Talvez o que é tão sem nome doloroso não pode ser traduzido em uma única palavra, mas é bem possível que possamos nos aproximar da dor e das vidas por ela ceifadas através de uma testemunho corajoso, amoroso e visceral. Como um mãe quem perdeu o filho.
Em O que não tem nomeo escritor colombiano Piedade Bonnett retrata a tempestuosa jornada de seu Daniloum estudante de arte de 20 e poucos anos diagnosticado com esquizofreniaaté o suicídio longe de sua terra natal. É um livro difícil, tão difícil é a missão de uma mulher que viaja de avião para recolher os pertences de um filho que não está mais entre nós. Mas também comovente e comovente, transbordando de poesia que só uma mãe pode conceber e dedicar-se ao fruto do seu ventre.
Pouco mais de dez anos após a publicação na Colômbia, a obra está nas livrarias brasileiras pelas mãos da Editora DBA. E parece-me uma leitura necessária (para não dizer obrigatória) para quem quer sentir e compreender, do ponto de vista da família, os desafios de acompanhar e aceitar o sofrimento de um ente querido perseguido por um transtorno mental – para quem o suicídio pode soar como a libertação mais urgente e terrível.
“Acredito que a minha escrita deu a Daniel uma segunda vida, que o salvou do esquecimento em que caímos quando morremos”, reflete Piedad Bonnet. Aqui está uma mãe-escritora dando à luz seu filho novamente e nutrindo-o na mente de cada leitor. Com as dores e belezas do parto e da criação.
Em outras palavras, o autor.
O que não tem nome
Desde a publicação O que não tem nomevocê acredita que as pessoas com transtornos mentais realmente se tornaram mais acolhidas e respeitadas em nossa sociedade?
Eu gostaria que fosse assim, mas não vejo isso. Há falta de informação e de sensibilização nas nossas sociedades sobre o que é a doença mental e, sobretudo, sobre quem é doente mental. No entanto, vejo reações importantes nos dez anos desde que o livro foi publicado. As várias edições (cerca de 35) mostram-me que existe uma curiosidade imensa sobre o tema, sobre o que é abordado na literatura testemunhal, o que nos permite abordar um assunto através das emoções e da experiência concreta.
Na Colômbia, o livro tornou-se leitura formal para jovens dos anos finais do ensino médio e também texto obrigatório nos cursos de psicologia e psiquiatria. Isto permite-me acreditar que a conversa sobre doenças mentais, suicídio e luto está a expandir-se, que o tabu está a ser quebrado, que agora estes temas já não estão condenados à ocultação como no passado. De qualquer forma, ainda há muito a conquistar: conhecimento e respeito, por um lado, além da superação de práticas médicas obsoletas.
Mais de dez anos depois de lançar o livro sobre seu filho, como você avalia o efeito das palavras diante da ‘Grande Dor’ que você menciona ali?
A dor existe e continuará a existir, embora de forma menos dolorosa. Escrever este livro me ajudou a compreender, a fazer as pazes com aqueles que estavam errados e a recuperar e consertar minhas lembranças de Daniel. Mas o mais importante é compartilhar essa história com outras pessoas, que é o que a escrita de depoimentos faz. Isso foi recompensado com a reação calorosa dos leitores, que expressaram sua dor durante a leitura e sua empatia com o drama de Daniel. Na preenche o vazio de sua ausência, mas esse agradecimento dos leitores é algo pelo qual sou infinitamente grato.
A escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga escreve que criou tumbas de papel para seus familiares que foram vítimas do genocídio em Ruanda. Você, pelo contrário, registra que não construiu um túmulo, mas deu sangue ao seu filho através de palavras. Podemos dizer que o poder da literatura reside nesta capacidade múltipla e diversa de perpetuar pessoas e histórias?
Sim, totalmente. Este é tanto o poder da literatura que personagens que nunca existiram, como Dom Quixote ou Madame Bovary, parecem mais vivos e mais próximos de nós do que muitos seres de carne e osso. Acredito, como digo no epílogo do livro, que minha escrita deu a Daniel uma segunda vida, que o salvou do esquecimento em que caímos quando morremos. Cada vez que um leitor abre as páginas de O que não tem nome, meu filho volta a morar dentro dela. A literatura dá vida a Daniel no imaginário de muita gente, e até ouvi dizer que há pessoas que se apaixonam por ele nestas páginas.
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