PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Enquanto fazia doutorado em regulação biológica e genética molecular, a bióloga Liat Yakir terminou o casamento. O relacionamento durou cinco anos e resultou em dois filhos. Mas este não foi seu primeiro casamento. Anos atrás, ela já havia se casado, relacionamento que durou dois anos antes do divórcio chegar. Sem filhos, desta primeira vez.
As decepções vividas pela bióloga e por pessoas de seu círculo social, como amigos, despertaram o desejo de compreender melhor o que significa se apaixonar. “Na minha vida, tive dificuldade em encontrar o amor, mantê-lo e compreendê-lo”, diz ela.
Como bióloga, ela utilizou as ferramentas comuns da ciência para investigar o assunto. Ela estudou bastante o assunto e publicou, em fevereiro deste ano, o livro “Uma Breve História do Amor” (Watkins)?
No livro, Yakir aborda diversos temas relacionados ao amor romântico considerando pesquisas científicas. Uma delas é sobre o que acontece no corpo de uma pessoa apaixonada. Para entender isso, é necessário primeiro compreender as chamadas três fases do amor: atração, paixão e apego.
No momento da atração, a primeira das fases, a testosterona e o estrogênio, que são os hormônios sexuais, influenciam na determinação se alguém terá ou não desejo por outra pessoa. Por enquanto, não há nada de amor nisso, é apenas atração sexual.
“Quando as pessoas dizem que amam à primeira vista, geralmente é atração sexual à primeira vista. Você vê uma pessoa, e a área do cérebro que gerencia nossas emoções, chamada amígdala, decide se [aquele indivíduo é interessante] ou não em 30 segundos. Essa pessoa é boa para mim ou não? Isso ocorre principalmente de forma sexual”, explica o escritor.
Após esse primeiro momento, a paixão pode aparecer. Normalmente, isso acontece com o desenvolvimento da intimidade entre as pessoas, como por meio do sexo. Paixão é aquele momento em que uma pessoa se sente louca e completamente apegada à outra. Isso está relacionado principalmente à dopamina, neurotransmissor ligado ao sistema de recompensa cerebral e com funções na regulação das emoções e do prazer, e à serotonina, popularmente chamada de hormônio da felicidade.
Neste momento de paixão, os níveis de dopamina tendem a ser muito elevados, proporcionando altas doses de prazer. Yakir até usa a expressão “drogas do amor” em seu livro. Isso ocorre porque algumas drogas, como a cocaína, atuam nesse neurotransmissor. E estar apaixonado tem um efeito semelhante.
“No inicio [da paixão], quando a pessoa ainda não está totalmente apegada, tem muita dopamina, porque é alguém novo e a pessoa quer conquistá-lo. Então, a princípio, sentimos que é uma droga de verdade”, explica.
E então surge o apego. Essa terceira fase é conhecida pela queda no acúmulo de dopamina e pela alta presença de ocitocina, hormônio associado à sensação de segurança e vínculos emocionais. Essa substância é muito comum na relação entre pais e filhos, pois se trata de um tipo de amor sem o fator atração sexual.
Quando alguém está em um relacionamento amoroso no momento do apego, não existe mais aquela paixão avassaladora, aquele friozinho na barriga, como a própria Yakir define. Este momento é muito mais de segurança, estabilidade e conforto, algo que a própria bióloga vivencia agora, em seu terceiro casamento.
Huhurobiologia do amor
Paixão é aquele momento em que uma pessoa se sente louca e completamente apegada à outra. Isso está relacionado principalmente à dopamina
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Em 2014, Débora Sterzeck Cardoso, doutoranda em neurociências e cognição pela UFABC (Universidade Federal do ABC), estava em início de carreira acadêmica, ainda na graduação. Porém, foi nesse ano que Cardoso realizou uma pequena pesquisa que, até hoje, diz despertar maior interesse em comparação com outras investigações que já realizou. O tema do estudo? A neurobiologia do amor.
O neurocientista, que não tem relação com o livro de Yakir, aponta algumas pesquisas recentes sobre o tema. Ela cita, por exemplo, um artigo publicado em maio deste ano em um periódico científico sobre ciências do comportamento. Não assinado por ela, o texto lista seis entendimentos científicos sobre o amor romântico que podem estar errados. Um desses possíveis erros é a ideia de que existe uma área do cérebro, um hormônio ou neurotransmissor diretamente relacionado ao amor.
“O amor desencadeia diferentes sentimentos e comportamentos no cérebro. O cérebro é complexo, tem várias regiões, então é muito perigoso assumirmos apenas uma região ou um neurotransmissor que seria responsável por isso”, explica Cardoso.
Este ponto está relacionado ao fato de que, pelo menos por enquanto, o amor poderia ser interpretado muito mais como um desencadeador de outras emoções do que como uma emoção em si. “Precisamos ver o amor como algo que desencadeia tantos outros comportamentos”, diz ele.
Mas, para realmente chegar a novas conclusões sobre o assunto, é necessária pesquisa. O tema, porém, não é o que desperta maior curiosidade na comunidade científica: Cardoso afirma que, embora a sua investigação de 2014 desperte algum interesse, este tema ainda pode ser considerado um vazio na ciência.
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