Roseli Andrion
Passar por tratamento de saúde exige dedicação e disciplina — sem contar que receber o diagnóstico de uma doença, por si só, já é estressante. A capacidade de se envolver neste processo exige comprometimento, o que muitas vezes pode ser um grande desafio, especialmente porque muitas informações e procedimentos são completamente novos para o paciente.
Isso porque ele recebe muitas informações e tem que fazer seu próprio monitoramento, ou seja, decidir o que é ou não importante. Se sentir que há algo fora do normal, vai ao hospital — pode acontecer, porém, que seja algo que poderia ter sido resolvido de outra forma. Outras vezes, ele deixa de ir ao posto de saúde quando era importante ir e uma complicação que poderia ser detectada precocemente torna-se grave e o leva para a UTI.
Há alguns anos existe o entendimento de que o melhor ambiente para a recuperação de um paciente é a sua própria casa. Por outro lado, corre-se o risco de ele não saber se tudo está indo bem — até porque não tem os cuidados intensivos que são oferecidos em um hospital — e sentir necessidade de permanecer na unidade de saúde.
Com tanta tecnologia disponível diretamente nas mãos do paciente, uma opção é utilizá-la para monitorá-lo remotamente e auxiliá-lo nesse processo. Foi nisso que pensaram os cofundadores da Kidopi ao desenvolver a solução da startup: eles criaram, com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, uma empresa digital, que está disponível no WhatsApp e fornece informações e orientações enquanto atua como guardião.
O cofundador e diretor executivo da startup, Mario Sérgio Adolfi Junior, afirma que a ideia era oferecer uma ferramenta acessível e fácil de usar para os pacientes. “Desde que entrei na faculdade, quis usar meus conhecimentos para impactar em grande escala a saúde”, lembra. “Escolhemos o WhatsApp porque é uma plataforma bastante difundida, familiar ao paciente e que não exige downloads nem uso de interfaces complicadas.”
O pesquisador explica que a empresa desenvolve soluções de TI médica. “Atuamos no segmento de tecnologia da informação em saúde, principalmente na jornada do paciente”, afirma. “Nosso foco é garantir o atendimento ao paciente, pois muitos problemas podem ser resolvidos fora do hospital se houver o suporte adequado.”
Jornadas diferentes
Segundo Adolfi Junior, a ferramenta é bastante versátil e permite criar jornadas específicas de acordo com a necessidade de cada usuário. “Percebi que o maior desafio é que o paciente não tem acompanhamento suficiente após sair do hospital. Muitas vezes ele não sabe identificar se está com algum sintoma grave e o resultado são idas e vindas à unidade de saúde”, afirma.
Após a cirurgia, por exemplo, o sistema Kidopi pode monitorar o paciente para saber como está sua recuperação e lembrá-lo de tomar os medicamentos. O monitoramento inclui perguntas diárias para saber se a recuperação está ocorrendo corretamente. “A partir disso é possível saber se a evolução tem sido como deveria ser. Se houver algo errado, o paciente é orientado a ir ao hospital. É como se pegássemos na mão dele e o guiássemos até o fim.”
Toda essa conversa acontece de forma fluida via WhatsApp, pois o sistema utiliza processamento de linguagem natural — que permite ao usuário interagir como se estivesse em contato com um profissional de saúde. “À medida que o usuário conversa no WhatsApp, aplicativo com o qual está acostumado, a adoção é alta. Ele fala do jeito que está acostumado e o sistema o entende e o orienta nesse processo.”
Os resultados mostram que a ferramenta é eficaz. Adolfi Junior afirma que, entre os usuários que foram orientados a ficar em casa, 100% não tiveram problema. “Entre os que foram ao hospital, 75% já deveriam ter ido mesmo assim. Foram casos em que houve algum ponto grave de gravidade e foi necessária intervenção”, afirma. “Em um projeto que realizamos em parceria com o hospital AC Camargo e a Johnson & Johnson, como os pacientes procuraram a unidade de saúde precocemente, houve uma redução de complicações cirúrgicas em 67%.”
