SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Saúde informou 17.093 mortes por câncer de próstata no Brasil em 2023, o que corresponde a 47 mortes por dia, segundo levantamento da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia). A doença, porém, tem grandes chances de cura se descoberta e tratada precocemente.
O tumor é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. Estimativas do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam 71.730 novos casos da doença por ano no período 2023-2025, com média de 196 por dia.
Para detectá-lo precocemente, a SBU recomenda que homens com mais de 50 anos façam consultas periódicas com um urologista. Para pessoas que fazem parte do grupo de risco, como pacientes com histórico familiar, o acompanhamento é recomendado a partir dos 45 anos.
Segundo o presidente da SBU, Luiz Otávio Torres, além do hereditariedadeos fatores de risco para o câncer de próstata são: idade, obesidade, tabagismo e sedentarismo.
“Outro grupo de risco são os homens negros. Neles o tumor é mais frequente e mais agressivo por questões genéticas. Não existem grandes estudos sobre isso, mas sabe-se que essas pessoas são mais propensas ao tumor, assim como os japoneses têm mais câncer de mama e estômago, por exemplo”, diz.
Torres destaca que muitos casos no país são diagnosticados em estágio avançado, quando o tratamento é apenas paliativo. Por isso, é importante que os homens façam exames regulares para que a doença seja detectada precocemente. De acordo com uma pesquisa recente, três em cada dez homens nunca fizeram ou pretendem fazer um exame retal digital.
Um estudo divulgado este ano pela Comissão do Câncer de Próstata da revista científica The Lancet, uma das publicações com maior fator de impacto no mundo, previu uma duplicação global dos casos de câncer de próstata, subindo para 2,9 milhões até 2040. A pesquisa também estima 700 mil mortes neste período, o que representaria um aumento de 85%.
Para identificar a doença, são realizados exame de toque retal e exame de sangue para medir os níveis de PSA, proteína produzida pela próstata. Caso seja constatada alguma alteração, o paciente é encaminhado para uma biópsia (retirada de um fragmento da lesão para análise laboratorial), que confirmará a existência ou não de tumor.
“Hoje, só morre de câncer de próstata quem não controla e monitora. É como o câncer de mama ou os tumores em geral: se você diagnosticar precocemente, terá maiores chances de cura”.
SUS NÃO FAZ RASTREAMENTO
Apesar da recomendação da SBU, o SUS (Sistema Único de Saúde) não realiza rastreamento do câncer de próstata, ou seja, exames em pessoas assintomáticas.
O Ministério da Saúde e o Inca não recomendam o rastreamento populacional, com base em revisões sistemáticas que identificaram que “o rastreamento aumenta significativamente o diagnóstico da doença, sem redução significativa da mortalidade e com danos significativos à saúde humana”. Em vez disso, defende o diagnóstico precoce, identificando o cancro em fases iniciais em pessoas com sinais e sintomas.
Segundo nota de 2022, “os resultados estão incorretos (falsos positivos), o que pode indicar a presença de câncer, mesmo que não seja, gerando ansiedade e estresse, além da necessidade de novos exames (como biópsia), como bem como o risco de diagnóstico e tratamento excessivos (sobrediagnóstico e sobretratamento) e suas possíveis complicações.”
A SBU afirma, no entanto, que o argumento do rastreio para homens com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos em países de rendimento elevado é reforçado pela melhoria da utilização de tecnologias como a ressonância magnética e pela evidência crescente da segurança da vigilância activa. .
DESCOBERTA ANTECIPADA
Aposentado da área de engenharia industrial, Gustavo Boog, 79 anos, é um dos pacientes que descobriu e tratou o câncer em estágio inicial. Ele fazia consultas médicas regulares quando foi diagnosticado em 2007, aos 62 anos. Ele teve a próstata retirada e foi monitorado por dez anos, apenas para evitar o retorno da doença.
“A primeira ideia que me veio à cabeça foi: vou morrer. Mas não é assim, a medicina tem muitos recursos. Hoje estou curado do câncer”, afirma.
Nele, o efeito colateral da cirurgia foi a incontinência urinária. Ele precisou usar uma bolsa para coletar urina, mas o problema foi controlado com medicamentos. Após o tratamento, ele ingressou na faculdade de psicologia e deve concluir o curso ainda este ano.
O soldado da reserva Marlon dos Santos, 53 anos, começou a fazer exames de rotina após passar por um transplante de rim. Em uma das consultas, o médico realizou exame de toque retal e não identificou alterações. O câncer de próstata foi diagnosticado em 2023 a partir de um exame de sangue que mede os níveis de PSA.
“Fiz exames de imagem e identificaram três ou quatro nódulos na próstata. Fizemos uma biópsia e identificamos o tumor. Depois retirei completamente a próstata por meio de cirurgia robótica”, relata.
Marlon afirma não ter enfrentado nenhum efeito colateral após o tratamento. “Tenho uma vida sexual normal, um dia a dia normal também. Sou ativo, faço exercícios diariamente, sempre fui atleta, não tive nenhum impacto negativo”.
Os efeitos colaterais mais comuns após a retirada da próstata são incontinência urinária e impotência sexual, afirma Carlos Dzik, líder em oncologia geniturinária da Dasa. “Um bom número de pacientes nos primeiros três meses perderá urina involuntariamente, mas depois o problema diminuirá. E talvez perto de 5% ou 8% dos pacientes ainda possam ter incontinência urinária para o resto da vida, mas há uma maneira de tratar”, explica.
Em relação à disfunção erétil, o problema é comum em homens que fazem a retirada da próstata, mas é possível tratá-lo com medicamentos ou próteses penianas. Com o método de cirurgia robótica, mais preciso, a perda de ereção é menos comum. Além da cirurgia, os pacientes também podem ser submetidos a outros tratamentos para combater o tumor, como radioterapia e quimioterapia.
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