O aborto não é incomum e a sua incidência ronda uma em cada cinco mulheres grávidas. Em alguns casos, a causa específica do aborto pode ser a capacidade do próprio corpo de lidar com patógenos – e uma célula que é reconhecida como grande defensora do corpo humano pode ser a vilã. “As células natural killer (NK), como o nome sugere, são naturalmente assassinas, especializadas em matar células infectadas por patógenos ou células tumorais. Fazem parte do nosso mecanismo de defesa inato e são importantes contra bactérias, vírus, fungos, parasitas e tumores. Porém, quando alterados (mais ou menos), podem impactar negativamente a implantação embrionária e o desenvolvimento da gravidez. O tratamento adequado é fundamental, pois a regulação do sistema imunológico é de extrema importância para o sucesso da gravidez”, explica Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime de São Paulo.
“Tenho me deparado com casos de casais com abortos repetidos, com embriões cromossomicamente normais, sem trombofilia e sem qualquer condição evidente que possa ser a causa dessas repetidas perdas de gravidez. Investigámos células NK e notámos alterações”, acrescenta o médico.
Essas células são altamente necessárias no sistema imunológico. “Quando uma célula é infectada por um patógeno ou apresenta padrões de danos, é função da célula NK exterminar a célula infectada. Porém, a atividade anormal dessa célula pode ser a causa da dificuldade de implantação do embrião, reconhecendo-o como invasor”, afirma o médico.
“Alguns estudos mostram que mulheres com níveis desregulados de células NK têm alguma dificuldade em engravidar e são mais suscetíveis a abortos repetidos. A percentagem apropriada destas células no sangue e no endométrio deve estar alinhada com cada fase do ciclo menstrual para garantir o reconhecimento do embrião. Algumas pesquisas mostram uma possível associação entre altos níveis de células NK no tecido uterino e endometriose. Essa condição em que o tecido que normalmente reveste o interior do útero cresce fora dele pode estar relacionado a dificuldades para engravidar”, acrescenta Rodrigo.
A especialista afirma que todas as causas devem ser avaliadas, mas é possível tratar o desequilíbrio do sistema imunológico. “O uso de corticoides pode ajudar a inibir a ação das células NK. Também é possível administrar anticorpos que ajudam a controlar a produção celular e normalizar o reconhecimento das células NK”, afirma o médico.
“Após episódios consecutivos de aborto espontâneo, é fundamental procurar um especialista em reprodução humana, que poderá diagnosticar corretamente o problema e indicar o tratamento mais adequado para cada caso”, reforça.
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