Equipe pronta
Caso o usuário seja orientado a ir até a unidade de saúde, todo o histórico de sua conversa com o sistema é enviado ao médico que irá recebê-lo. “Está tudo interligado. Tudo vai para uma central do hospital, que recebe o alerta de que o paciente está a caminho, além de informar o ocorrido. Se necessário, um profissional de saúde pode contatá-lo para obter mais informações.”
Segundo a pesquisadora, essa é uma forma de garantir a qualidade de vida do paciente e ao mesmo tempo reduzir o risco de morte e internação. “É um processo em que todos ganham, porque o hospital oferece um atendimento que o diferencia dos demais hospitais. Assim, consegue atrair parceiros justamente porque oferece esse diferencial.”
Ele destaca que, por meio da ferramenta, a informação chega de forma adequada ao paciente exatamente quando ele precisa. E um de seus destaques é a capacidade de humanizar o atendimento. “Nós temos comentários de um projeto que envolveu o Hospital de Amor, de Barretos, e a Roche, o que demonstra que os usuários se sentem confortáveis com a solução. É comum dizerem: ‘Posso incluir no programa um amigo que acabou de ser diagnosticado? Eu tenho isso e me faz sentir muito seguro. Sinto que alguém está cuidando de mim. É muito gratificante.”
Outros usos
A versatilidade da solução permite sua aplicação em outras situações, além do monitoramento de pacientes após cirurgias. Kidopi tem programas para diabetes, câncer, osteoporose e outras doenças crônicas. Além disso, atua no acompanhamento de idosos e daqueles que buscam bem-estar, como processos de emagrecimento. “Apoiamos os idosos para garantir melhor qualidade de vida e prevenir complicações. É um acompanhamento integral, que considera a saúde mental e emocional dos cuidadores”, explica.
O executivo destaca a possibilidade de hiperpersonalização da solução. Assim, pode ser adaptado a diferentes perfis e necessidades. “Os pacientes têm necessidades específicas. Para uma mulher na menopausa, por exemplo, a abordagem precisa considerar esse momento da vida. O cuidador de um idoso fragilizado precisa de informações relacionadas à segurança do lar, como identificar riscos no ambiente e, claro, autocuidado para lidar com o estresse da função.”
Como a plataforma utiliza inteligência artificial para adaptar a jornada de cada paciente, a personalização ocorre de acordo com suas particularidades e o momento em que se encontra. “Nossa solução não é fixa, ou seja, não é um sistema que funcione da mesma forma para todos”, explica. “É importante que cada indivíduo receba os cuidados de que realmente necessita em cada fase do seu tratamento ou condição.”
A caminho da internacionalização
Hoje, a solução da Kidopi já está nas mãos de milhares de pacientes. “A FAPESP foi fundamental para que conseguíssemos transformar um projeto acadêmico em uma empresa”, afirma Adolfi Junior.
Atualmente, a empresa se prepara para expandir sua atuação internacionalmente: com a ajuda de um novo projeto PIPE, já estão em desenvolvimento versões da solução em espanhol e inglês. “Estamos felizes por ter aberto nossa empresa no Estado de São Paulo e poder ter apoio para levar nossa tecnologia a ser competitiva globalmente.”
A startup foi uma das selecionadas para participar de uma missão empresarial durante a FAPESP Week Spain, que aconteceu entre os dias 27 e 28 de novembro na Faculdade de Medicina da Universidade Complutense de Madrid (UCM), na capital espanhola.
A pesquisadora avalia que a medicina digital tem grande potencial, principalmente para atender pacientes que necessitam de cuidados constantes, como idosos. “O mundo está envelhecendo rapidamente e soluções como as nossas serão essenciais para garantir que os idosos possam receber cuidados contínuos e de qualidade, sem a necessidade de serem constantemente hospitalizados”.
Embora a solução digital não substitua o atendimento médico ou especializado, ela pode complementar e apoiar, criando uma rede de segurança para o paciente. Dessa forma, a tecnologia pode ajudar a melhorar o atendimento, prevenir complicações e oferecer monitoramento contínuo, onde quer que o indivíduo esteja.
O atendimento é sempre gratuito para o paciente — o custo fica por conta do prestador de serviço de saúde: hospital, indústria farmacêutica ou plano de saúde, por exemplo. Isso permite maior adesão e democratização do acesso ao monitoramento.
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