A dor abdominal intensa e persistente nem sempre é apenas um desconforto temporário. Quando aparece no lado inferior direito do abdômen, pode ser um alerta de algo mais grave: apendicite – uma inflamação que, se não tratada, pode levar a complicações graves, como a ruptura do apêndice.
Embora o apêndice seja muitas vezes visto como dispensável, ele desempenha um papel mais importante do que se imagina. Medindo cerca de 10 cm, essa pequena estrutura entre o intestino delgado e grosso contribui para o equilíbrio do organismo. “O apêndice abriga tecidos linfáticos que produzem anticorpos e servem como reservatório de bactérias benéficas para o intestino”, afirma Lucas Nacif, cirurgião gastrointestinal e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).
Lucas destaca ainda que, em casos de infecções intestinais, o apêndice ajuda a restaurar a flora bacteriana, permitindo que bactérias “boas” repovoem o intestino mais rapidamente após uma infecção.
A apendicite ocorre quando o apêndice fica inflamado, geralmente devido a uma obstrução que impede a drenagem do muco produzido pelo próprio órgão. Esse acúmulo de muco leva à dilatação do apêndice, comprime os vasos sanguíneos e provoca a morte das células locais. Se não for tratada, a condição pode evoluir para apendicite supurativa, na qual o apêndice se rompe e libera seu conteúdo na cavidade abdominal, aumentando o risco de infecção grave, que pode levar à morte.
Segundo o especialista, em jovens essa inflamação pode estar relacionada às respostas do tecido linfático a infecções virais ou bacterianas. Em pacientes idosos, as causas comuns incluem fezes duras, tumores e até vermes intestinais. “Em todos os casos, a apendicite costuma se manifestar inicialmente com dor ao redor do umbigo, que depois se desloca para o lado inferior direito do abdômen, tornando-se mais intensa ao caminhar ou tossir. Além das dores abdominais, é comum apresentar febre, perda de apetite, enjoos, endurecimento do abdômen e até alterações intestinais, como prisão de ventre ou diarreias frequentes”, explica Lucas.
Ele acrescenta que é importante que o paciente observe a evolução da dor, que tende a aumentar progressivamente. “Caso a dor abdominal intensa persista por mais de quatro horas, é fundamental procurar o pronto-socorro o mais rápido possível”, alerta.
Tratamento
A cirurgia é o tratamento padrão para apendicite e muitas vezes é a única opção viável para remover o apêndice inflamado e prevenir a propagação da infecção. Existem duas abordagens principais: apendicectomia aberta, que envolve uma incisão maior, e laparoscópica, que utiliza três pequenas incisões de aproximadamente um centímetro cada. “A laparoscopia tem se mostrado eficaz e oferece menos desconforto pós-operatório”, explica o cirurgião gastrointestinal. Este método tende a proporcionar uma recuperação mais rápida com menos risco de infecção e dor.
Após a cirurgia, a recuperação requer repouso, dieta leve e uso de antibióticos para prevenir infecções. “O tempo de recuperação varia de quatro a seis semanas, sendo fundamental seguir todas as orientações médicas, como manter limpa a área da incisão e evitar atividades físicas intensas”, reforça.
Lucas lembra ainda que, embora seja um órgão pequeno e muitas vezes retirado sem maiores complicações, o apêndice tem uma função no organismo, contribuindo para a saúde intestinal. “Isso nos lembra que cada estrutura do nosso corpo desempenha um papel importante, mesmo que nem sempre seja óbvio.”
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