Nas últimas semanas, o Brasil registrou novos casos de botulismouma doença rara, mas grave, causada pela ingestão de toxinas produzidas por bactérias Clostridium botulinum. Esses surtos aumentam a conscientização sobre práticas adequadas de preparo e conservação de alimentos, especialmente alimentos artesanais, além da importância do diagnóstico rápido para evitar complicações graves.
O botulismo resulta de uma toxina que compromete funções vitais, como a respiração, levando à paralisia flácida descendente que pode ser fatal se não for tratado rapidamente. A forma mais comum de transmissão é o consumo de alimentos contaminados, como conservas artesanais, carnes curadas e queijos caseiros.
No final do mês passado, um surto de botulismo atingiu seis pessoas, das quais duas morreram, em três municípios baianos, segundo boletim da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A suspeita é que a infecção tenha sido causada pela mortadela de frango, já que quatro pessoas relataram consumi-la um dia antes do início dos sintomas.
Embora os alimentos processados sigam normas de segurança rigorosas, podem causar surtos, na maioria das vezes relacionados com vegetais em conserva, enlatados e salsichas. Os produtos caseiros ou artesanais produzidos em estabelecimentos de menor dimensão representam um risco maior, devido à falta de higiene e às condições inadequadas de armazenamento.
Os sintomas aparecem horas a dias após a ingestão de alimentos contaminados, começando com visão dupla, boca seca, dificuldade em falar e engolire progressão para paralisia facial e muscular. A paralisia muscular respiratória pode exigir ventilação mecânica. O diagnóstico clínico é fundamental, pois a confirmação laboratorial da toxina é complexa e realizada apenas em laboratórios de referência.
O médico deve suspeitar de botulismo quando há paralisia descendente e histórico de consumo de alimentos de risco. Os exames laboratoriais, embora demorados, são essenciais para a vigilância epidemiológica e medidas preventivas. No entanto, o diagnóstico precoce e a notificação às autoridades de saúde são cruciais para controlar a propagação da doença.
O tratamento envolve a administração de soro antibotulínicoque deve ser aplicado o mais rápido possível para neutralizar a toxina e prevenir complicações graves. Em casos avançados, pode ser necessário suporte em unidades de terapia intensiva, principalmente se houver necessidade de ventilação mecânica.
A prevenção do botulismo requer rigor no preparo e conservação dos alimentosespecialmente os artesanais. A esterilização adequada dos alimentos conservados e a refrigeração dos alimentos são essenciais para evitar a proliferação de Clostridium botulinum. Em casa, é importante evitar alimentos com embalagens abauladas ou latas amassadas, que podem sinalizar contaminação.
O papel das autoridades sanitárias é essencial para monitorar os surtos e garantir que as práticas de produção sigam os padrões de segurança, reduzindo o risco de novas ocorrências. A consciência dos riscos e das medidas preventivas é a melhor forma de evitar esta grave doença.
* Carolina dos Santos Lázari é infectologista e patologista clínica, membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratório (SBPC/ML)
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