‘Censo do aborto’ de BH pode ampliar constrangimento a mulheres, dizem especialistas – Jornal Estado de Minas



BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A nova lei de Belo Horizonte, que ficou conhecida como “censo do aborto”, por reunir estatísticas sobre interrupções de gravidez na cidade, pode dificultar ainda mais o acesso a procedimentos legais ao causar constrangimento às mulheres e aos médicos, segundo especialistas em saúde e direitos das mulheres entrevistados pelo relatório.

Aprovada em abril deste ano pela Câmara Municipal da cidade, a proposta prevê que os hospitais da cidade devem informar à Secretaria de Saúde informações como:

– o motivo do aborto legal;

– faixa etária da gestante que interrompe a gravidez;

– a cor ou raça da gestante.

Em maio, o prefeito Fuad Noman (PSD) sancionou o projeto, mas vetou dois dispositivos. Um deles determinou a exposição do hospital que realizou cada procedimento – esse veto foi mantido pela Câmara em votação na última segunda-feira (1º).

O segundo veto, que trata da publicação de estatísticas de aborto no site da prefeitura e no Diário Oficial do Município, foi derrubado pelos vereadores na sessão desta semana.

Mesmo que não seja divulgado o nome dos hospitais onde cada procedimento é realizado, a nova lei pode servir como obstáculo aos direitos das mulheres, afirma Maria Cecília Oliveira, da Defensoria Pública de Minas Gerais.

“Belo Horizonte possui cinco hospitais de referência, então essas informações disponibilizadas no portal da prefeitura podem de alguma forma constranger essas mulheres e meninas e profissionais de saúde, que se encontram em uma situação difícil”, afirma Oliveira.

Ela afirma que a defensoria estuda ajuizar uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) na Justiça para limitar os efeitos da nova lei.

Autora do projeto de lei na Câmara, a vereadora Flávia Borja (Democracia Cristã) declara que a proposta visa coletar dados para a formalização de políticas públicas.

“O objetivo é ter transparência. Sou vereador pró-vida e quero criar políticas públicas para chegar antes da violência, antes do estupro, para que possamos proteger de verdade essas mulheres e meninas”, afirma Borja.

O argumento da transparência é contestado por especialistas em saúde, que afirmam que as informações exigidas pela nova lei já estão disponíveis no DataSUS, do Ministério da Saúde, para acesso de qualquer cidadão.

O problema da nova legislação está na diferença metodológica das coletas realizadas nos níveis nacional e municipal, explica Raquel Zanatta, professora do departamento de demografia e pesquisadora do Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG (Universidade Federal de Minas). Gerais).

“A arrecadação nacional é realizada de forma padronizada, em instrumento cuja finalidade é financeira – remunerar os hospitais pelos serviços prestados, sem julgamento de valor em relação aos procedimentos realizados”, afirma Zanatta.

“Mesmo que os dados [da nova lei] fossem agregados posteriormente e divulgados integralmente pela Secretaria de Saúde, os hospitais os coletariam individualmente. A mulher e a equipe médica passariam por constrangimento e correriam o risco de ter seu direito à privacidade violado na análise quantitativa”.

A médica Sonia Lansky, professora da Faculdade de Medicina da UFMG, afirma que os formuladores da nova proposta buscam brechas para aumentar a vigilância e a punição contra mulheres e médicos.

“O risco recai mais uma vez sobre as mulheres pobres e negras. São a população com maior carência e vulnerabilidade e que não têm acesso garantido e oportuno ao aborto seguro e legal previsto em lei, e que muitas vezes morrem por esse motivo” , diz Lansky, que atuou como vereador do PT no início da atual legislatura.

Para a vereadora Flávia Borja, as críticas em relação à exposição do médico e da vítima não se justificam. Ela argumenta que, embora os dados sejam enviados mensalmente pelos hospitais à secretaria, eles só serão divulgados pelo município semestralmente.

“Como o médico vai ficar exposto a algo que já aconteceu? Não há possibilidade disso acontecer. ?”, questiona o vereador.

Procurados, a prefeitura de Belo Horizonte e o governo de Minas Gerais, que administra os hospitais públicos de referência para aborto, não retornaram tentativas de contato.



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