O câncer é uma doença multifatorial, que pode ser causada por causas externas e internas. Cerca de 80% dos casos de doenças ocorrem por fatores externos, como tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, consumo de alimentos ultraprocessados, sedentarismo e obesidade. Os outros 20% são consequência de causas internas, como problemas hormonais, condições imunológicas e mutações genéticas. Um dos fatores mais importantes que contribuem para o surgimento do câncer de mama é a alta densidade mamária, presente em aproximadamente metade da população feminina.
As mamas são formadas por glândulas (responsáveis pela lactação), tecido fibroso e gordura. Seios densos são caracterizados por grande quantidade de tecido glandular e pouca gordura. “Este tipo de mama aumenta o risco de cancro não só pelo maior número de glândulas, mas também pela dificuldade que o padrão denso provoca na identificação das lesões”, explica a médica radiologista, coordenadora do Centro da Mama do Hospital Quinta D ‘Ou, membro da Comissão de Qualidade em Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e mestre em Radiodiagnóstico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ellyete Canella.
A densidade mamária é um dos aspectos avaliados na mamografia e está descrita em laudos médicos. Na imagem, o tecido fibroso aparece branco e o tecido adiposo aparece escuro. Essa característica das mamas é definida em quatro padrões estabelecidos pelo Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS). A padronização abrange quatro letras – de A a D –, sendo que as duas últimas indicam alta e extrema densidade. Um estudo canadense mostrou que mulheres com densidade mamária extrema têm um risco quatro a seis vezes maior de desenvolver câncer em comparação com pacientes com padrão A.
Favorecendo o diagnóstico precoce
A prevenção representa um conjunto de ações que previnem o aparecimento de uma doença. Embora não seja possível prevenir o aparecimento do câncer de mama, algumas medidas são consideradas de alto valor na prevenção, como alimentação balanceada, atividade física regular e controle de peso. Além disso, não fumar e consumir cafeína e bebidas alcoólicas com moderação são hábitos recomendados para evitar qualquer doença.
As estratégias de rastreamento (ou detecção precoce) visam identificar lesões pequenas e não palpáveis. O Ministério da Saúde estabelece que o rastreamento, por meio da mamografia, pode ser considerado para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.
O documento conjunto assinado no ano passado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), recomenda mamografia anual para mulheres entre 40 e 74 anos . A partir dessa idade, a estratégia deverá ser aplicada em pacientes com expectativa de vida superior a sete anos.
Segundo Ellyete Canella, é recomendado que mulheres com mamas densas combinem a mamografia com exames que permitam “ver através da densidade”, como ultrassonografia e ressonância magnética. “A combinação de exames é importante porque a mamografia falha em cerca de 25% dos casos de mamas densas, pois uma parte glandular muito exuberante pode esconder um nódulo”, alerta.
A especialista ressalta que, preferencialmente, os exames devem ser realizados em centros especializados no atendimento radiológico integral da mama. “Em geral, a paciente faz mamografia e ultrassonografia em clínicas diferentes, e os médicos intérpretes não têm acesso às imagens de cada exame, o que limita a capacidade diagnóstica. Fazer os dois exames juntos e com o mesmo médico melhora o desempenho dos métodos e evita falsos positivos”, argumenta.
Sempre que possível, a ressonância magnética pode ser usada para substituir a ultrassonografia em mulheres com risco intermediário e alto de desenvolver câncer de mama. O primeiro grupo inclui pacientes com alta densidade mamária. O segundo inclui pacientes com histórico familiar (parentes de primeiro grau com câncer de mama na pré-menopausa), portadores de mutações genéticas que predispõem a esse tipo de câncer e pacientes que realizaram radioterapia de transplante.
Em mulheres com mamas densas ou com alto risco de câncer de mama, a tomossíntese pode estar disponível durante a mamografia, quando possível. O Tomossíntese é um software, fruto do desenvolvimento da mamografia digital, que gera imagens da mama em “fatias” de um milímetro, melhorando o desempenho do método na detecção precoce de lesões iniciais.
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