O Observatório Global do Câncer, ligado à Organização Mundial da Saúde, estima que existam hoje 32 milhões de sobreviventes do câncer em todo o mundo. Mesmo que estejam livres da doença há cinco anos, essas pessoas necessitam de cuidados até o fim da vida, pois podem enfrentar dores, cansaço, dificuldade para dormir, efeitos tardios do tratamento, medo de recorrência, piora na qualidade de vida, prejuízo função sofrimento sexual e psicológico.
“Embora o marco de cinco anos sem evidência de doença seja um bom prognóstico, o conceito moderno de sobrevivência oncológica abrange o monitoramento do paciente, o manejo dos efeitos colaterais tardios do tratamento, o apoio emocional e social e o monitoramento de recorrências ou novos tumores. ”, afirma a oncologista da Oncologia D’Or, Sabrina Chagas.
As instituições de saúde devem prestar cuidados de longa duração a esta população, através de ações abrangentes de pós-tratamento que visem monitorizar e gerir os efeitos físicos e psicossociais e as condições médicas, além da promoção da saúde e prevenção de doenças.
Sobreviventes do Câncer
O número de sobreviventes do câncer tende a crescer devido aos avanços em diversas áreas da medicina e da ciência. Entre eles, destacam-se o rastreio para detecção precoce de tumores, as pesquisas focadas na biologia tumoral e o desenvolvimento de tratamentos, como imunoterapia, terapias direcionadas e tratamentos personalizados baseados em biomarcadores.
A isto somam-se os avanços nos cuidados pós-tratamento e nos cuidados paliativos, que melhoraram a qualidade de vida dos sobreviventes e prolongaram a sua longevidade. Por outro lado, a divulgação de informações aumenta a conscientização sobre a doença e seu controle.
Outubro Rosa
No mês de conscientização e prevenção ao câncer de mama, Sabrina Chagas explica que o cuidado com as mulheres sobreviventes desse tipo de câncer é fundamental para promover uma vida saudável após o tratamento.
“É fundamental manter acompanhamento médico regular para monitorar a saúde, detectar possíveis recorrências e controlar efeitos colaterais, como fadiga e linfedema. O apoio emocional também é fundamental, pois muitas mulheres podem enfrentar desafios de ansiedade, depressão e autoimagem após o tratamento”, afirma a especialista.
Um estudo norte-americano destacou a importância da vigilância para detectar a recorrência da doença. Pacientes jovens com câncer triplo negativo apresentam maior risco de recorrência dentro de cinco anos após o diagnóstico e tendem a apresentar recorrência metastática.
Os cânceres positivos para estrogênio podem retornar mais de dez anos após o diagnóstico inicial. Uma meta-análise mostrou que as mulheres com cancro estrogénio-positivo tiveram uma incidência cumulativa de recorrência tardia de 16,6% entre dez e 32 anos após o diagnóstico primário.
Para reduzir o risco de recorrência, os sobreviventes também devem adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada e exercício regular. Também é importante cuidar da saúde sexual e reprodutiva, da autoestima e do bem-estar emocional.
Ioga, meditação e acupuntura
Para promover a qualidade de vida e o bem-estar dos sobreviventes do câncer, as terapias integrativas têm sido recomendadas como abordagens não farmacológicas para tratar distúrbios físicos e psiquiátricos. Isso inclui meditação, ioga, técnicas de respiração e relaxamento.
“Por exemplo, a fadiga, presente em até 80% dos pacientes com câncer, exige um olhar além da prescrição de medicamentos, pois não é apenas um sintoma físico, mas também cognitivo e emocional. Intervenções como ioga, meditação e acupuntura – todas baseadas em evidências científicas – podem melhorar sua qualidade de vida”, afirma Sabrina Chagas.
A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) endossa diretrizes que recomendam práticas integrativas, como atenção plena e atividade física, para aliviar esses sintomas de depressão e ansiedade. É importante que os pacientes comuniquem o uso dessas abordagens aos seus médicos para não comprometer a segurança do tratamento.
Assistência em áreas remotas
Mesmo em um país de dimensões continentais como o Brasil, é possível oferecer assistência aos sobreviventes do câncer em áreas remotas. Uma das principais estratégias é a telemedicina, para consultas e acompanhamentos remotos. As equipes de Saúde da Família podem fornecer informações e cuidados regulares aos pacientes.
Parcerias com organizações comunitárias e instituições locais são essenciais para identificar necessidades específicas e desenvolver programas que sirvam estas comunidades. Entre elas estão campanhas de conscientização para incentivar a busca por assistência, desmistificando a importância do acompanhamento pós-tratamento.
A formação de profissionais de saúde nessas áreas pode garantir a qualidade do atendimento e a triagem adequada. A mobilização de recursos e a criação de redes de apoio são passos importantes para financiar programas dirigidos a estas populações.
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