Com promessa de protestos, reajuste de Zema volta a plenário nesta quarta

Com promessa de protestos, reajuste de Zema volta a plenário nesta quarta



A proposta de reajuste salarial dos servidores enviada por Romeu Zema (Novo) à Assembleia voltará ao plenário para votação em primeiro turno nesta quarta-feira (29/5). O texto do Executivo passou pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) na manhã desta terça-feira (28/5) com aprovação de parecer rejeitando todas as mais de 50 emendas apresentadas por parlamentares contrárias aos 3,62% descritos no Projeto de Lei (PL) 2.309 /2024. A votação deverá ser marcada por corredores lotados e protestos de servidores.

O PL 2309/2024 começou a tramitar no dia 14 de maio na Assembleia. Na semana passada, o projeto ficou pronto para ir ao plenário no primeiro turno. Na segunda-feira (27/5), foram apresentadas 56 alterações e o texto retornou ao FFO.

Todas as emendas foram rejeitadas pelo relator Zé Guilherme (PP) e a comissão formou maioria para aprovar o parecer. A votação em plenário está marcada para as 10h de quarta-feira.

Mesmo com o parecer negativo do FFO, os parlamentares contrários à proposta de Zema pedirão a consideração destacada de alterações específicas. Três deles tratam de propostas que aumentam o percentual de reajuste.

Os deputados trazem propostas para autorizar o governo a aumentar o percentual para 5,79%; 4,62%; e 10,67%. As taxas referem-se, respectivamente, às perdas inflacionárias em 2022, 2023 e nos dois anos somados.

As alterações são do tipo autorizativa, ou seja, na prática, apresentam ao governo liberação para propor um novo reajuste com base nas bases apresentadas.

A proposta também garante que a Lei de Responsabilidade Fiscal não impede o aumento do reajuste, pois a Legislação não proíbe a recomposição por perdas inflacionárias.

Segundo o Sindicato dos Servidores de Tributação, Fiscalização e Arrecadação do Estado de Minas Gerais (Sinfazfisco-MG), a inflação acumulada em 2022 e 2023, período a que se refere o projeto de Zema, foi de 10,67%. Portanto, o reajuste proposto pelo PL 2309/2024 cobre apenas cerca de 1/3 das perdas inflacionárias.

Líderes de entidades do funcionalismo e parlamentares de classe já convocaram protestos para a manhã desta quarta. Além do plenário propriamente dito, sindicatos e associações de categorias como segurança pública, saúde e educação prometem manifestações do lado de fora do prédio.

Negociações

Após o FFO, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) reiterou a estratégia da oposição de focar na tramitação do projeto de reajuste ainda no primeiro turno da Assembleia. O deputado destacou que este é o momento em que as emendas podem ser apresentadas pelos blocos e que os caminhos entre a primeira votação e o segundo turno são mais curtos, com apenas uma comissão entre os plenários e uma dependência maior para chegar a um acordo entre a Câmara bancos.

Questionado sobre o possível foco nas negociações para a aprovação de uma emenda específica, Cerqueira afirmou que todas as três alterações propostas ao texto para adaptá-lo às perdas inflacionárias serão objeto de diálogo da mesma forma. Os parlamentares da oposição trabalharão no intervalo de 24 horas entre o FFO e a votação no primeiro turno, para conseguir atrair votos de grupos independentes e governamentais.

“As três propostas de alteração são importantes. Falam durante todo o período inflacionário e por isso vamos levar isso para a disputa e tentar convencer nossos colegas de que temos melhores condições e votos de fora do próprio bloco (Democracia e Luta, bancada da oposição). O bloco tem 20 parlamentares, número que não aprova emenda. Precisamos convencer mais colegas. Por isso trabalhamos com várias linhas, para tentar avançar porque ter uma recomposição que não recompõe, que é o que o Governo está a propor, é inaceitável”, disse o deputado.

Caso as emendas não sejam aprovadas nesta quarta, ainda há chances de acordos entre os líderes do bloco na Câmara resultarem em novos acréscimos ao texto original entre os dois turnos do plenário.

O foco na conscientização dos parlamentares da base governista está no cerne das convocações para manifestações dos servidores, que prometem galeria lotada durante a votação. Durante o FFO e em entrevista após a comissão, o sargento Rodrigues anunciou uma campanha para que os servidores utilizem e-mails oficiais e redes sociais para exigir que os deputados aprovem as alterações apresentadas.

Rodrigues falou ainda sobre a expectativa de que, uma vez aprovadas as emendas autorizativas, o Executivo cumpra as recomendações da Assembleia e implemente os ajustes com novo percentual. O deputado diz estar confiante, mas prevê retaliação dos servidores em caso de recusa de Romeu Zema;

“Tenho convicção de que, se a Assembleia aprovar os 10,67%, o governador vai sancioná-los e aplicá-los. Porque, em primeiro lugar, não há proibição nem na Lei de Responsabilidade Fiscal nem na lei que rege o Regime de Recuperação Fiscal (RRF). É só a inflação de 2022 e 2023. E como ele (Zema) fez várias promessas, assinou ata, esteve nos principais meios de comunicação e se comprometeu a recompor a inflação todos os anos, na prática, basta assinar o PL e cumprir a inflação negativa Se não o fizer, poderá haver uma reacção em cadeia para todos os servidores públicos do estado, com paralisações de todos os serviços públicos. Acredito que não é isso que o governo quer neste momento”, afirmou.

Forças de segurança

As últimas duas semanas na Assembleia foram marcadas pela tramitação do PL 2309/2024 e pela presença de servidores protestando nas comissões. A categoria majoritária nos atos foi a segurança pública, já mobilizada na demanda pela recuperação inflacionária desde o início do primeiro mandato de Zema. Presente no FFO desta terça-feira, o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol-MG), Wemerson Oliveira, falou sobre a mobilização dos agentes e os próximos passos caso o percentual de reajuste proposto pelo governo não seja revisto.

Leia mais: Agentes de segurança bloqueiam liderança de Zema no país

“Temos outros planos e ações a serem seguidos no estado que vão, literalmente, paralisar os serviços em Minas Gerais. Os policiais não precisam entrar em greve hoje em Minas Gerais com as péssimas condições que o governador do estado dá para o nosso trabalho. Falo especialmente dos policiais civis. Precisamos tirar dinheiro do próprio bolso para consertar veículos, comprar papel para imprimir boletins policiais para a população, consertar impressoras e computadores, comprar água para consumo dentro das delegacias. Então vamos parar de fazer isso e aí, com certeza, o serviço de segurança pública no estado de Minas Gerais vai parar”, afirmou Oliveira.

Oliveira cita a chamada modalidade de ‘legalidade estrita’, em que os agentes se recusam a realizar operações especiais e operam com instrumentos em mau estado, como veículos sem manutenção ou armas sem os devidos reparos.

A categoria está em guerra com o Executivo desde os primeiros momentos da atual gestão. Em 2019, após negociações entre membros da administração estadual com entidades sindicais e parlamentares de classe, Romeu Zema se comprometeu a realizar compensações inflacionárias para bombeiros, agentes socioeducativos e policiais militares, civis e criminais. O reajuste seria pago em uma parcela de 13% e duas parcelas de 12%.

No ano seguinte, o Executivo enviou à Assembleia um Projeto de Lei com a proposta e o texto foi aprovado pelos parlamentares. Com a proposta em mãos, Zema apenas sancionou o pagamento da primeira parcela, negando o reajuste de 24% à categoria. Desde então, as forças de segurança têm realizado protestos regulares contra o governador. O PL 2309/2024 acrescentou ao histórico de demandas dos policiais.



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