguntas fundamentais: como foi sua infância? O que você pode ter ouvido que contribuiu para você agir de forma automatizada e sem parar para pensar, sabotando-se e deixando a vida para depois, ou vivendo exclusivamente para os outros? Ou apenas querer agradar, ser muito trabalhador ou querer ser perfeito ou fazer tudo rápido.

Ela diz que, para diminuir a dor de ver essas feridas, o jeito é se aceitar, se acolher, buscar ferramentas para promover a saúde mental e então começar a agir de forma diferente. “Os temas que proponho são os pilares do meu trabalho com o grupo MAM – Mães que ajudam as mães, com quem tenho grupos criados em Jundiaí, interior de São Paulo”, afirma.

“Precisamos nos reconhecer como o ser humano, falível, vulnerável que somos, e despertar o desejo de querer nos conhecer mais, buscar nos aceitar, para que com novas ferramentas possamos mudar atitudes e nos tornarmos a mãe que tanto desejamos : feliz, leve e cheio de energia”, ensina a profissional. Dessa forma, as crianças sentirão que suas mães estão felizes. Portanto, uma mãe feliz significa um filho feliz.

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