CFM e associações médicas pedem à Anvisa fim da suspensão do uso de fenol – Jornal Estado de Minas

CFM e associações médicas pedem à Anvisa fim da suspensão do uso de fenol – Jornal Estado de Minas



RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O CFM (Conselho Federal de Medicina), a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) solicitaram à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância) o fim da suspensão do uso do fenol no país.

As entidades protocolaram na última sexta-feira (19/7) documento em que apresentam evidências científicas da eficácia da substância no tratamento de dores em diversas doenças, como câncer e neuralgia do trigêmeo, desde que aplicada por profissionais médicos. O relatório pede com urgência a revogação da Resolução 2384/24, de 25 de junho, que suspendia o uso da substância.

O pedido das entidades inclui “cerca de 200 referências bibliográficas que comprovam cientificamente as diferentes utilizações seguras atribuídas ao fenol, desde que respeitadas as normas e protocolos médicos estabelecidos”. Utilizado por especialidades como urologia, neurologia, otorrinolaringologia, coloproctologia, oncologia e dermatologia, o fenol se destaca pela finalidade “antisséptica e cauterizante”, diz o documento.

Não há prazo para retorno do pedido, mas o CFM e os conselhos já se reuniram com a diretoria da Anvisa e estão em contato com o órgão para que o fenol seja retomado rapidamente. Para eles, regulamentar a compra e o uso do produto são alternativas melhores para lidar com os riscos de aplicação inadequada.

“O que defendemos é que esse procedimento de extrema importância seja realizado em ambiente adequado à segurança do paciente e com prescrição médica. Não podemos prejudicar os pacientes com a não utilização deste produto”, afirmou o presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo.

Além do rejuvenescimento prometido pela técnica do peeling, o fenol também é indicado para tumores grandes, sangramentos proctológicos internos e tratamento de dores crônicas, como dores de membro fantasma, dores de próstata, dores miofasciais e císticas ou otalgias.

Em todos eles, inclusive no tratamento dermatológico estético, a recomendação das entidades médicas é que a aplicação seja realizada por profissionais que conheçam as contraindicações e possíveis efeitos adversos.

“Cirurgiões plásticos e diversas especialidades têm o direito de continuar utilizando [o fenol em tratamentos]. Suspender, como foi feito, é como dizer que esses médicos fizeram coisas erradas a vida toda, quando isso não é verdade”, afirma Heitor Gonçalves, presidente da SBD.

Gonçalves reforça ainda que o fenol só deve ser aplicado por médico habilitado, mas, apesar de invasivo, às vezes é a alternativa mais segura para o paciente. “Em dermatologia, por exemplo, para dores intensas de hidradenite supurativa [processo inflamatório crônico]às vezes é necessário usar derivados de morfina, que causam dependência, mas o fenol regride sem esse efeito”, diz Gonçalves.

Ele também cita o fenol como indicação de primeira escolha, que simplifica procedimentos e evita riscos cirúrgicos em casos como remoção de verrugas recorrentes e persistentes, matrizes ungueais ou granulomas na parte interna da boca causados ​​por doenças como a infecção pelo HIV.

O que é peeling de fenol?

O tratamento estético com fenol pode ser realizado por cirurgiões plásticos e dermatologistas especializados na técnica, em ambiente hospitalar ou ambulatorial monitorado. A aplicação é feita em etapas para evitar altas concentrações e sobrecarga cardíaca, sendo recomendada apenas para peles claras ou com pouca melanina.

O uso do peeling de fenol para rejuvenescimento facial começou na década de 1960, mas ganhou fama no Brasil com a técnica menos tóxica do médico José Kacowicz, que consiste na remoção química de camadas profundas da pele.

O pós-operatório é muito doloroso e semelhante à recuperação de uma queimadura profunda. O procedimento remove rugas, cicatrizes e manchas. O custo depende do tamanho da área que será aplicada e fica na casa das dezenas de milhares de reais (podendo ultrapassar R$ 30 mil).

Empresário morreu após procedimento com fenol

A decisão da Anvisa de suspender o uso do fenol ocorreu após a morte do empresário Henrique Chagas, 27 anos. Ele passou pelo procedimento na clínica da influenciadora Natalia Fabiana de Freitas Antonio, que se apresenta como Natalia Becker. Ela não tem formação médica e aprendeu a aplicar o produto após fazer um curso online.

O laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou que Chagas teve parada cardiorrespiratória após edema pulmonar agudo causado por inalação de fenol.



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